PROIBIÇÃO

Bloqueio do TikTok pode impactar 150 milhões de americanos, sobretudo jovens

Para efeitos de comparação, o Instagram, principal concorrente do TikTok, tem 169 milhões de usuários ativos nos EUA.

Por Pedro S. Teixeira | 24/04/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Folhapress

Reprodução/ Olivier Bergeron/Unsplash

É improvável que a China ceda nessa disputa.
É improvável que a China ceda nessa disputa.

Quase 150 milhões de americanos podem perder o acesso ao TikTok se o aplicativo for bloqueado nos EUA, conforme prevê lei sancionada nesta quarta (24) pelo presidente Joe Biden caso a empresa dona da plataforma, ByteDance, não se desfizer de seus ativos nos Estados Unidos até em nove meses.

Leia tambémJoe Biden sanciona lei que proíbe TikTok nos Estados Unidos

Para efeitos de comparação, o Instagram, principal concorrente do TikTok, tem 169 milhões de usuários ativos nos EUA -ambos os dados são de janeiro.

É improvável que a China ceda nessa disputa. Mesmo que Pequim permita a saída da ByteDance dos EUA, ainda poderá bloquear a comercialização do algoritmo do TikTok, sob reivindicação de propriedade intelectual.

Nesse caso, qualquer comprador do aplicativo teria de refazer a plataforma de recomendação que colocou o TikTok no gosto popular.

A proibição deve afetar sobretudo os jovens americanos, que abraçaram o aplicativo de origem chinesa. O TikTok já é a principal fonte de notícias para 20% jovens de 18 a 24 anos, segundo o Instituto Reuters para o estudo de jornalismo, ligado à Universidade de Oxford.

Pesquisa interna do TikTok com os usuários indica que a preferência dos usuários pelo aplicativo tem a ver com a busca por novidades. Tendências comportamentais, de fato, surgiram no aplicativo, como os vídeos de NPCs (com 13 bilhões de visualizações em 2023), em que pessoas imitam personagens de videogame com comportamento repetitivo, e os testes cegos sob a hashtag "blindreact" (8,7 bilhões), em que as pessoas reagem a algo com o que têm contato pela primeira vez.

Essa capacidade de criar tendências passou a ter influência sobre mercados culturais, como o da música e o do cinema. Hoje, as faixas que chegam ao topo das paradas costumam antes viralizar no TikTok, e a recomendação de um influencer cinéfilo faz as bilheterias dispararem.

O TikTok ainda representou a primeira grande demonstração de força da China no desenvolvimento de inteligência artificial, com o algoritmo de recomendação que usa a IA para calcular qual vídeo deve reter mais a atenção do espectador.

Lançado em 2014, o app alcançou sucesso apenas em 2019 quando melhorou seu método de indicação e chegou a mais de 700 milhões de downloads.

Desde o ano passado, o app também funciona como um marketplace e rendeu US$ 1,75 bilhão (R$ 9 bilhões) em vendas nos EUA. A ByteDance disse que espera multiplicar esse número por dez neste ano.

O TikTok, hoje, está avaliado em mais de R$ 1,2 trilhão -US$ 240 bilhões, de acordo com a Bloomberg. A empresa divulgou ter receita de US$ 120 bilhões (R$ 619 bilhões) no mundo, sendo US$ 16 bilhões (R$ 83 bilhões) nos EUA. A startup tem capital fechado e esses valores são estimativas ou não passaram por auditoria independente, como ocorre com empresas listadas na Bolsa.

Disputa judicial
Os congressistas americanos favoráveis ao projeto afirmam que a relação da China com a ByteDance pode trazer riscos à segurança nacional dos Estados Unidos, uma vez que a companhia seria obrigada a compartilhar dados com o governo chinês. O argumento é repetido desde a gestão de Donald Trump, que colocou o app sob a mira ainda em 2019.

O presidente-executivo do TikTok, Shou Zi Chew, sinalizou que vai recorrer da lei sancionada por Biden na Justiça e disse que a empresa e o aplicativo "não irão a lugar algum". "Os fatos e a Constituição estão do nosso lado e esperamos prevalecer novamente."

A ofensiva sobre o TikTok ocorre quatro anos depois de o governo americano proibir a Huawei de usar o sistema operacional Android, em um momento em que a empresa ganhava destaque na competição com Apple e Samsung pelo mercado de dispositivos móveis.

"Agora, há centenas de companhias chinesas sob restrições comerciais dos Estados Unidos e aliados do governo americano podem seguir a decisão de banir o TikTok também", disse à Bloomberg o diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade de Fudan, na China, Wu Xinbo.

Em 2020, a ByteDance processou o governo quando o então presidente Donald Trump emitiu um decreto para bloquear o aplicativo e deu 90 dias para que a companhia se desfizesse de seus ativos nos EUA e de quaisquer dados que o TikTok havia coletado no país.

Um juiz suspendeu a decisão horas antes de entrar em vigor, e Biden revogou a ordem de Trump quando assumiu.

A ByteDance fica sediada em Pequim, embora esteja registrada no paraíso fiscal das Ilhas Cayman, como fazem grande parte das startups não americanas. Para se adequar a exigências dos governo americano e bloco europeu, a holding mantém subsidiárias nos Estados Unidos e na Inglaterra para tratar dados dos usuários.

Assim como outras redes sociais, o TikTok consegue rastrear a localização dos usuários, listas de contatos, detalhes pessoais e endereços IP (código que identificar usuário na internet), e uma cláusula em sua política de privacidade permite a coleta de dados biométricos, incluindo "impressões faciais e de voz".

Na sexta-feira (19), o regime chinês ordenou que a Apple retirasse os aplicativos da Meta Apple e Threads de sua loja de aplicativos na China. A justificativa também foi risco à segurança nacional.

Tamanho no mundo
Somados os usuários dos 20 maiores mercados do TikTok, há 1,05 bilhão de pessoas com conta no aplicativo.

Depois dos Estados Unidos, os maiores mercados do TikTok estão em países emergentes, como Indonésia, Brasil, México, Vietnã, Rússia, Paquistão e Filipinas, onde há menor pressão sobre o aplicativo.

Ainda que o aplicativo seja menos popular na Europa, a União Europeia também colocou o TikTok na mira. O bloco iniciou, nesta segunda-feira (22), uma investigação contra o aplicativo TikTok Lite e ameaçou suspender um recurso que recompensa os usuários por assistirem a vídeos e os "curtirem", devido aos riscos de comportamento viciante.

Em um comunicado, a Comissão Europeia (o braço Executivo da UE) expressou preocupação porque "considera que há riscos de danos graves à saúde mental dos usuários", especialmente menores de idade.

O TikTok tem até 3 de maio para apresentar um plano para proteger os menores de idade e a saúde mental dos usuários.

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