Contêiner de emoções

Tentar controlar o aparecimento de uma emoção é como tentar deter uma onda

09/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Alexandre Martim

Na medicina tradicional chinesa (MTC), reconhecemos que as emoções são um componente importante do conteúdo energético que circula pelos nossos canais e meridianos. Essa é uma forma simples de entender como a alteração de humor e a estabilidade dele podem influenciar na nossa saúde, tanto positiva quanto negativamente.

Como já falei em outros textos, as emoções são muito mais propriedades de órgãos e vísceras do que do sistema neurológico e podem acionar os sistemas nervoso, endócrino e imunitário diretamente, sendo por isso mesmo incrivelmente poderosas.

Tentar controlar o aparecimento de uma emoção é como tentar deter uma onda do mar no seu percurso rumo à praia: inefetivo e inútil. O controle emocional desejado pela maioria das pessoas não se obtém negando ou bloqueando a existência de emoções. A verdade é que elas vão ocorrer independentemente de qualquer desejo nosso.

Nada podemos fazer contra emoções e suas revoluções no organismo?

Não é bem assim.

Se nós entendemos o que causam as nossas emoções e desenvolvemos os sentimentos adequados com relação a elas, podemos modular as suas manifestações de forma a temperar agradavelmente o nosso humor.

Tecnicamente, "Sentimento" é uma palavra que utilizamos para designar como nosso sistema racional, de natureza cerebral, vê e entende as emoções. Diferentemente das emoções puras, os sentimentos estão mais sob nosso controle consciente. Sendo que são formados depois que a onda emocional atinge o sistema nervoso, os sentimentos não possuem tanto poder de movimentar a nossa energia quanto as emoções puras.

Um exemplo: Pensar sobre o que te deixa raivoso não é tão nocivo para o organismo quanto sentir a própria raiva em si.

Quando devidamente trabalhado, o sentimento produz uma estrutura na nossa mente racional criando um lugar onde a emoção se encaixa, com seja, ele dá ao conteúdo emocional puro um contexto que permite o seu entendimento e melhor assimilação.

Seria como se para cada onda do mar, citada acima, tivéssemos um contêiner para receber aquela quantidade de água mobilizada, disponibilizando-a para que a utilizemos como desejarmos. Podemos variar o tamanho do contêiner, inclusive, conforme a quantidade de água que vamos receber.

Um exemplo prático seria imaginar a situação de ficar revoltado com o seu chefe e por isso muito ansioso quando se tem que conversar individualmente com ele. Procure entender por que essas emoções aparecem nesse momento e não entre em negação dizendo que elas não existem ou que você tem que treinar mais evitando e controlá-las.

Após uma análise, pode-se chegar que a ansiedade surge na realidade na pessoa do chefe e se dissemina devido a sua insegurança nos processos adotados por ele mesmo no trabalho.

A partir desse conhecimento sabemos que a ansiedade envolvida não é nossa própria, mas da outra parte do relacionamento. Com essa consciência nós deixamos as influências negativas a partir de medos e angústias de outras pessoas.

Uma vez isso claro, utilizamos a energia que era antes comprometida com a ansiedade para desenvolver uma solução para o problema de forma desapaixonada e isenta, muito mais eficaz do que antes, onde nos sentíamos particularmente culpados por todo um sistema tenso, mas que na realidade não nos pertence.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em osteopatia e medicina chinesa

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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