O pão do João

Postei no FB uma foto de João, 10 anos, mostrando um pão tipo italiano que ele próprio fez, sem nenhuma ajuda: eu apenas fiquei admirando sua expertise.

Por Sonia Machiavelli | 04/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Ingredientes

500 gramas de farinha de trigo

350 ml de água fria filtrada

5 gramas de fermento biológico em pó

1 colher (café) de sal

 

Postei no FB uma foto de João, 10 anos, mostrando um pão tipo italiano que ele próprio fez, sem nenhuma ajuda: eu apenas fiquei admirando sua expertise. Foi pesando ingredientes, misturando-os e depois sovando-os com diligência de quem está atento ao que se transforma e na hora certa será consumido. Um alimento merece todo nosso respeito; assim costumamos dizer a ele desde pequeno. E o pão, que se expande graças ao fermento e às manobras manuais, há tempo despertou nele curiosidade.

Foi uma tarde divertida para nós e de aprendizado para mim. Tenho uma receita parecida, que até já postei aqui. Mas a dele rende um pão muito superior e ainda é mais econômica. Leva só quatro ingredientes e quando soube fiquei surpresa. Mas não vai nenhuma gordura, João? Vai não, vovó. Não vai leite? Também não. E ovos? Nãnãnã...

Quis saber de onde vinha a receita e ele me explicou que era do Gustavo, da Escola Francana de Gastronomia, em curso que havia dado para crianças no ano passado. Aí pensei que só poderia vir coisa boa daquela massa, pois o professor, eu conheço.

Os ingredientes são os acima listados, mas para o pão ficar bom como o que João fez há um segredo chamado paciência. A massa tem de crescer por uma hora e, depois, sovada a cada dez minutos, por mais uma. Ou seja, serão seis sovadas que na verdade são “dobradas”: a massa é dobrada sobre si mesmo dez vezes. Em razão disso esse pão também é chamado “pão de dez dobras”. Na verdade, sessenta...

Então foi assim. O João colocou a farinha e o fermento numa tigela grande. Mexeu com as pontas dos dedos. Juntou aos poucos a água, mexeu de novo, colocou o sal. Mexeu até integrar tudo e formar uma massa mais mole que dura. Tampou com papel filme e deixou crescer em lugar que estava bem quentinho. Depois de uma hora, a colocou na superfície lisa e limpa da bancada da pia, levemente polvilhada com farinha. Esticou e dobrou com as mãos mesmo, nada de rolo. Dobrou-a sobre si mesma dez vezes. Voltou-a para a tigela, cobriu com plástico e a cada dez minutos repetia a operação. Ao fim das seis dobradas, deu formato de bola à massa e ajeitou na panela de ferro, untada e polvilhada com farinha de trigo. Panela de alumínio, só se for bem grossa- ele me avisou. Tampada a panela, levou ao forno, a essa altura preaquecido a 180 graus. Foi a única coisa que fiz: colocar no forno e retirar.

Como a minha panela não tinha tampa, improvisamos uma com papel alumínio, em forma côncava, para a massa não grudar ao crescer. Deu certinho. Depois de 40 minutos, levantamos uma pontinha do alumínio e olhamos a massa, espetando um palito comprido, para ver se estava assada no interior. Estava; o palito saiu sequinho. Então tiramos de todo o papel e deixamos mais dez minutos para corar. A essa altura, o perfume de pão quente inundava a cozinha, para nossa alegria. Comemos uma fatia com a manteiga derretendo e entranhando na massa crocante por fora e maciamente rendada por dentro. Uma delícia!

Fiquei orgulhosa de meu neto.

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