CULINÁRIA

Geleia de jabuticaba

Acabou com o verão a safra da fruta que só brasileiros têm o prazer inenarrável de degustar no próprio pé, debaixo de uma copa frondosa que garante frescor diferenciado. Com milhares de frutos pretos colados em seu tronco e galhos, é uma imagem difícil de esquecer.

Por Sônia Machiavelli | 28/03/2021 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Ingredientes

2 quilos de jabuticaba

2 litros de água potável

1 quilo de açúcar cristal

 

Acabou com o verão a safra da fruta que só brasileiros têm o prazer inenarrável de degustar no próprio pé, debaixo de uma copa frondosa que garante frescor diferenciado. Com milhares de frutos pretos colados em seu tronco e galhos, é uma imagem difícil de esquecer. E repleta de delicadas flores brancas é também uma efêmera obra de arte, mais ou menos como as cerejeiras do Japão. Poetas de nossa país já compuseram diante desses exemplares inspiradores haicais dignos de um Bashô.

Tão bela é uma jabuticabeira, em qualquer estação, que surgiram nos últimos anos firmas especializadas no transplante delas, que sobrevivem intactas à operação. No meu condomínio há pelo menos quatro resistindo na frente de casas recém construídas, trazidas de fazendas, chácaras e antigos quintais. Como demoram anos para produzir, vale a pena levá-las adultas para perto de si, se o dono guarda consigo boas memórias de infância a elas associadas.

Minhas primeiras lembranças da fruta trazem a imagem de um carroceiro que passava pelas ruas da cidade com seu pregão dos dezembros:”Olha a jabuticaba fresca! Fresca jabuticaba!” Vendida a litro, não me lembro mais quanto custava, mas era uma bagatela. O vendedor fazia um canudo com duas folhas dobradas de jornal e o colocava nas mãos infantis que o pagavam com moedas. Nós, as crianças daquele tempo, nos sentávamos na calçada e parávamos por algum tempo o brinquedo da hora, para saborear a doçura daquela iguaria vegetal que ainda nos presenteava com um ploc!, cada vez que os dentes rompiam a casca lisa e liberavam a polpa doce e branquinha. Só muito, muito tempo depois, eu aprenderia que aquela palavra indígena significava “gordura de jaboti”- jaboti por conta do arredondado do casco miúdo do bichinho homônimo; kaba (gordura), devido ao óbvio conteúdo. É uma das frutíferas mais cultivadas, desde o Brasil Colônia, em pomares domésticos. Em algumas regiões de Minas tornou-se tradição o aluguel de pés de jabuticaba, o que permite a colheita e o consumo de todas as frutas de um dado pé durante certo período de tempo.. Na mineira Sabará, é realizado anualmente o Festival da Jabuticaba, visando a perpetuar a tradição da cidade como grande produtora da fruta. Virginópolis, outra cidade das Gerais, também guarda a tradição anual de realizar um festival parecido, no final do ano, quando as árvores estão mais carregadas de frutos, o que proporciona uma produção caseira de licores, vinhos, doces e geleias.

No último dezembro, muito por conta da pandemia,voltei ao hábito de aproveitar as jabuticabas fazendo geleias. É um trabalho prazeroso para mim lavar os frutos, separar os que não estejam perfeitos, cozinhar, coar, medir suco e açúcar e então levar ao fogo, mexendo até dar ponto- não pode ficar muito grosso, porque depois de fria endurece; nem muito rala, porque então será apenas xarope. Fora isso, que exige certa “expertise”, todo o resto é fácil.

Depois de lavar as jabuticabas, coloque-as em uma panela grande e cubra com água. Leve ao fogo, deixe cozinhar por quinze minutos, contados a partir do momento em que a água atingir ponto de fervura. Mexa de vez em quando e perceba que ao arrebentarem elas vão se tornando avermelhadas. Desligue ao fim do tempo marcado e deixe amornar. Coe, apertando com colher as frutas contra as tramas de uma peneira fina. Recolha o suco e meça. Para cada litro de suco, meio quilo de açúcar. Misture e leve ao fogo em panela grande (para não transbordar), mexendo de vez em quando. Depois de vinte minutos, atente ao ponto.Coloque um pires na geladeira ao começar a fazer a geleia.Quando estiver em ponto de calda bem grossa, retire uma porção com uma colherinha e derrame no pires gelado. Vire, observando como ficará o ponto depois de frio. Se escorrer depressa, deixe mais tempo no fogo.

Despeje quente em vidros esterilizados e terá geleia por um ano inteiro. Vidros de conserva podem ser esterilizados em casa: lave com água e detergente, leve ao microondas por três minutos. As tampas devem ser fervidas e depois de secas ter seus dois lados esfregados de leve com pano embebido em álcool. Ponha a geleia ainda quente nos vidros secos, feche bem e vire-os para baixo. Deixe até o dia seguinte. A partir daí pode usar. Sirva com queijo, torradas, bolos ou como cobertura de tortas e bolos. Em vidros bem fechados, guardados em lugar fresco e escuro, como um armário, as geleias duram um ano.

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