
A sessão desta segunda-feira (8) na Câmara de Campinas escancarou a estratégia política do governo Dário Saadi (Republicanos) para ampliar espaços de articulação com aliados — ao mesmo tempo em que evidenciou as dificuldades para avançar em pautas sensíveis como o reajuste de altos salários no serviço público.
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O projeto de lei complementar que desmembra a presidência da Cohab da Secretaria de Habitação foi aprovado sem sobressaltos, abrindo uma nova vaga no alto escalão e, nos bastidores, fortalecendo o nome do vereador Luiz Cirilo (Podemos) para a função. A articulação atende a acordos políticos firmados na campanha da reeleição e consolida o crescimento do Podemos dentro da administração, que já comanda a Secretaria do Clima.
A justificativa oficial do projeto fala em “maior eficiência administrativa”, permitindo que um gestor se dedique exclusivamente à Cohab, com foco na regularização fundiária e comercialização de moradias. Mas, no campo político, a medida é vista como parte da “acomodação pós-urna” — uma prática recorrente de ampliação da base em troca de espaços de poder.
Enquanto isso, o pacote de reajustes salariais para presidentes de autarquias como Rede Mário Gatti, Camprev e Setec voltou à pauta e travou mais uma vez. Desta vez, a oposição utilizou o tempo regimental para obstruir a votação e conseguiu empurrar o debate para a próxima sessão, marcada para quarta-feira.
O reajuste é considerado impopular, especialmente pelo contexto de crise nos hospitais municipais e insatisfação com os serviços públicos. Ainda assim, o governo vai insistir. Com maioria na Câmara, Dário deve aprovar, em algum momento, a proposta — mas o desgaste, especialmente fora do Legislativo, já está sendo contabilizado.
Ao fim da sessão, ficou claro que o governo ainda não encontrou um jeito para enfrentar resistência quando a pauta envolve interesses salariais do alto escalão. A questão agora é saber até onde vai esse anseio e se a base tem paciência para seguir com o assunto.
Bene Lima gera tumulto
O episódio protagonizado pelo vereador Bene Lima (PL), durante a sessão ordinária da Câmara de Campinas, ultrapassou os limites do debate político e escancarou mais uma vez o quanto o espaço legislativo pode ser contaminado por posturas que beiram — ou mergulham — no desrespeito pessoal. Ao comentar o processo de cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), o parlamentar do PL escolheu atacar a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), esposa de Glauber, com uma observação sobre seu corpo: “acima do peso”, disse, em um tom que nada agregou ao debate legislativo e tampouco se sustentava como crítica política.
A repercussão foi imediata. A bancada de esquerda reagiu com firmeza. A vereadora Fernanda Souto (PSOL) subiu à tribuna para defender Sâmia e repudiar o que chamou de comentário misógino. Mariana Conti (PSOL) engrossou a crítica, e o tumulto paralisou a sessão por pelo menos cinco minutos. O presidente da Casa, Luiz Rossini (PSD), teve que intervir para retomar a ordem — mas o estrago já estava feito.
Esse não foi um desentendimento pontual entre alas ideológicas diferentes. O que aconteceu foi uma fala de cunho pessoal e ofensivo, direcionada a uma mulher parlamentar que sequer estava no plenário. E isso, para além de qualquer divergência partidária, deveria ser motivo de repúdio unânime. Não foi.
A Câmara de Campinas já vem enfrentando um acirramento no tom dos debates, com pautas nacionais ganhando espaço e vereadores buscando protagonismo para engajar suas bolhas nas redes sociais. O episódio desta segunda-feira foi só mais um sintoma do ambiente político atual, no qual a tentativa de lacração muitas vezes atropela a mínima compostura institucional.
Bene Lima, que atua com forte alinhamento ao bolsonarismo local, mira na repercussão. Mas ao mirar na deputada federal, atingiu também a imagem da própria Casa que representa. Não há ganho político real em reduzir o debate à aparência física de uma mulher — há ruído, perda de foco e uma lamentável exposição de uma retórica que deveria ter ficado no século passado.
No fim, o episódio reafirma uma necessidade urgente: a Câmara precisa, o quanto antes, encontrar um ponto de equilíbrio entre a diversidade de pensamentos e o respeito à dignidade das pessoas.
Semana de Prevenção ao Afogamento Infantil
A vereadora Debora Palermo (PL) apresentou um projeto de lei para instituir em Campinas a Semana Municipal de Prevenção ao Afogamento Infantil, com o objetivo de reforçar ações de conscientização e enfrentamento a um dos principais riscos à vida de crianças entre 1 e 4 anos no Brasil.
A proposta prevê que a semana será lembrada anualmente no período que compreende o dia 14 de abril, data instituída como Dia Nacional de Prevenção ao Afogamento Infantil pela Lei Federal nº 14.936/2024.
A justificativa da vereadora se baseia em dados alarmantes: 5.883 mortes por afogamento foram registradas no país em 2023, aumento de 395 em relação ao ano anterior. A média é de 16 mortes por dia, e mais da metade dos casos ocorrem dentro de casa.
“É preciso conscientizar e alertar a população sobre o risco de afogamento infantil, e sensibilizar a respeito da criação e promoção de campanhas que possam proteger as nossas crianças”, afirma Palermo.
Entre as estratégias apontadas para reduzir os riscos, estão a supervisão constante, o ensino de natação desde a primeira infância, e a instalação de barreiras físicas ao redor de piscinas e áreas com água.
A proposta será analisada pelas comissões permanentes da Câmara antes de ser levada ao plenário.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.