OPINIÃO

Dia das Mulheres: não basta comemorar, é preciso agir

Por Marília Martins | Especial para o GCN
| Tempo de leitura: 3 min
Ilustração

Sou mulher, professora e atuante na cultura e na política de Franca, uma cidade onde muitas mulheres enfrentam uma rotina dura e desigual. No Dia Internacional da Mulher, não podemos aceitar apenas homenagens vazias, flores ou discursos bonitos. Nossa luta vai muito além disso. Precisamos falar das dificuldades reais que enfrentamos todos os dias e do quanto é urgente um feminismo que olhe para todas, e não só para uma pequena parcela privilegiada.

Penso nas mães solo que acordam antes do sol nascer, pegam dois ônibus para chegar ao trabalho e ainda voltam para casa exaustas, tendo que cuidar dos filhos sem nenhuma rede de apoio. Mulheres que, quando ficam doentes, não têm com quem deixar as crianças e que, mesmo trabalhando o dia inteiro, recebem menos que um homem na mesma função. Inclusive, esta semana, foi aprovado o meu primeiro projeto de lei, priorizando essas mulheres na área da saúde, visando diminuir as barreiras, a começar pelas mães solo e com filhos atípicos.

Penso nas mulheres negras que batalham como empregadas domésticas, diaristas ou operárias e que, além da sobrecarga de trabalho, ainda enfrentam praticamente sozinhas o racismo e o preconceito diariamente. Também lembro das mulheres da periferia, que sofrem com a violência e com a falta de serviços públicos de qualidade.

Vejo ainda o quanto as mulheres da cultura lutam para ter seu trabalho valorizado. São cantoras, artesãs, bordadeiras, escritoras e tantas outras que vivem da arte, mas que enfrentam dificuldades para conseguir apoio, espaço e reconhecimento. Muitas vezes, o que fazem é tratado como “hobby” e não como profissão, como se a cultura que produzem não fosse essencial para nossa identidade e nossa história.

E as mulheres com deficiência? São tantas barreiras! Desde calçadas quebradas que dificultam a locomoção até a falta de oportunidades no mercado de trabalho. A sociedade não pensa nelas, não cria espaços acessíveis, não garante direitos básicos.

E as mulheres LGBTQIAPN+? Quantas sofrem violência dentro da própria casa, sendo rejeitadas pela família apenas por serem quem são? Quantas são discriminadas no mercado de trabalho, tendo que esconder sua identidade ou enfrentar piadas e preconceito diariamente? Penso nas mulheres trans que lutam para sobreviver em uma sociedade que as marginaliza, que muitas vezes as empurra para a informalidade ou para situações de vulnerabilidade extrema. Eu mesma, como mulher LGBTQIAPN+, sei o quanto é preciso resistir e ocupar espaços que historicamente nos foram negados. A luta feminista precisa incluir todas as mulheres, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero, porque só assim seremos realmente um movimento por igualdade e justiça.

Não adianta dizer que estamos avançando se muitas de nós continuam invisíveis. O feminismo pelo qual luto não é sobre dar poder apenas para algumas poucas mulheres, mas sobre garantir dignidade para todas. E para os homens que se sentem amedrontados ou ameaçados com a luta feminista, que ainda não compreendem a necessidade dessa luta pela equidade de gênero, tomo a liberdade de parafrasear Luiza Helena Trajano, ícone e referência como uma mulher visionária contemporânea: “Não somos contra os homens, somos a favor das mulheres”.

Queremos creches com atendimento de qualidade e segurança, para que mães possam trabalhar sem desespero, salários justos, condições dignas de trabalho para todas as pessoas, acesso à cultura para que nossa história não seja esquecida, respeito para todas as formas de existência feminina. Se os homens também desejarem isso para todas as pessoas, e não somente para uma parcela privilegiada, eles se reconhecerão feministas.

Neste 8 de março, não basta comemorar, é preciso agir. Que essa data nos lembre que a luta das mulheres não termina quando o dia acaba. Seguimos firmes, porque nenhuma de nós estará verdadeiramente livre enquanto todas não estivermos.

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Comentários

3 Comentários

  • Darsio 15/03/2025
    A mulher sendo concebida como mero objeto de total submissão aos seus maridos é uma visão defendida por setores retrógados de certos religiosos, os tais defensores dos valores da família. Logo, me assusta essa mistura entre política e religião, onde claramente se observa o sequestro do Estado por esses fanáticos religiosos. Corremos um sério risco da laicidade do Estado ser derrubada e o país ser transformado numa teocracia, em que para solidificar o poder e o controle do erário público, essas seitas religiosas que, se julgam cristãs, perseguirão as minorias e definitivamente reservarão a mulher o único papel de cuidar da família e saciar de sexo o seu marido, que não satisfeito justificará o direito de pular a janela. Aliás, se não me falha a memória, em tempos de Abraão, o homem podia ter várias esposas. Os extremistas de direita estão nos levando a esse caos.
  • Helio P Vissotto 14/03/2025
    Sempre fui GLS, mas depois que virou essa tal de LGBTQIAPN+, além de me sentir automaticamente excluído e acho que virou uma grande chatice. Vou esperar um movimento mais inclusivo, que volte o \"S\" e outras variações do tema, e que não seja obrigatório o conhecimento de todas as letras. Respeito eu tenho pelo ser humano e espero reciprocidade plena, geral e irrestrita! Vou aguardar o LGBTQIAPN+\"S\"#$7X_YZ%.
  • Bel Balieiro 08/03/2025
    Você me representa, obrigada! Feliz dia de luta para nós!