A médica Maria Del Carmen L. Grijalba, acusada de negar atendimento para um criança de 1 ano e 3 meses que morreu na Santa Casa de Franca, em 6 de maio de 2018, irá passar por um audiência criminal no dia 15 de agosto próximo. A médica teria omitido socorro à pequena Isabelly Fernanda da Silva, segundo a família, que clama por justiça.
Seis anos após o ocorrido, a família aguarda esse momento com angústia e espera colocar um ponto final no triste episódio que deixou uma lacuna que, para os familiares, jamais será preenchida mesmo com eventual responsabilização da profissional.
A família, representada pelos advogados Wellington John Rosa e Flávia Fernanda Mamede, descreve que a mãe da criança, Jéssica da Silva, enfrentou sérios problemas psicológicos e psiquiátricos por conta do falecimento da filha.
“No âmbito criminal, os genitores esperam pela condenação da médica atendente da Santa Casa, Dra. Maria Del Carmen, que no dia do falecimento se negou por diversas vezes a atender a garotinha Isabelly, se negando inclusive a ouvir a médica plantonista do pronto-socorro municipal, que pediu pelo atendimento da menor por diversas vezes, via telefone, mensagens, e inclusive se deslocou até a Santa Casa com a garotinha e sua genitora, e mesmo assim, a médica se negou a atender a criança”, afirma Wellington John Rosa, advogado que representa a família da criança.
O advogado também relatou que no dia dos fatos, Jéssica chegou a ligar para a Polícia Militar, que foi até a Santa Casa, e insistentemente a médica Maria Del Carmen se negou a dar atendimento à menor.
“Os genitores acreditam que a audiência criminal designada para o dia 15 de agosto é o início da aplicação da justiça. Esperando que ocorra uma condenação exemplar para que outros pais não enfrentem o sofrimento que eles estão passando e tentando suportar”, diz o advogado.
O caso foi levado ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). O portal GCN/Rede Sampi teve acesso processo ético profissional que condenou a médica pelo caso de Isabelly. O documento detalha que a Dra. Maria Del Carmen foi considerada culpada e condenada à pena de “Censura Confidencial em Aviso Reservado” – que se trata de sanções internas do conselho contra a médica. A decisão foi emitida em 20 de maio de 2023.
A título de indenização, a família pede que a médica pague R$ 310 mil por danos morais e uma pensão pelo período até que Isabelly completasse a maior idade, se estivesse viva. Este processo segue em andamento também na justiça.
A Dra. Maria Del Carmen foi procurada para comentar o caso. Através do contato telefônico do seu consultório, foi informado que a médica está de férias e que a solicitação da reportagem seria repassada para um possível retorno posteriormente. O espaço segue aberto para que a profissional dê a sua versão sobre os fatos se desejar.
Relembre o caso
Um casal de sapateiros procurou a Polícia Civil, na segunda-feira, 7 de maio de 2018, após a morte da filha de apenas 1 ano e 3 meses, ocorrida no dia 6. Eles acusaram uma médica da Santa Casa de omitir socorro à filha, a pequena Isabelly Fernanda da Silva, que deu entrada no hospital no sábado anterior, 5, e morreu horas depois.
Jéssica da Silva, mãe da criança, narrou as últimas horas ao lado da filha, que sofria de atresia de esôfago e, por isso, se alimentava por sonda. A família residia na época no Jardim Martins, região Oeste de Franca.
“Levei a Isabelly até o Pronto-socorro Infantil, na noite de sábado, porque a barriguinha dela estava muito inchada e ela chorava de dor. Já sabíamos o que poderia ser feito e que seria na Santa Casa, e logo a médica do PS nos acompanhou até lá. Já era madrugada de domingo. Porém, colocaram minha filha na vaga zero e não deram nenhum respaldo. Ela sequer foi para a ala infantil e teve um atendimento. A médica plantonista não a examinou nem olhou minha filha”, contou.
