
Localizado no entorno do Centro de Campinas, o bairro Vila Industrial é considerada a primeira periferia da cidade e também traz uma história curiosa e pouco conhecida da população da cidade. O terreno onde está instalado o Teatro Castro Mendes e a E.E. (Escola Estadual) Professor Antonio Vilela Junior já foi um cemitério, inclusive com corpos enterrados até hoje no local.
A Vila Industrial é uma das primeiras vilas operárias do país e suas ruas e edifícios retratam o início da expansão das ferrovias e da industrialização do interior paulista. Ela começou a ser construída para abrigar a população trabalhadora, que começava a chegar em grandes levas, inclusive imigrantes.
De acordo com a professora e doutora em arquitetura e urbanismo, Ana Villanueva, não há registros de quando exatamente este cemitério foi construído, mas na planta da cidade de Campinas de 1878 ele já aparece marcado.
"Acho interessante falar que o cemitério ficava atrás da linha de trem porque era considerado arrabalde [periferia] de Campinas, o que mudou com a construção das primeiras casas de operários da companhia paulista de estradas de ferro", explicou a historiadora.
Em 1889 aconteceu a epidemia de febre amarela em Campinas, foi um divisor de águas na história do município e matou milhares de pessoas em alguns meses. "Na época da epidemia de febre amarela em Campinas muitas pessoas foram enterradas no cemitério da Vila Industrial em vala comum. Depois que acabou a epidemia construíram um cemitério novo, no bairro chamado fundão, que hoje é o Cemitério da Saudade", explicou.
A especialista explica que corpos que não foram reconhecidos ficaram no antigo cemitério. "Transferiram os mortos reconhecidos para o Cemitério da Saudade. E as pessoas desconhecidas ficaram lá", disse. Quando o Cemitério da Saudade foi estabelecido como o principal da cidade, o da Vila Industrial foi desativado.
Cemitério da Saudade, em Campinas (Crédito: Divulgação/PMC)
Morador da Vila Industrial há quase 15 anos, o vendedor ambulante Sérgio dos Santos Silva, de 53 anos, contou que já ouviu histórias de fantasma no bairro, mas de cemitério foi a primeira vez. "Eu acho que como o teatro é bonito e importante para a cidade, a gente tem a impressão que ele está no mesmo local desde sempre, mas na verdade não. Eu não sabia que era um cemitério antigamente", afirmou.
A dona de casa Maria de Lourdes Dias, de 61 anos, disse que conhece a história do cemitério, mas que não sabia a importância. "Eu ouvia essas história de criança, mas não sabia que tinha sido um dos primeiros da cidade. Como faz muito tempo, eu acredito que os mais jovens vão acabar esquecendo essa história", contou.
Um grande número de imóveis e conjuntos da Vila Industrial já foi tombado, nas últimas décadas, pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), como o antigo Complexo Ferroviário da Fepasa, o Curtume Cantúsio e alguns conjuntos de habitações operárias – da Rua Francisco Teodoro, Vila Venda Grande, Vilas Manoel Dias, Vila Manoel Freire.
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Claudia Meire guiducci 15/01/2023Eu cheguei em campinas 1973 eu ouvi falar desse cemitério e qdo começou as obras do teatro muita gente diz ter achado pedaços de ossos não sei se é vdd eu tinha 9 anos qdo cheguei em campinas!