Pérola ficou famosa na literatura do filho Mauro Rasi, mas era Perroca! Rasi veio do marido. Essa sociedade patriarcal às vezes dá um nó em nossa cabeça. E quanta mulher ainda casando e querendo assinar o nome do marido...
Eu mesmo não tive o nome de minha mãe no registro, mas adotei o Silva mesmo assim, pai é pai e mãe é mãe. Não vamos confundir alhos com bugalhos.
O reencontro feliz com a obra de Mauro Rasi se dá 20 anos após sua morte (2003). Se fosse vivo ele teria 74, um senhor, né?
Filme esplendoroso com Drica Moraes e grande elenco com direção de Murilo Benicio.
Assistir 'Pérola', o filme, mesmo em curta temporada nos cinemas de nossa cidade, me remeteu à peça teatral que foi um estrondo em 1994. E Bauru contou com duas seções de ingressos esgotados no teatro da USC (Unisagrado) produzida e ciceroneada por um dos melhores anfitriões da cidade, outra prata da casa: arquiteto Jurandyr Bueno Filho. Vera Holtz e Sérgio Mamberti dispensam apresentações.
Na época eu era estudante e ,apesar do interesse, os ingressos eram bem salgados. Não consegui assistir Pérola em sua famosa piscina.
Em 2004, um ano após a morte de Mauro Rasi, o CODEPAC (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru) abriu processo de intenção de tombamento da casa da família Rasi (rua Bandeirantes 11-44), na qual morou um dos maiores dramaturgos do teatro brasileiro, a matriarca Pérola, o papai Oswaldo e a irmã Dinéia. E lá fui eu fotografar a casa na qual funcionava uma agência de turismo para elaborar o laudo de estado de conservação e avaliação do valor venal do imóvel, etapas para montagem do processo.
Como podia uma casa em terreno tão estreito (já era difícil entrar com o carro na vaga apertada) ter uma piscina gloriosa, sonho de consumo da mamãe de Mauro?
O terreno nos fundos se alarga de modo que a piscina ficou numa área maior, como mostra a foto da matéria do Bauru Ilustrado nº. 448 de novembro de 2013 (Jornal da Cidade).
Imagina se após ver o filme não fui na rua Bandeirantes no dia seguinte conferir a casa que foi retratada nas telonas. Muros mais altos e portões de ferro. O imóvel vizinho, antiga imobiliária Conai, já foi demolida.
A vida imita a arte, a arte tenta imitar a vida. Mas a vida não tem ensaio, estreamos todos os dias. Fui ler a biografia de Mauro Rasi: morava no Leblon, faleceu de câncer nos pulmões e pediu pra ser enterrado na cidade que ele escolheu para escrever e deslanchar.
O cemitério dos Ingleses ou da Gamboa, nome dado em homenagem aos presbiterianos que moravam no Rio, é o primeiro cemitério ao ar livre criado lá no Império 1811, fica de frente para a Baia da Guanabara, não tem a fama do cemitério São João Batista onde estão Carmem Miranda, Tom Jobim e Cazuza entre outros, mas tem uma bela vista para o mar, perto do porto onde chegam e saem muitos sonhos.
Gratidão, Mauro, você saiu de Bauru, mas Bauru nunca saiu de você: "escrevo para ser amado", disse ele no seu livro 'Eu, minhas tias, meus gatos e meu cachorro - Crônicas', pela Ediouro. Você atingiu seu sonho.
Quem sabe um dia saibamos valorizar a literatura, o cinema, o teatro, a arquitetura e a vida de quem nos torna mais humanos.
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