O que mais me emputece nesta vida é estar irritado e alguém me recomendar calma: "Amigo, de nada lhe adianta ficar nervoso, procure manter a calma. Conte até dez antes de qualquer coisa." Então, eu conto até mil para não homenagear a mãezinha dele. E contaria até dez mil para não lhe dar um murro na fuça. Se bem que isso certamente me deixaria mais calmo. Esses asnáticos conselheiros não conseguem entender que, se existisse esse botãozinho de se acalmar - por praticidade podia ser acima do umbigo - todo mundo o apertaria e a vida, perfeitamente resolvida, dançaria uma valsa de Strauss.

É burrice achar que um conselho, ainda que bem intencionado, possa ter esse efeito relaxante. Ao contrário, irrita ainda mais. Ninguém diz tudo bem, você tem razão, obrigado pelo conselho. Agora, eu vou ficar calmo, daqui a cinco minutos, feliz, depois do almoço sairei cantando e abraçando todo mundo por aí. Não é assim. A gente não consegue, por decisão própria, escapar da aporrinhação que nos estraga o dia inteiro. Às vezes, a semana, o ano, o século. Melhor seria ficar na cama nesses dias em que tudo dá errado. É aquele poste que a gente jura por Deus que não existia no retrovisor. Pode ser uma daquelas broncas do patrão ou da mulher (os dois mandam-na gente igualmente) e que nos fazem sentir a pior das minhocas. Até mesmo, mais uma decepção do Timão, se bem que, com essa bola murcha, a gente já devia ter se acostumado.

Na história dos civilizados, não há único registro de que essa água com açúcar tenha um dia funcionado. Agora, é preciso reconhecer que a verdadeira água com açúcar funciona sim. Senão a receita não teria a idade que tem. Se bem que comigo, quanto mais a idade passa, tudo piora ainda mais. Mas voltemos à água com açúcar, ela funciona sim, se não na barriga, na cabeça algum efeito psicológico haverá. Confesso que eu também resolvo as minhas dores exatamente assim: com água e açúcar. Só que adiciono bastante cachaça. Tomo cinco caipirinhas e vou dormir. Aí é tiro e queda.

Principalmente queda.