Abóbora e coco

As abóboras fizeram uma longa viagem pelo mundo antes de chegarem como as encontramos hoje nas feiras e varejões.

23/09/2018 | Tempo de leitura: 4 min

ingredientes
Doce de abóbora
 1/2 kg de abóbora 
 1 xícara de açúcar cristal
 75 g  de coco ralado
 3 cravos-da-índia
 3 ramas de canela
 
Creme de coco
 3 xícaras (chá) de leite
 200 ml de leite de coco
 2 colheres(sopa) de açúcar
 2 gemas
 2 colheres (sopa) rasas de amido de milho
 1 colher (sopa) de aguardente
 
Montagem
 1 pacote de bolacha tipo Maizena
 75 gramas  de coco ralado
 
As abóboras fizeram uma longa viagem pelo mundo antes de chegarem como as encontramos hoje nas feiras e varejões.
 
Se voltarmos no tempo, veremos que  quando navegadores portugueses aqui chegaram, se surpreenderam com saudáveis índios de diversas etnias cuja dieta básica era constituída por mandioca, milho e abóbora. Também os espanhóis que por essa época avançavam pela América Central, constataram a importância dos vegetais na vida de astecas, maias e incas. Portanto não há dúvida sobre a origem das abóboras. Nativas da América, várias espécies silvestres tinham sido domesticadas ao longo de milhares de anos pelos habitantes do então apelidado Novo Mundo. 
 
Levadas à Europa elas fizeram sucesso e circularam entre diferentes países, chegando à Alemanha e à Itália ainda no século XVI. Quando os imigrantes alemães e italianos vieram para o Brasil, no século XIX, trouxeram consigo sementes de suas próprias seleções de abóboras, para seguir cultivando aqui aquelas que já haviam sido incorporadas à sua cultura havia três séculos.
 
Acompanhar a viagem da abóbora e de outros  produtos da terra é abrir janelas para entender que a história transparece na mesa e tem íntima relação com a cultura de um país.  Hoje são cultivadas no Brasil muitas variedades crioulas de abóboras. São assim denominadas aquelas resultantes da seleção empreendida por agricultores ao longo do tempo, com sementes  passadas de geração a geração e também trocadas entre vizinhos e parentes. O maior número é das espécies Cucurbita maxima e Cucurbita moschata. A primeira apresenta grande variabilidade genética para características externas, como tamanho, formato, cor e textura da casca, o que resulta em uma diversidade de nomes atribuídos para cada tipo:  abobrinha, abóbora, abóbora-crioula, abóbora-cogumelo, abóbora-coração-de-boi, abóbora-gaúcha, moranga lisa, mogango, moranga-de-bunda... Já os frutos da Cucurbita moschata  conhecidos popularmente como abóbora-de-pescoço  ou abóbora-menina, são bastante utilizados no preparo de doces – em calda e em pasta. E o doce de abóbora é um dos ingredientes do pavê cuja foto ilustra a página. O outro é o coco.
 
Muitos pensam ser o coco nativo do Brasil, mas sua origem  é o Sudeste da Ásia. Aqui ele foi introduzido pelos portugueses  por volta de 1553. Como inicialmente o cultivo se deu na então capitania da  Bahia, passaram a chamá-lo assim, coco da Bahia. Um fator que ajudou na sua disseminação na costa nordestina foi o fato de que muitos navios carregados naufragavam por perto  e sendo os frutos pouco densos, flutuavam e  eram espalhados pelas correntes marinhas até as praias. Como coqueiros gostam de solos arenosos e salinos e de áreas com luz solar abundante, prosperaram rapidamente. 
 
Quanto ao termo “coco”, foi desenvolvido pelos portugueses no território asiático de Malabar, na viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1498), a partir da associação da aparência do fruto com o “Coco”, monstro imaginário com que se assustavam  as crianças da época, um similar do bicho-papão. Quem conta é o historiador e pioneiro da gramática da língua portuguesa João de Barros, no livro “Décadas da Ásia”, publicado em 1563:  “por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer coisa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro...” 
 
Histórias à parte, o pavê se faz começando pelo doce. Basta juntar a abóbora cortada em cubos pequenos, o açúcar  e as especiarias, levar ao fogo e deixar cozinhar até amaciar. Não é necessário juntar água. Quando os pedaços estiverem cozidos, retire as especiarias, amasse a polpa com a ponta de um garfo, junte o coco ralado e volte ao fogo por mais dez minutos. Deixe esfriar e reserve. 
 
Prepare o creme de coco. Coloque numa panela o leite de vaca, o leite de coco, o açúcar e leve ao fogo baixo para ferver. Bata na batedeira as gemas com o amido até obter um creme fofo e esbranquiçado. Aos poucos despeje a mistura de leite quente sobre as gemas, batendo o tempo todo para não empelotar. Volte o creme para a panela em fogo brando e mexa sempre até ficar espesso. Desligue o fogo, deixe esfriar, acrescente  aguardente, reserve. 
 
Monte o pavê em refratário retangular médio. Primeiro a camada de bolachas; depois a de creme de coco, em seguida doce de abóbora. Repita o processo, termine com camada de creme. Espalhe o  coco ralado, cubra com filme plástico, leve à geladeira por um mínimo de quatro horas.

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