Ainda de acordo com Jéssica, apesar de todos os apelos feitos para que a médica atendesse Isabelly, a mulher não teria ido até onde a criança estava. A “saga” durou da meia-noite até 4 horas, quando a menina não resistiu e morreu. “Os enfermeiros me deram um cobertor, porque ela estava gelada. Mas ninguém a examinou. Minha filha foi ficando com as mãos e pezinhos roxos. Estava ficando cada vez mais fria e, quando a levaram a uma salinha para enfim atendê-la, já era tarde demais. Ela já estava morta.”
Jéssica e o marido, o sapateiro Danilo Rogério da Silva, foram até o 1º Distrito Policial, onde um boletim de ocorrência de homicídio culposo foi registrado. Eles disseram que também acionaram o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) para cobrar atitudes diante da conduta da médica. “Ela não deu nenhuma atenção à nossa filha. Deixou ela morrer. Sei que nada trará a Isabelly de volta, mas essa médica precisa ser responsabilizada. Omitiu socorro e agora estamos sem nossa pequena”, disse o sapateiro.
Em nota, a Santa Casa disse que Isabelly foi encaminhada de vaga zero para ser avaliada “devido a um desconforto abdominal”. “O atendimento foi realizado de acordo com os critérios regulatórios. Devido o desfecho ter sido desfavorável, o caso foi encaminhado à Comissão de Óbitos da Santa Casa para análise e tomada de providências. Esclarecemos que a comissão, instituída conforme determinação do Conselho Federal de Medicina, analisa todos os óbitos ocorridos na instituição.”
O diretor clínico da Santa Casa, Marcelo de Paula, informou que a médica foi afastada.
Santa Casa afastou médica e prometeu análise minuciosa do caso
O diretor clínico da Santa Casa na época do ocorrido, Marcelo de Paula, disse que uma equipe de especialistas iria fazer uma análise minuciosa para saber se houve alguma falha no atendimento. Enquanto esse levantamento fosse feito, a médica responsável pelo atendimento à criança seria afastada do hospital.
Mesmo antes de qualquer conclusão oficial, Marcelo admite que houve uma demora no atendimento à criança, com uma espera de cerca de 1h50. Na sua opinião, o atraso não teve implicância na morte de Isabelly.
“Sempre que acontece uma morte em condições atípicas, fazemos o levantamento criterioso de todos os procedimentos para avaliar se houve erro. O caso será avaliado pela Comissão de Óbito e, enquanto essas análises são feitas, a médica permanece afastada”, disse.
O diretor disse que, se for constatada falha no atendimento, serão tomadas as medidas cabíveis contra todos os profissionais envolvidos.
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Comentários
3 Comentários
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Rita Maria 09/08/2024Se ela agiu errado tem que pagar por isso, o medico tem que pelo menos tentar salvar vidas. Não a conheço e nem quero conhecer.
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Israel 09/08/2024Eu presenciei uma falta de empatia na santa casa com relação a uma médica chefe de plantão e um senhor de 70 anos... No caso ela de mera pirraça queria segurar o senhor na vaga zero (pra análise de risco) da meia noite até às 10 da manhã pra passar com a bucomaxilofacial que nem tinha horário certo de ir ao hospital. Um enfermeiro chegou a comentar comigo que a médica podia ter dado uma guia de encaminhamento pro senhor voltar no dia seguinte mas porque ela se sentiu pressionada pelo senhor decidiu não dar a guia. É muita maldade e falta de preparo pessoal uma médica nao ter empatia, paciência e bom senso de levar uma situação pro lado pessoal. Eu entendo a dor dessa mãe, talvez a filha não tivesse sobrevivido mas só de ter sido atendida (se a medica tivesse agido profissionalmente) a família hoje não estaria clamando por justiça!... Profissionais de saúde precisam ser mais empáticos!
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Reinaldo 09/08/2024Rico chora quando ouve o filho fazendo o juramento de Hipocrates na formatura. Pobre chora quando médicos hipócritas deixam uma inocente morrer à míngua. Tivessem levado dinheiro na frente essa criança teria sido atendida. Ou será que estou equivocado???.