POLÍTICA

Flávio Paradella: Modo campanha ativado

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Divulgação
Isolado politicamente, mas com força nas redes, Vini Oliveira aposta em discurso de direita, mira bolha conservadora e já vislumbra outro partido.
Isolado politicamente, mas com força nas redes, Vini Oliveira aposta em discurso de direita, mira bolha conservadora e já vislumbra outro partido.

Com a poeira baixando após mais uma de suas polêmicas, começa a se desenhar de forma mais clara o caminho político escolhido por Vini Oliveira (Cidadania). O jovem vereador de Campinas, que teve uma estreia explosiva na Câmara, segue operando em modo campanha, mantendo exatamente o estilo combativo e midiático que o projetou nas redes sociais antes de ser eleito — algo que, aliás, ele próprio havia sinalizado como compromisso na única entrevista que fiz até agora com o parlamentar.

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A aposta é arriscada, mas baseada em um cálculo pragmático: a impressionante votação que o colocou no Legislativo e o alcance massivo de seus cortes nas redes sociais — alguns com centenas de milhares de visualizações — são ativos que ele não quer desperdiçar. A meu ver, o alvo está traçado: 2026. Se será uma candidatura a deputado estadual ou federal, vai depender do cenário, mas o salto político está claramente nos planos.

Na eleição passada, Vini se negava a cravar publicamente qualquer posicionamento ideológico, ainda que os indícios fossem evidentes. Agora, o vereador vai com tudo em pautas de costumes, com ações simbólicas como a ida ao IFCH da Unicamp — espaço tradicionalmente identificado com a esquerda acadêmica — e, não por acaso, publicou os vídeos em colaboração com perfis bolsonaristas, como somosbolsonaro, centraldobolsonaro e foralula.

Esse movimento de ocupar o espaço simbólico e digital da direita pode ter irritado a esquerda, mas também acendeu o alerta em setores do próprio campo conservador, que veem em Vini uma figura disruptiva, capaz de diluir lideranças mais estabelecidas. Em um ambiente em que a vaidade e a disputa por protagonismo são intensas, o novato pode encontrar mais pedras do que aliados entre as vozes da direita.

As consequências não demoraram: o Cidadania municipal, legenda pela qual Vini foi eleito, emitiu uma nota criticando abertamente os ataques ao IFCH, encerrando com a frase cortante: “não precisamos desse tipo de político”. A frase foi lida nos bastidores como uma tentativa de descolamento definitivo, numa espécie de "porta aberta" para que o vereador deixe o partido por conta própria.

Vale lembrar que o Cidadania tem como o principal nome da sigla na cidade, o deputado estadual Rafa Zimbaldi, que durante a eleição municipal já estremeceu a relação com o então candidato Vini.

Ou seja, o partido que elegeu Vini não deve abrigá-lo por muito mais tempo, e o destino parece estar traçado: PRD (ex-PTB).

Os sinais são claros: o chefe de gabinete Marco Castiglieri aparece como responsável pelos dados do órgão provisório da sigla no TSE, e o presidente do partido na cidade é Henrique Madson Berteli, assessor parlamentar do próprio Vini. A operação para a troca já está em curso, mas será lenta a espera da janela legal.

A corrida para 2026 começou mais cedo para ele. Mas com tantos focos de conflito e sem um grupo político estruturado por trás, a travessia entre o barulho e o sucesso eleitoral será mais complexa do que os cortes de Instagram costumam mostrar.

Fazenda Santa Elisa e o freio emergencial

O anúncio do início do processo de tombamento da Fazenda Santa Elisa, feito nesta quarta-feira pelo superintendente do IPHAN, Danilo Nunes, durante audiência pública na Câmara de Campinas, escancara o impasse que se instalou entre o governo estadual e os setores científicos, culturais e sociais que defendem a preservação do patrimônio. A iniciativa, articulada pelo Instituto das Fazendas Paulistas (IFP), surge como uma manobra clara para impedir a possível venda da área, cogitada pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) como parte de seu plano de privatizações.

A gleba de 70 mil metros quadrados, pertencente ao Instituto Agronômico de Campinas (IAC), não é apenas um terreno valorizado no mercado imobiliário. É símbolo histórico e científico, cenário de décadas de pesquisa agropecuária, especialmente sobre o café, e peça essencial na memória do desenvolvimento rural paulista e brasileiro. Agora, a tentativa de vendê-la ganhou um freio legal com o processo de tombamento, mas o que mais chama atenção é o sinal de ruptura no diálogo institucional.

A estratégia de recorrer ao IPHAN é legítima e legal, mas reflete um cenário em que as partes envolvidas — governo estadual e defensores do IAC — já não compartilham mais qualquer espaço de construção conjunta. A medida protetiva foi adotada não como fruto de uma mediação, mas como resposta direta à suspeita de alienação da área. O desmembramento recente da fazenda reforçou as suspeitas de venda, e a articulação política, liderada pelo vereador Gustavo Petta (PCdoB), transformou a audiência pública em uma trincheira de resistência.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.

Comentários

1 Comentários

  • Carlos 3 dias atrás
    É importante defender o Patrimônio paulista, a fazenda é um espaço histórico que mantém coleções de plantas datas dos anos 1800, espécies de plantas que só tem na fazenda e estudadas pela IAC. Parabéns pela iniciativa e ao sampi pela matéria.