
Ossos provenientes de restos mortais jogados ao solo da quadra 15 do Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, popularmente conhecido como Amarais, assustaram visitantes na última semana.
Registros feitos por leitores da Sampi e enviados pelo WhatsApp mostram os ossos de diversos tamanhos, dispensados ao lado de um amontoado de terra. Em uma das fotos enviadas há um crânio, além de roupas batidas que, levam a crer, são vestimentas que trajaram falecidos quando enterrados no local.
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A reportagem da Sampi esteve no local nesta quarta-feira, 22, e encontrou e constatou o cenário. Os mesmos ossos apontados pelos leitores seguiam intactos, no mesmo lugar onde haviam servido de assombro a quem passava. A Setec (Serviços Técnicos Gerais) afirmou, em nota, que vai mudar a estratégia de trabalho para que cenas como essa não se repitam (veja mais abaixo).
Ossos espalhados pelo chão na quadra 15 (Foto: Fábio Alves)
Não é a primeira vez que relatos similares são noticiados. No feriado de Finados do ano passado (leia-se 2 de novembro de 2022), a Sampi recebeu registros de covas abertas com restos mortais expostos.
Na ocasião, a campineira Selenir da Luz Carneiro, que estava no local para enterro de um conhecido, se indignou com a situação. “Na hora eu pensei na minha família, nos meus filhos e não gostaria de ver esta situação. Naquele dia eu fui para casa pensando sobre o que tinha acontecido e voltei dias depois para verificar a situação. Novamente a cena se repetiu”, ela disse.
Imagem evidencia covas abertas após exumação (Foto: Thauany Barbosa/Sampi Campinas)
A Setec, à época, disse que os servidores foram orientados para que a cena não se repetisse. “Não é normal (as ossadas) serem deixadas assim. Os servidores já foram alertados para que isso não ocorra novamente”, declarou a autarquia.
Antagônico a esse posicionamento, a cena se repetiu, com o adicional de que, desta vez, os ossos estavam fora das covas, à luz da visão de qualquer visitante.
Durante a estada da reportagem no cemitério nesta quarta-feira, apenas da quadra 15 tinha fragmentos de ossos. Em monte de terra no formato ‘castelo de areia’, a “bandeira” era nada menos que um osso grande – aparentemente das partes superiores de um ser humano – que alçava um trapo de calça jeans.
Osso envelopado por panos parece não incomodar funcionalismo que atua nos Amarais (Foto: Luis Eduardo de Sousa/Sampi Campinas)
Em maio, um erro grotesco foi registrado no mesmo cemitério. Servidores da Setec estavam removendo restos mortais das covas públicas da quadra 35 antes do prazo estabelecido pela própria autarquia, que dá 30 dias para que as famílias se manifestem.
Por pouco, a administradora Roberta Artiolli, de 38 anos, não perdeu os restos mortais do pai, conteúdo que desejava cremar. “Quando cheguei ao cemitério, tomei um susto tremendo, porque estavam a uma cova de remover os restos do meu pai, sem que eu fosse avisada. Fui até a administração do local e virou uma briga generalizada entre os coveiros e uma servidora. De certo, ficou evidente que foi um erro”, contou Roberta.
A Setec abriu uma sindicância para apurar o erro, que acabou sem punição.
A junção desses episódios leva a crer que há um grau de desleixo com os cuidados do sepulcrário. É o que pensa a cuidadora Manoela Bueno, de 29 anos, que se deparou com a mesma cena ao visitar a cova onde está enterrada a avó, na última semana.
“Penso que eles fazem pouco caso de algo que para muitas pessoas é muito importante, a lembrança do familiar. É de uma frieza intocável, a gente se sente triste ao ver isso, dá vontade de chorar. Poderia ser um familiar nosso”, comenta.
Sobre o caso, a Setec se pronunciou através de nota. Clique aqui e veja o que disse a autarquia.
OUTROS CEMITÉRIOS
Além de visitar o cemitério dos Amarais, a reportagem da Sampi percorreu os outros dois cemitérios públicos de Campinas – Sousas e Saudade – para conferir se o mesmo problema se replicava nestes espaços.
Primeiro cemitério público do Brasil - e mais antigo de Campinas -, o da Saudade tem resquícios de abandono. Os ossos jogados ao solo, como observado nos Amarais, não existem, mas é comum, por exemplo, encontrar jazigos abertos, tomados por mato e depredados.
Os jazigos, no entanto, são de responsabilidade de seus proprietários. A grosso modo, os mais antigos aparentam mais problemas.
No corredor principal, há túmulos cuja tampa superior já não existe mais. Dentro, muito mato e até pedaços de papel e plástico.
Túmulo aberto no Cemitério da Saudade, em Campinas. Cena é comum no local (Foto: Higor Goulart/Sampi Campinas)
A cena de jazigos abertos, aliás, é a que mais se repete. Alguns, com grandes aberturas. Outras, apenas nas quinas.
Finalmente, em Sousas, o cenário é completamente diferente. O cemitério público não apresenta nenhum dos problemas identificados nos outros dois administrados pela Setec. O espaço é limpo e com requintes de cuidados frequentes.
Cemitério de Sousas, em Campinas, esbanja energia de paz; espaço é limpo, organizado e silencioso (Foto: Luis Eduardo de Sousa/Sampi Campinas)