As avós contra o vento

Uma das energias mais presentes em Jundiaí é a energia do vento

02/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Alexandre Martim

Acho que todos que tiveram o privilégio de conviver um pouco com as avós, quando criança, devem ter ouvido a voz autoritária dela, enquanto oferecia um agasalho:

- Põe este casaco que está ventando lá fora, menino! - Ou qualquer coisa do gênero.

Somente depois de já formado médico e no meio da minha especialização de acupuntura, que é toda baseada em medicina tradicional chinesa, é que fui compreender a sabedoria dessas palavras proveniente de uma longa linhagem de matriarcas, mas nem por isso desprovida de embasamento na medicina energética.

As energias da natureza encontram sua continuidade no campo energético do ser humano, ou seja, os meridianos e suas fontes nos órgãos e vísceras banhados pela energia cósmica. Veja que é mais do que uma simples correspondência entre as energias da natureza e as que circulam no nosso corpo; trata-se como se uma fosse justaposta à outra, Como é a água de um rio em relação às pedras e o lodo que se encontram na sua margem.

Essas energias climáticas, no entanto, são pouco processadas e, se atingirem o nosso sistema energético, podem causar interferências desagradáveis, tal como tentar ligar um aparelho eletrodoméstico de voltagem "110V" em uma tensão diferente disso: ou ele não irá funcionar direito ou irá queimar.

Na medicina tradicional chinesa essas energias climáticas que podem causar desarranjos e doenças como febres, gripes e mesmo dores musculares decorrentes da exposição a friagem são chamadas "energias perversas". Denominação que eu não gosto porque elas não são verdadeiramente perversas ou ruins, mas brutas e pouco processadas para entrar em contato com nosso campo.

Uma dessas energias muito presentes na nossa região de Jundiaí é a denominada energia do vento e ela encontra sua correspondência no meridiano do fígado e da vesícula biliar. Uma olhada rápida em um mapa de canais, veremos uma série de pontos da vesícula biliar que se encontram na nuca, atrás da orelha. Eles possuem nomes sugestivos como janela do vento ou porta do vento.

Baseado nisso os antigos mestres sabiam que essa era uma região que deveria ser protegida com agasalhos e cachecóis para impedir o contato dessa região com o vento intenso ou do contrário poderia causar zumbido no ouvido, tonturas e até mesmo vertigens.

Os pacientes que possuem essas doenças com frequência são vistos protegendo a base do crânio e a nuca com as golas dos casacos levantadas e os ombros encolhidos quando se sentem expostos aos mínimos ventos gerados no ar livre ou até mesmo em ambientes com ar-condicionado.

Está aí a justificativa para as avós preocupadas que sabem que essa região deve ser resguardada no caso de o dia estar ventoso, o quê na minha infância em Jundiaí era bastante frequente.

Aproveito então a oportunidade de escrever neste jornal para homenagear a minha avó materna, a querida Leontina, que fez a sua passagem para o campo celestial neste último final de semana aos 102 anos. Prometi, em prece, naquele dia nublado, lembrar e honrar os ensinamentos que ela me deixou e transmiti-los adiante. Naturalmente, eu havia levado um agasalho comigo.

Forte abraço e ótima semana a todos!

Alexandre Martin é médico, acupunturista com formação em osteopatia e medicina chinesa

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.