ENTREVISTA JC

Entrevista com Mauricio Cardoso, presidente do PI Branemark

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 6 min
Celso Mellani/Divulgação
Apaixonado pela ortodontia, Mauricio Cardoso, presidente do Brånemark, protagonizou vitória histórica ao reverter decisão judicial
Apaixonado pela ortodontia, Mauricio Cardoso, presidente do Brånemark, protagonizou vitória histórica ao reverter decisão judicial

Da causa perdida à vitória

Presidente do Instituto Brånemark, ele protagonizou a reversão da decisão judicial que havia imposto multa milionária à entidade

Do pai, ele herdou o amor pela Ortodontia; do avô paterno, o DNA para o agronegócio; e, do avô materno, assimilou o espírito embativo e a indignação com injustiças. E foi em busca da reparação de um erro que Mauricio Cardoso, 47 anos, presidente em exercício do PI Brånemark Institute Bauru, protagonizou uma vitória histórica com a reversão da decisão judicial que havia imposto uma multa milionária à Entidade, referência mundial em tratamentos com osseointegração, entre eles os implantes dentários. Na ação movida pelo Ministério Público e Prefeitura Municipal de Bauru, a Instituição havia sido condenada em primeira instância, mas conseguiu uma reconvenção em segunda instância e, com o processo encerrado no mês passado, espera receber um montante financeiro suficiente para construir uma nova sede em outra cidade, para retomar suas atividades.

Nascido em Iacanga-SP, Mauricio trabalha com o pai, o também ortodontista João Cardoso Neto, desde quando se graduou, em 1998. Casado com Gleisieli, também ortodontista, e pai de Leonardo, 13 anos, e Isabela, 9 anos, tornou-se vice-presidente do Instituto em 2017 e foi alçado à presidência em 2019, pouco antes do ajuizamento da Ação Civil Pública.

Nesta entrevista, ele conta que não mediu esforços para administrar o momento turbulento do Instituto como forma de defender e honrar o legado do professor Per-Ingvar Brånemark, médico sueco que desvendou a osseointegração e mudou a vida de milhões de pessoas no mundo. Fala ainda de sua ligação com a família, do trabalho como cirurgião-dentista, docente, mentor e palestrante e da sua segunda atividade, o agronegócio, além da paixão pelo tiro esportivo e pesca esportiva. Leia os principais trechos.

JC - Como recebeu a notícia da vitória na ação?

Mauricio - Protagonizei a reparação de uma injustiça. O prédio do Instituto foi construído com recursos de uma associação sem fins lucrativos, presidida pelo professor Brånemark em um terreno cedido pela prefeitura. O termo de cessão exigia o atendimento de 100 a 120 pacientes carentes por mês, mas o MP entendeu que seriam pacientes novos, o que exigiria o atendimento de 14.400 pacientes novos entre 2006, quando o prédio foi inaugurado, até 2016. Como um protocolo de reabilitação demanda dezenas de atendimentos, é impossível aceitar a interpretação do MP. Um total absurdo! Além dos atendimentos a pessoas carentes, o Instituto era um local de Ensino e Pesquisa, que sempre funcionou sem verbas públicas. Foram mais de 40 mil atendimentos e quase 2 mil pacientes completamente reabilitados, tanto mutilados orais (desdentados totais) e mutilados de face, com a instalação de próteses extra-orais.

JC - Como foi o período após deixarem o prédio?

Maurício - Foi uma luta grande para manter os atendimentos dos pacientes que já haviam iniciado os tratamentos. Desde a instauração do inquérito civil público, em 2016, não conseguimos mais aportes financeiros. O Instituto ficou descreditado. Então, precisamos demitir funcionários e reduzir as atividades. Ficamos apenas com os pacientes já em processo de reabilitação, que foram distribuídos em consultórios de parceiros. Neste período, conseguimos parcerias com a Beneficência Portuguesa e a Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas (APCD). Foi um período de extrema turbulência, mas conseguimos atender todos os pacientes. Faria tudo de novo e espero que meus filhos se orgulhem disso.

JC - O que o motivou a dedicar-se a esta causa?

