EM HOSPITAL

Pacientes viram ‘prisioneiros’ à espera de hemodiálise

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Arquivo Pessoal
Marta Lúcia Fernandes, 55 anos, durante hemodiálise
Marta Lúcia Fernandes, 55 anos, durante hemodiálise

Por conta da falta de máquinas de hemodiálise em Bauru, pacientes renais que precisam do procedimento se tornaram "prisioneiros" de hospitais. São pelo menos 18 pessoas de idades variadas internadas em períodos que variam de 2 a 5 meses, segundo apurou o JC. Esses bauruenses perdem o convívio familiar e faltam ao emprego por conta de um tratamento que não costuma debilitar muito a saúde e pouco altera a rotina.

A situação foi denunciada por duas mulheres internadas no Hospital de Base: Marta Lúcia Fernandes, 55 anos, e Maria de Jesus Oliveira Vilela, 63 anos. Elas compartilham o quarto e são "reféns" do hospital há 2 meses. Isso porque a baixa disponibilidade de vagas as obriga a estarem no local para garantir a realização do procedimento de limpagem e filtragem sanguínea três vezes por semana. Normalmente, esses pacientes ficam no hospital apenas 4 horas em horários agendados e retornam para casa.

"Toda minha família está abalada emocionalmente. O meu sentimento é de tristeza e de desânimo. Minha vida e a do meu marido pararam", narra Marta.

Para a mulher, ela perdeu seu direito de ir e vir. A situação as isolou e tirou, por exemplo, a possibilidade de escolher o que vão comer. "A gente precisa seguir as regras do hospital. Não temos direito nem de tomar um banho de sol. Também não pode entrar nada de fora e só comemos o que nos é oferecido. Tudo isso com a saúde plena. Para mim, estamos pior do que prisioneiras", descreve.

Além de ocuparem leitos que poderiam ser destinados a pessoas com real demanda por internação, estes pacientes ainda ficam sujeitos ao risco de contrair infecções hospitalares e desenvolver outros problemas.

Marta afirma que passou a ter episódios de ataques de ansiedade por conta da situação. Recentemente, precisou tomar um calmante para poder realizar a hemodiálise. "Você fica no ambiente do hospital e acaba carregando mais problemas", diz.

Segundo Marta, há casos de mães que precisaram deixar o filho com vizinhos ou parantes para poder se internar. Numa outra situação, um senhor de Piratininga deixou sua esposa sozinha no sítio em que residia para fazer o tratamento. Ele está internado há três meses.

A paciente destaca que não recebe apoio de nenhuma entidade de Bauru e nem do Executivo que, na visão dela, poderia agilizar o processo da aquisição de máquinas de hemodiálise.

Maria, por sua vez, conta ter passado por hemodiálise em outras ocasiões na década de 90. É a primeira vez, no entanto, que ela precisa passar por isso. Como mora sozinha, sua casa está abandonada desde o dia 12 de outubro, quando deu entrada no hospital.

As mulheres destacam que a equipe médica compadece da situação, se desdobram para atendê-las bem e garantir que tenham o tratamento na forma e frequência adequadas.

Promessa

A aquisição de novas máquinas - a única solução em vista além do transplante - foi uma promessa da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Em abril deste ano, a pasta informou ao JC que instalaria 26 novas máquinas no Hospital das Clínicas de Bauru. O compromisso era de que os aparelhos estivessem em funcionamento ainda em 2024. No entanto, faltam 12 dias para o fim do ano e nada das máquinas.

O JC questionou o Departamento Regional de Saúde (DRS) de Bauru sobre o andamento do serviço. O órgão prometeu, desta vez, que serão 31 novas máquinas de hemodiálise. "As obras começam neste ano e a previsão de início de funcionamento é no primeiro semestre de 2025. A expectativa é que sejam realizadas mais de 1.800 sessões de hemodiálise ao mês, atendendo cerca de 150 pacientes em três turnos, de segunda a sábado", afirmou em nota.

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