OPINIÃO

Eu nasci no século passado

Por Paulo Neves |
| Tempo de leitura: 3 min

Nasci no século passado: maio de 1948, em Bauru, na rua Gerson França.

Sou do tempo da máquina de escrever, hoje teclado dos computadores.

Sou do tempo da Escola Progresso, de datilografia, taquigrafia e cultura geral,

Essa Escola não teria mais utilidade depois que os computadores apareceram. Ela fechou.

Passei pela Ditadura Militar em 31 de março de 1964.

Li sobre a Revolução Cubana em 1 de janeiro de 1959.

Cresci nos anos 60, 70 e 80.

Ia para São Paulo quinzenalmente buscar meu Pasquim, se viesse pelos Correios seria extraviado ou marcado o destinatário. Pasquim, jornal carioca de jornalistas como Jaguar, Ziraldo, Henfil e tantos outros... Até que um dia, em 1980, o CCC - Comando de Caça aos Comunistas explodiu a banca que eu comprava, na avenida São João com a Ipiranga, que era, segundo a extrema direita, uma banca comunista que vendia jornais comunistas e subversivos.

Comecei no Jornal da Cidade, preenchendo fichas de novos assinantes para o novo Jornal que estava para inaugurar.

Participei do número 1 do Jornal da Cidade em 1 de agosto de 1967.

Cresci e me aventurei nos anos 60 e 70 no jornalismo.

Como não existia Faculdade de Jornalismo, o Ministério do Trabalho, dirigido por militares em Brasília, autoriza os jornalistas a exercerem a profissão de Jornalista Profissional e assinar matérias.

Comecei a lecionar no Cursinho Triângulo, do professor Nelson e professor Milton Kerber. Em 1973 fui para o Cursinho Preve, depois Preve-Objetivo, com Marco Aurélio Pinheiro Brisola, professor de História Geral, uma das melhores e maiores cabeças que conheci ao longo dos 54 anos de Magistério.

Dirigi a minha primeira peça teatral em 1968, "Yes Nós Somos Brasileiros". Proibida em Campo Grande, porque um general queria que eu mudasse o nome da peça. O elenco voltou no mesmo dia.

Nos anos 70 acreditava que os próximos anos seriam tenebrosos.

Visitei o DOPS em de março de 1976.

Na década de 70 continuei escrevendo e dirigindo peças teatrais. Brasília autorizava para maiores de 18 anos.

Não consegui me estabilizar economicamente. Lecionei em quase todas as escolas particulares de Bauru, Lins, Botucatu, São Manuel, Marília e Ilha Solteira. Defendia muitos dos meus colegas professores por não aceitar injustiças dos patrões, principalmente por salários e horários

Fiquei mais sábio na década de 2000.

Vivi 7 décadas diferentes.

Dois milênios diferentes.

Passei do telefone para o celular.

Escutei muitos vinis e cds. Estou vendendo 200 vinis com 30% de desconto em cada vinil.

Parei de dar entrevistas porque fiquei velho e porque também as perguntas eram as mesmas em cada entrevista, tinha que contar a história do teatro em Bauru.

Hoje escuto música on-line.

Passei das cartas manuscritas para os e-mails.

Vi a evolução da TV em preto e branco para a TV HD.

Vi de perto várias doenças. Não peguei Covid, mas tenho Miopatia degenerativa.

Sim, eu passei por muitas coisas.

Vivi uma infância analógica e depois uma idade digital.

Vivi e testemunhei desde o Brasil, Campeão no México, de futebol, até a Guerra do Vietnã, que terminou em 1975. Testemunhei a Queda do Muro de Berlim, da noite de 9 para o dia 10 de novembro de 1989.

Acompanhei a morte da Rainha Elizabeth em 8 de setembro de 2022.

Tentei conhecer o grande José Mujica, em 2016. Não deu, ele estava visitando o Lula, em Brasília, mas conheci o Uruguai, um país maravilhoso.

Me adaptei a todas as mudanças, pelo menos quase todas, eu tentei!

Faço um esforço sobre-humano para me adaptar, é difícil, mas eu chego lá!

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