O evento de sábado, realizado com pompa e elegância no The Royal Palm Plaza, foi oficialmente para celebrar os 25 anos da Região Metropolitana de Campinas (RMC) e acompanhar a posse de Dário Saadi (Republicanos) como presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC. Mas o verdadeiro motivo para a reunião das forças políticas regionais foi outro: dar mais um passo na construção da candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência da República.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
O governador paulista foi a estrela do encontro, cercado por lideranças do centro e da direita, e por nomes que antes orbitavam o PSDB, mas que agora estão sem ninho e cada vez mais alinhados ao seu projeto político. O discurso de que Tarcísio está focado apenas na gestão estadual soa cada vez mais frágil diante da mobilização explícita para pavimentar sua possível candidatura.
A fala do agora ex-presidente da RMC, Gustavo Reis (MDB), sintetiza bem o movimento:“Eu manifesto aqui, publicamente, que Tarcísio é o meu candidato à presidência da República e acredito que de todos os prefeitos.”
Mais claro, impossível.
Se ainda havia dúvidas sobre a movimentação, Gilberto Kassab (PSD), um dos mais influentes articuladores políticos do país, ajudou a dissipá-las. Até pouco tempo atrás, o secretário estadual de governo negava qualquer possibilidade de Tarcísio disputar 2026, reforçando que ele ficaria no estado. Agora, embora ainda cauteloso, já adotou um tom mais aberto, em entrevista ao amigo Marco Massiarelli, da Jovem Pan News Campinas. "A decisão é dele. Ele tem dito que é candidato a governador. Eu estou ao lado dele, qualquer que seja a decisão terá meu apoio."
Ou seja, o cenário não está fechado, mas o caminho está sendo preparado.
Apesar de todo o movimento nos bastidores, o próprio Tarcísio evitou tocar no assunto em seu discurso. Isso não é acaso. O governador paulista precisa jogar com cautela, pois, embora seja um dos nomes mais fortes da direita para 2026, não pode se descolar de Bolsonaro antes da hora.
O ex-presidente segue sendo o líder natural do espectro bolsonarista, mesmo combalido por sua inelegibilidade e pelas graves acusações de tentativa de golpe de Estado. Tarcísio sabe que qualquer movimentação precipitada pode despertar a fúria do bolsonarismo, e aqueles que tentaram se lançar sem o aval de Bolsonaro foram duramente atacados e jogados para escanteio.
O governador precisa se viabilizar como candidato sem atropelar Bolsonaro, um jogo político que exigirá habilidade para evitar ser tachado como "traidor" por uma base que não perdoa dissidências.
O evento em Campinas mostrou que o terreno já está sendo preparado. As peças estão no tabuleiro, e os aliados já fazem gestos públicos de apoio. Mas a grande questão é: quando Tarcísio fará seu primeiro movimento real?
Há tempo até a decisão final, mas a estratégia que o governador adotar será determinante. Se conseguir manter o equilíbrio entre a gestão estadual e a construção silenciosa de sua candidatura nacional, pode emergir como o nome forte da direita em 2026.
Por outro lado, se errar no cálculo e Bolsonaro resolver intervir, o jogo pode mudar drasticamente. O tabuleiro está pronto, mas basta um movimento errado para que a partida seja desmontada antes mesmo de começar.
O déjà-vu da RMC
O ato de sábado relembrpu um evento semelhante realizado em 2022. Naquele ano, o mesmo Conselho da Região Metropolitana de Campinas realizou um encontro no The Royal Palm Plaza, embalado pelo lançamento de um livro, que na prática serviu para enaltecer o então governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição.
A semelhança no formato, no local e até na presença de lideranças regionais não passa despercebida, mas as diferenças entre os contextos são gritantes.
Rodrigo Garcia não tinha qualquer apelo eleitoral, carregava o peso de uma gestão errática e impopular de João Doria, que, por sua vez, abriu mão do cargo para tentar viabilizar uma candidatura à Presidência – e fracassou fragorosamente. O resultado? Garcia foi esmagado nas urnas e a derrota do PSDB pôs fim a 28 anos de domínio tucano no governo paulista.
Já Tarcísio de Freitas chega a esse momento em uma posição muito mais confortável. Com aprovação sólida, controle sobre o governo paulista e trânsito entre diversas forças políticas, ele não precisa do evento da RMC para se apresentar como candidato viável – ao contrário de Garcia, que dependia dessas construções artificiais para tentar se consolidar.
Se a ideia de 2022 era fabricar um candidato com pouca conexão popular, o evento deste sábado teve um tom diferente: fortalecer um nome que já está naturalmente na disputa, mesmo que ainda negue publicamente.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br.