Ansiedade

Ansiedade é o desejo incessante de prever todos os predadores modernos

23/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min
Alexandre Martim

Dentre as queixas de desequilíbrio emocional que trato em meu consultório, a mais comum é a ansiedade. Trata-se daquele estado, misto de agitação mental e tensão elevada, onde tenta-se prever algo que há para acontecer e disparar como uma flecha uma série de ações para alterar um desfecho que identificou como desagradável para si próprio.

A ansiedade em si só é um problema há bem pouco tempo na história. Se pensarmos na nossa evolução, desde que éramos uma espécie mais parecida com os animais, até uma espécie que aprendeu a manipular o meio onde vive, poderemos entender de onde a ansiedade veio e poderemos, com isso, agir menos negativamente a ela, quando ela ocorrer.

Vejam, nossos corpos não são dotados de muitos mecanismos de defesa contra-ataques; não temos carapaças como tartarugas ou pele grossa e difícil de ser furada como dos rinocerontes. Não somos particularmente fortes, nem mesmo quando comparados com outros mais chegados a nós geneticamente: um chimpanzé pode ser até cinco vezes mais forte que um homem de peso equivalente. Não temos garras duras ou dentes longos e afiados.

Somos seres que correm de maneira lenta e estranha, se equilibrando somente sobre a traseira, com o corpo desprovido de secreções mal-cheirosas que poderiam servir para repelir ataques ou mesmo veneno.

Desse jeito, seria um verdadeiro milagre termos sobrevivido e nos tornado o mais improvável: hoje somos a espécie dominante do planeta, praticamente em todo ambientes terrestres.

Como triunfamos, então?

Nosso principal recurso veio de um cérebro. Ele tem a capacidade intelectual e a entrelaça com emoções agradáveis e desagradáveis, gerando um estímulo gigantesco para resolver problemas e antevê-los, para que possam ser evitados antes mesmo que ocorram. Dessa forma, um ancestral de homo sapiens sapiens andando pela planície selvagem, em busca de alimento, se depara com um arbusto que se mexe em um dia sem vento.

Teria que deduzir tratar-se de um potencial predador em busca de uma refeição fácil.

Evitaria o caminho e fugiria apressado, sem sequer esperar qualquer prova concreta para comprovar o seu receio, pois, se assim o fizesse, seria tarde demais acaso seus medos se comprovassem verdadeiros.

Hoje em dia, no entanto, o cenário mudou. A civilidade afasta os predadores, mas coloca outros algozes para nossa felicidade: ladrões, risco de acidentes e mesmo chefes e relacionamentos abusivos. O número de ameaças ao nosso bem-estar aumentou exponencialmente, ainda que consideremos a selva de pedra "mais segura" para o ser humano moderno.

A ansiedade é somente o desejo incessante, frenético, de prever todos esses predadores modernos tal como o fazíamos quando éramos primitivos, mas agora em velocidade e frequência muito maiores. O que era antes uma ferramenta de auxílio, se transforma em um calvário, consumindo todo nosso tempo e energia para coisas que na realidade, nunca se concretizaram.

O que o homem deve fazer hoje é se proteger dos seus outrora mecanismos de defesa: viver o momento e confiar no processo da vida, ao invés de tentar mudá-lo a todo momento.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em Osteopatia e Medicina Chinesa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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