Maurício - Como presidente, confiaram a mim o legado do Brånemark e eu não poderia ser omisso. Jogaram o nome do Instituto no lixo. Felizmente, tive ao meu lado alguns amigos, verdadeiros "anjos da guarda", para enfrentar todo o processo e garantir ainda a continuidade dos tratamentos. Entre eles estão pessoas que confiaram em mim e aceitaram ser diretores após o ajuizamento da ação civil. Na fase atual, estamos avaliando para qual cidade o Instituto será transferido, será uma decisão de toda a diretoria.

JC - Agora sobre a trajetória pessoal, conte um pouco sobre sua origem.

Maurício - Sempre morei em Bauru, mas passava grande parte do tempo com meus avós em Iacanga. Meu avô materno foi militar e, quando se aposentou, atuou por 2 décadas como provedor da Santa Casa de Misericórdia de Iacanga, de forma voluntária. Meu avô paterno sempre atuou na agricultura e pecuária, o que hoje denominamos agronegócio. Ambos influenciaram muito minha trajetória, assim como o meu pai na Ortodontia. O primeiro local de trabalho do meu pai foi um consultório em uma sala anexa à nossa casa. Então, eu o vejo trabalhar desde criança. Nunca pensei em seguir outra carreira, e trabalhar com ele é um privilégio, uma benção...

JC - Hoje, concilia as atividades no consultório com a sala de aula?

Maurício - Sim. Sou formado em Odontologia pela Unisagrado e Mestre e Doutor em Ortodontia pela Unesp de Araçatuba. Me tornei docente da Graduação, Especialização e Mestrado da Unisagrado de 2007 a 2017 e, desde 2017, atuo como docente nos Programas de Mestrado e Doutorado da Faculdade de Medicina e Odontologia São Leopoldo Mandic, em Campinas-SP. Desde 1998, atuo em consultório particular na matriz do Instituto Cardoso de Ortodontia em Bauru, junto com meu pai - que continua na ativa aos 75 anos - e trabalho também nas nossas filiais em Jaú e São Paulo. Além disso, ministro aulas em congressos nacionais e internacionais, além de mentorias para ortodontistas no Brasil e países da América Latina. É uma vida bastante corrida.

JC - Sobra tempo para outras atividades?

Maurício - Desde 1994 atuo também na pecuária ao lado do meu pai, em uma propriedade localizada em Fernão-SP. Na pandemia, um sócio e eu adquirimos uma segunda propriedade, que estava sendo encaminhada para um leilão judicial. Desde então, além de atuarmos na agricultura e pecuária, iniciamos um terceiro projeto, no qual adquirimos - ou fazemos parcerias - com proprietários de áreas rurais improdutivas e/ou com algum tipo de passivo, seja fiscal ou financeiro, tornando as áreas novamente produtivas, visando a comercialização das mesmas. Como hobby, sou Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) desde 1994 e sócio fundador do Clube de Tiro e Caça de Bauru (CTCB). Outra paixão antiga é a pesca esportiva. Comecei a pescar com meu pai no Mato Grosso do Sul quando tinha apenas 9 anos. Foram dezenas de viagens. Hoje, com toda correria, consigo levar meu filho para pescar poucas vezes no ano, e a paixão pela pesca já está no DNA dele!

O que diz o ortodontista:

'Como presidente, confiaram a mim o legado do Brånemark e eu não poderia ser omisso'

'Tive ao meu lado anjos da guarda para enfrentar todo o processo e garantir a continuidade dos tratamentos'

'Nunca pensei em seguir outra carreira que não na ortodontia e trabalhar com meu pai é uma benção'

Mauricio é palestrante frequente do OrtoSPO, maior congresso de ortodontia do Brasil (crédito: Arquivo pessoal)
Mauricio é palestrante frequente do OrtoSPO, maior congresso de ortodontia do Brasil (crédito: Arquivo pessoal)
Mauricio é sócio-fundador do Clube de Tiro e Caça de Bauru (crédito: Arquivo pessoal)
Mauricio é sócio-fundador do Clube de Tiro e Caça de Bauru (crédito: Arquivo pessoal)
 Com os filhos Leonardo e Isabela e a esposa Gleisieli (crédito: Arquivo pessoal)
Com os filhos Leonardo e Isabela e a esposa Gleisieli (crédito: Arquivo pessoal)
Mauricio atua na odontologia com o pai, João, há mais de 25 anos (crédito: Celso Mellani)
Mauricio atua na odontologia com o pai, João, há mais de 25 anos (crédito: Celso Mellani)

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