Polenta e molho

Se a gente encara com curiosidade um prato, poderá encontrar nele capítulo que representa página do grande livro da história da civilização.

14/10/2018 | Tempo de leitura: 4 min

Ingredientes
 300g de farinha de milho amarelo 
 100g de requeijão cremoso 
 150g de manteiga 
 4 colheres (sopa) de azeite 
 Sal a gosto
 Pimenta-do-reino a gosto
 1 folha de louro
 1 dente de alho inteiro descascado
 500 ml de água
 500 ml de leite
 8 minicebolas cortadas em cubos 
 1 colher (chá) de açafrão em pó
 1  colher (chá) de gengibre em pó
 1 colher (chá) de canela em pó
 1 colher (chá) de coentro em pó
 1/2 colher (chá) de pimenta caiena
 1/2 colher (chá) de cúrcuma
 3 colheres (sopa) de salsinha grosseiramente picada 
 
Se a gente encara com curiosidade um prato, poderá  encontrar nele capítulo que representa página do grande livro da história da civilização.  A prosaica polenta, por exemplo, reflete de maneira clara como um grão, levado da América para a Europa, influenciou na elaboração de receita que já era no mínimo milenar, pois constituía a base da alimentação dos soldados romanos. Feito de aveia ou cevada trituradas, o angu original foi o antepassado de todas as polentas que as mamas italianas perpetrariam tão logo o então excêntrico milho plantado nas regiões de Veneza e Friulli mostrou sua excelência em nutrição e sabor, substituindo o trigo, na época muito caro.
 
O milho chegou à Espanha e reinos italianos depois que navegadores descobriram  novas terras no Caribe por volta de 1492. Observando a saúde e disposição de incas, maias e astecas, os desbravadores do século XV concluíram que o cereal, além de saboroso, era muito nutritivo e poderia ser beneficiado, tornando-se farinha. Cultivado de início no norte do que viria a ser a Itália unificada, passou depois aos campos de outras regiões, onde as chuvas eram abundantes. Rapidamente foi incorporado ao cardápio cotidiano e deu origem à polenta, desde sempre feita da mesma forma, incluindo entre os ingredientes, além de água, sal e farinha de milho, a força para misturar a pasta em caldeirões de cobre e a paciência para ir mexendo devagar e sempre, a fim de que não se formassem grumos. Por isso as gravuras onde italianas mexem a grande panela usando  blusas de mangas longas, pois ao chegar na sua fase final de cocção a polenta pode espirrar e queimar os braços de quem cozinha. 
 
O que variou no receituário foi a textura, de mais cremosa a mais  firme, para se comer com colher quando mole, ou com dedos quando dura e cortada em pedaços com linha. Ao longo do tempo variaram também os molhos, dependendo de quem fazia a polenta. Hoje são tantos que devem passar da centena. Desde o século passado o pomodoro clássico passou a ter como alternativas cogumelos, pesto, sardinhas, ragu de carne, linguiça  e muitas outras criações com que chefs inventivos se destacam. O antigo prato de pobre hoje está nos menus de restaurantes estrelados. 
 
O curioso é que o milho, também cultivado por nossos índios, fez seu caminho de volta com os imigrantes italianos aqui chegados  no final do século XIX. No Brasil, a polenta adquiriu novos sabores com a adição de temperos tropicais. Muito popular no sul do nosso país, mas também no sudeste, tem até festa de arromba neste mês de outubro, em Venda Nova do Imigrante, no Espírito Santo. O evento reuniu no ano passado 80 mil visitantes e é  patrocinado pela Associação Festa da Polenta, cujo  objetivo é resgatar e manter viva a cultura dos imigrantes italianos que há mais de 100 anos fundaram a cidade a partir de uma “venda”, sinônimo de armazém.  
 
Nossa receita de hoje é para ser feita com carinho. Nada de vapt-vupt. Como relata sua criadora, a jornalista Patrícia Ferraz, do caderno Paladar, do Estadão, “polenta pode ser a coisa mais sem graça do mundo, ou virar uma refeição deliciosa, tudo depende de como você vai tratá-la.”
 
Ao reproduzir a receita, preparei primeiro o molho de manteiga e especiarias. Derreti 100g de manteiga com o azeite numa frigideira e refoguei a cebola picada até dourar. Acrescentei as especiarias, uma a uma, mexendo sem presa, e finalizei com sal. Reservei na própria frigideira para usar na hora de finalizar o prato.
 
Depois passei à polenta propriamente dita. Coloquei em uma panela alta ( porque espirra mesmo!) a água com leite, o dente de alho (inteiro e sem casca),a folha de louro, a pimenta-do-reino moída na hora. Salguei com modéstia, mas cada um tem lá seu gosto... Quando o líquido ferveu, retirei a folha de louro e o dente de alho. Juntei o restante da manteiga (50 gramas)e mexi até derreter.  Então fui ao passo seguinte, despejando  a farinha de milho em chuvisco, aos poucos, sem parar de mexer com um batedor de arame para evitar caroços.  Quando  a massa começou a desgrudar do fundo da panela, desliguei o fogo. Distribuí a polenta em seis pratos individuais. Espalhei o requeijão na superfície e sobre ele o molho de manteiga aquecido. Polvilhei salsa e servi bem quente.

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