Após a publicação do meu último artigo, se não leu vale a pena dar uma passada por ele para entender o contexto, fui abordada por várias pessoas que me perguntaram sobre limites pessoais saudáveis nas relações e como colocá-los sem sofrer, como no outro texto afirmei ser possível.
Decidi então, neste artigo, trazer outras perspectivas que venho trabalhando e descobrindo com Ediane Ribeiro, psicóloga, graduanda em neurociência do comportamento e mestre escolar para terapeutas, que trabalha com fundamentos da abordagem do cuidado informado sobre trauma, minha atual formação técnica complementar na sexologia.
Ela nos ensina que podemos começar a fazer isso alterando a concepção que nós temos da própria palavra limite.
Vamos pensar em limite não como uma barreira, mas como uma borda. Uma fronteira que estabelece o que é meu e o que é do outro e que permite que os envolvidos preservem aquilo que não viola uma questão pessoal. Essa questão pode ser de ordem física, mental, emocional e de recursos de cada indivíduo.
Se internalizarmos limites como uma espécie de membrana porosa, metaforicamente falando, é possível também trabalhar a compreensão de que um limite saudável em qualquer relação é aquele que deixa entrar o que nutre, deixa ir embora aquilo que não serve mais para o momento presente e bloqueia tudo aquilo que irá emocionalmente nos intoxicar.
Os limites também podem ser rígidos ou soltos, ou seja, a depender da dinâmica que se estabelece, deixamos entrar tudo, sem filtros e sem critérios ou não deixamos nada entrar. Como consequência, nos tornamos incapazes de diferenciar um perigo ou uma ameaça, ou, ao contrário, não conseguimos estabelecer vínculos estáveis nos relacionamentos.
Mas então, como organizar toda essa desordem e por onde começar, já que muita gente imagina que colocar limites em qualquer relação é sair falando não, quando na verdade o falar não ou o falar sim é apenas uma pequena parte do processo?
Primeiro é preciso ter muito claras quais são as nossas próprias necessidades em termos daquilo que nos nutre ou não nas relações.
E isso só é possível descobrir com um trabalho interpessoal intenso de auto observação e autoconhecimento que passa, obrigatoriamente, pela autorregulação emocional, capacidade de utilizarmos as emoções como bússolas orientadoras internas, que irão nos guiar para decisões utilizando como aliadas, informações racionais que nos direcionam para escolhas alinhadas aos nossos valores internos e sistema de crenças.
Desenvolver essa habilidade também implica em dar voz às nossas emoções, sobretudo aquelas primárias inatas: raiva, tristeza, medo, alegria. Alguns autores inclusive já referem o nojo e a surpresa ( ou susto ) como emoções inatas secundárias, mas não menos importantes neste processo.
Todas as nossas emoções comunicam algo sobre como estamos em nossa autorregulação ou a falta dela. Estabelecer limites saudáveis nas relações também é encontrar caminhos saudáveis possíveis para expressar essas emoções, pois todas são válidas.
Sendo assim, a reflexão a se fazer é: tenho sido capaz de identificar, processar e expressar emoções de forma saudável?
Márcia Pires é Sexóloga, Gestora de RH, Especializada em Felicidade no Trabalho e futura Neurocientista Comportamental