A novela da licitação do transporte público em Campinas ganhou mais um capítulo — e, como tem sido a tônica dessa longa e frustrante saga, a nova tentativa da Prefeitura vem marcada por concessões, ajustes e, principalmente, pela urgência em resolver um problema que há anos penaliza o usuário mais vulnerável: o passageiro do transporte coletivo.
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A nova minuta do edital, colocada para consulta pública até julho, joga a toalha em pontos que antes eram apresentados como inegociáveis. A exigência de 200 ônibus elétricos caiu para apenas 60, com implantação escalonada ao longo de seis anos — uma redução de 70% que revela o quanto a gestão teve que ceder para tornar o edital minimamente atrativo.
Outro recuo simbólico foi na bilhetagem eletrônica. Antes sob controle integral da Emdec, agora será compartilhada com as operadoras. Não é pouca coisa: significa abrir mão de um dos principais instrumentos de fiscalização da arrecadação do sistema. A gestão Dário Saadi, que tanto defendeu essa centralização como forma de dar mais transparência, recuou. Uma vitória parcial para as empresas, que reforça o desequilíbrio dessa relação.
Mas a Prefeitura não teve muita escolha. O edital anterior, lançado com pompa em 2023, fracassou de forma retumbante, sem atrair nenhuma proposta. A verdade é que a cidade vive um apagão logístico no transporte público, com um sistema caro, sucateado e que não oferece qualidade, confiabilidade ou conforto. E isso num município que tem tarifas entre as mais caras do país.
Na prática, esse novo edital revela uma gestão disposta a fazer concessões para tentar, finalmente, finalizar o processo. A promessa de um investimento de R$ 1 bilhão em cinco anos e um contrato de R$ 11 bilhões ao longo de 15 anos é, por si só, um bom indicativo de que há mercado interessado. Mas é preciso mais: confiança, segurança jurídica e regras claras. E, acima de tudo, benefícios concretos para o cidadão.
O usuário campineiro não aguenta mais. O transporte coletivo virou símbolo de precariedade, e a demora em resolver esse gargalo revela o quão distante o poder público esteve da realidade de quem depende do ônibus para viver. Não se trata mais de inovação ou modernidade — é urgência social.
A consulta pública é uma boa oportunidade para ajustes e participação popular. Mas o tempo corre. E o recado da população é direto: que enfim saia do papel, com transparência, qualidade e respeito. Que essa nova tentativa não vire mais um capítulo da novela do improviso.
Jonas e o Trem
O deputado federal Jonas Donizette (PSB-SP) anunciou a criação de uma subcomissão na Câmara dos Deputados para acompanhar as obras do Trem Intercidades, projeto que visa conectar Campinas à capital paulista e promete transformar a mobilidade urbana no Estado de São Paulo.
A nova estrutura será vinculada à Comissão de Viação e Transporte e terá como função monitorar todas as fases do projeto, desde a licitação até a execução das obras. A subcomissão poderá solicitar documentos, realizar reuniões com autoridades e técnicos, além de produzir relatórios técnicos sobre o andamento do empreendimento.
Segundo Jonas, a iniciativa é fruto de uma articulação entre o governo federal e o governo estadual. Ele destacou sua participação na viabilização do projeto, ao defender o empréstimo de R$ 50 bilhões junto ao BNDES. O recurso permitirá financiar etapas essenciais da implantação do trem, considerado estratégico para a integração regional.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.