A ocasião faz o político

07/10/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Estamos vivendo talvez uma das datas mais importantes do destino de nossa nação. O segundo turno para a eleição do nosso futuro Presidente da República. Um amigo meu, empresário de sucesso, acredito, com grande sabedoria, diz que não devemos pensar em nós, mas sim no futuro de nossos filhos e netos. Chega de político corrupto. 

Daí lembrei-me de um velho conto, que teria ocorrido pelas bandas de um antigo estado brasileiro. Um fazendeiro muito conhecido por aquelas plagas, muito caridoso e atencioso, fora convidado a se candidatar como senador. Nada entendia de política. Recusou de imediato, até porque nem conhecia Brasília. A população o via com bons olhos e o partido, mais ainda. Certeza de eleição garantida.

Este fazendeiro mal sabia conversar, entendia sim, e muito, de pasto, vacas e cavalos. Devido à persistência do convite, o severo fazendeiro, resolveu consultar um amigo advogado. Relatou todo seu drama de homem rude, formado no campo, sem conhecimento das coisas da cidade grande e dos bastidores da política.

O advogado o tranquilizou. Não era um bicho de sete cabeças. Bastava seguir apenas três conselhos. Então, escutou com atenção. O primeiro: siga sempre o líder do partido nas votações, mesmo que não esteja entendendo nada, porque ninguém irá questionar o seu voto. O segundo: quando alguém perguntar sobre um fato que desconhece, dê um leve sorriso e não diga nada. O seu interlocutor ficará na dúvida, se você está por dentro ou fora do tema de que se trata, e mudará de assunto. O terceiro: se livre dos "puxa-sacos". Os bajuladores de plantão iriam por certo embaraçar seu melhor modo de agir.

O fazendeiro, meio incrédulo, ainda assim, topou a parada. Candidatou-se e foi eleito. Deixou seus afazeres no campo, comprou um belo terno azul marinho, camisa com colarinho branco e uma gravata de seda verde-amarela. Rumou para seu novo destino.

Depois de certo tempo, retornou para visitar sua cidade natal. Agora com jeito de político amado pelo povo. Vinha acompanhado de uma comitiva de assessores. Ora, ora, quem te viu, quem te vê. Havia se adaptado muito bem com os ares da Capital Federal. Procurou pelo seu advogado amigo. Tinha que agradecê-lo pelos conselhos dados.

- E então nobre senador, como estão as coisas?

- Muito bem, meu caro amigo. Seus conselhos foram de enorme valia. Sigo o líder e nada me é perguntado. Dou um sorriso de leve quando estou "por fora" da matéria, e logo se muda de assunto. Lá a vida é outra. Vale muito ser senador. E eu que tinha tanto medo de se candidatar, por pensar que não tinha condições de exercer o cargo público? Tenho-lhe uma dívida de gratidão, pelo resto da vida.

- O advogado fixou bem seus olhos nos olhos do amigo fazendeiro e perguntou. Diga-me senador, ainda falta falar do terceiro conselho que te dei? O de se livrar dos bajuladores?

- Ah meu caro advogado. Neste você está equivocado. Por mais que tentei, vou lhe dizer uma grande verdade: como é gostoso ter "puxa-sacos". Marcados pela saudade!

Guaraci Alvarenga é advogado

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