Pimentões recheados

Não são apenas as floriculturas que me atraem por conta das flores que expõem com suas cores e formas diversas.

04/03/2018 | Tempo de leitura: 4 min

 2 pimentões amarelos
 200 gramas de carne moída (alcatra ou maminha)
 1 xícara de arroz cozido (vale sobra)
 1 cebola pequena
 1 dente de alho
 1 colher (sopa) de pedacinhos de tomate sem sementes
 1 colher (sopa) de azeitonas  verdes sem caroços, cortadas em rodelas
 1 colher (sopa) de salsinha
 1 colher (sopa) de suco de limão
 Sal a gosto
 2 colheres (sopa) rasas de requeijão cremoso
 1 colher  (sopa) de farinha de rosca
 3 colheres (sopa) de azeite
 
Não são apenas as floriculturas que me atraem por conta das flores que expõem com suas cores e formas diversas. Embora apreciar o reino vegetal pareça ser obviedade não é questão tão elementar. Conheço várias mulheres que não dão a mínima para flores. Já vi moça receber ramalhete de namorado e sequer desembrulhá-lo, colocar em vaso com água- ficou sobre a mesa até fenecer. Já vi uma se desfazer de buquê intacto jogando-o no lixo no fim de seu expediente de trabalho, e poucas horas depois de recebê-lo. E antes que alguém diga “ah, essas não gostavam do namorado”, vos direi que não é verdade. Tenho certeza de que elas os amavam. Mas o ser humano é muito estranho. E o que é bonito para uns, para outros nada diz à alma. 
 
Retomando, não apenas as floriculturas me cativam. As feiras e varejões também. Acho lindas as folhas que de manhãzinha são expostas com todo viço nas bancas da feira livre da Major Nicácio, aos domingos. As nervuras da couve, o arredondado do agrião, as bordas irregulares da rúcula, a delicadeza das alfaces, os buquês que formam uma couve-flor ou um brócolis; a cor da abóbora, do tomate, das batatas; o desenho do quiabo e das abobrinhas; o vivo verde dos molhos de cebolinha, salsa, coentro... Isso sem entrar na seara das frutas, todas lindas por natureza e merecedoras, cada uma, de um capítulo especial que eu começaria em ordem alfabética pelo abacaxi, cujo nome já diz tudo: “fruta cheirosa”. Que poética era a língua falada nessa costa brasileira quando aqui chegaram os colonizadores...
 
Foi numa dessas minhas idas à feira que vi numa cesta uns pimentões amarelos tão bonitos que os comprei. Pareciam de cera, de cerâmica, de louça, de porcelana, nem sei dizer de quê, pois tão perfeitos que me ocorreu serem artificiais. Sim, os naturais têm sempre alguma coisa imperfeita, que os liga ao perecível do reino ao qual pertencem. Então, comprei os pimentões amarelos, coloquei-os numa cestinha em cima da pia, e enquanto não atinava ao que fazer com eles, ratatouille descartada, encarei uma pequisa básica. 
 
Descobri que o pimentão é nativo do Chile; e que rico em vitaminas C e A, ganha a simpatia dos nutricionistas por diversas razões. São excelentes fontes de ferro, cálcio e fósforo. Possuem pouquíssimas calorias. Aceleram o processo de cicatrização. Previnem a arteriosclerose, controlam o colesterol, evitam hemorragias, aumentam a resistência física. E ainda ajudam no combate a certas alergias. Não sabia que os pimentões verde, vermelho e amarelo são o mesmo fruto. O primeiro ainda se encontra imaturo, por isso tem gosto forte e digestão mais lenta aos de estômago delicado. As cores vermelha, amarela e alaranjada, que diferenciam espécies, caracterizam os maduros, de sabor mais suave, adocicado, e preço mais elevado. Estava curiosa em relação ao nome, que é uma derivação aumentativa de pimenta: então, por que não ardem como ela? Acontece que embora sejam do mesmo gênero, capsicum, o pimentão é referência zero na Escala Scoville, que mede o nível de intensidade da Capsaicina, substância alcalina responsável pelo ardor. Pimentão não arde. A esta altura já sabia o que faria com os meus. Iria recheá-los, aproveitando sobras de arroz e um tantinho de carne moída armazenada no freezer. E não é que ficou bom? A seguir, conto como procedi. 
 
Cortei a parte superior dos pimentões com uma faquinha apropriada e retirei do seu interior as sementes e as partes brancas. Lavei e sequei bem. Untei o interior com bastante azeite e reservei. Temperei a carne moída e já descongelada com sal, limão e pimenta-do-reino moída na hora. Mexi com as pontas de um garfo e reservei. Coloquei numa panelinha uma colher de azeite e quando aqueceu fritei a cebola cortada em cubinhos até que ficou transparente. Juntei o alho bem triturado e mexi. Agreguei a carne, mantendo o fogo brando e mexendo de vez em quando até que a carne desidratasse, ficasse cozida e, por fim, sem caldo. Reuni a ela as azeitonas. Misturei e reservei. Juntei o arroz cozido à carne e mexi bem. Acrescentei o requeijão e a salsinha picada milimetricamente. Mexi de novo pois o requeijão seria o elemento de ligação dos ingredientes. Peguei na palma da mão um dos pimentões preparados e recheei com a mistura de arroz e carne moída. Acertei a superfície com as costas de uma colher. Polvilhei a farinha de rosca. Distribuí os cubinhos de tomate. Cortei duas tiras de papel alumínio, coloquei no meio um pimentão e fechei como trouxinha. Repeti a operação com o outro. Coloquei numa travessa, levei ao forno quente, preaquecido a 180 graus, deixei assar por meia hora. Retirei, abri a trouxinha de alumínio, constatei que estava tenro (espetei um palito para testar) e servi quente num prato preto, para realçar o amarelo. Enfeitei com folhas de cebolinha e um ramo de salsinha. 

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