Petigatô

O MasterChef Brasil da Band é um dos melhores programas de culinária no seu gênero. Sempre que posso assisto

12/11/2017 | Tempo de leitura: 4 min

 4 ovos inteiros
 3/4 xícara (chá) de açúcar
 3/4 xícara (chá) de farinha de trigo
 300 gramas de chocolate amargo
 150 gramas de manteiga sem sal
 
Acompanhamento
 Sorvete de creme
 Calda de chocolate
 Folhas de hortelã
 Amêndoas quebradas
 
 
Sonia Machiavelli
EDITORA
 
O MasterChef Brasil da Band é um dos melhores programas de culinária no seu gênero. Sempre que posso assisto, e divido ansiedades com os cozinheiros em dois momentos especiais. Quando tomam conhecimento do prato que devem preparar. E quando abrem aquela caixa cheia de ingredientes e precisam decidir o que criar com eles. Uma coisa é trabalhar no recesso da cozinha doméstica, sem relógio marcando minutos ou gente atenta aos mínimos movimentos. Outra, bem diferente, é ter consciência de que existem milhões de espectadores observando, criticando, analisando, colocando defeitos a três por quatro. No ar há muita mis-en-scène, sabemos; mas existem também reações emocionais genuínas e inesperadas dos participantes, pois aguentar o que os chefs catalogados às vezes dizem é mesmo de amargar.. 
 
Além de revelar profissionais talentosos que a partir do sucesso alcançado até progridem em suas carreiras, o programa é também pedagógico, pois ensina muito para quem gosta de aprender. Volta e meia lá está o Erick Jacquin falando com propriedade sobre a origem de pratos franceses que ele conhece desde o tempo de sua avó; a Paolla Carosella lembrando sua família argentina que ela observava com olhos curiosos na cozinha; ou o Henrique Fogaça fazendo colocações pontuais sobre temas inesperados como comida de hospital...
 
Foi numa das provas do MasterChef de tempos atrás que matei minha curiosidade sobre o petit gâteau, uma sobremesa que não existe na França com o nome com que foi batizada no Brasil, pois na tradução para o nosso idioma as duas palavras virariam só uma: bolinho. E daí? Bolinhos também são o cupcake inglês e a queijadinha portuguesa. Imaginava ser criação recente, já que nem o Larrousse Gastronomique havia me esclarecido. Foi o Jacquin quem dirimiu minhas dúvidas em uma das provas onde o desafio era preparar o petit gâteau perfeito. Ele explicou que o criador do prato tinha sido seu colega Michel Bras. Fui então atrás de mais informações e descobri entrevista dele no caderno Paladar do jornal Estado de São Paulo, no ano em que esteve no Brasil- 2014. Nela, entre outras coisas, diz o chef: “Cozinhar é minha vida. Eu cozinho, eu vivo; eu cozinho, eu vivo. Tenho dificuldade em dissociar. Se passeio, penso em cozinha. Faço fotos, penso em cozinha, em pratos. Quando corro é igual. Me guio apenas pela emoção que poss
o suscitar como cozinheiro.” Criador de muitos pratos à base de vegetais frescos, um deles o gargouillou (pronuncia-se garguiú), muito reproduzido ao redor do mundo, frisa que a imitação que fazem dos seus pratos é “uma espécie de reconhecimento” Nesta entrevista, traz à baila sua criação mais conhecida: “ O coulant au chocolat , que no Brasil ficou conhecido como petit gâteau, também deu a volta ao mundo, todos se dizem criadores. Mas sei da emoção que foi quando consegui fazer vazar o chocolate depois de errar muito.”
O Jackin é um profissional ético. Foi ele quem tornou conhecida em nosso país a sobremesa, quando era proprietário do restaurante Antique, na capital paulista. Mas nunca assumiu a autoria, sempre deu crédito ao Michel Bras. Quanto à receita desta página, foi retirada do livrinho “Receitinhas para você/ Chocolate/Sabor que tem história” . É uma excelente publicação do SESI. 
 
Voltemos à prova do petit gâteau. A perfeição exigida deveria corresponder à elaboração de um bolinho individual de superfície firme que ao ser servido quente exibisse como conteúdo um creme de chocolate derretido, misturando-se ao sorvete de creme.  Foi uma prova dramática aquela, pois uma das concorrentes trocou açúcar por sal e essa falha selou sua eliminação. Por isso o conselho reiterado do Jacquin nunca é demasiado: quem está cozinhando deve experimentar tudo a toda hora. Os alimentos mudam de textura, os líquidos evaporam, o sal se concentra, os amidos podem espessar além da conta. Etc. Se a moça tivesse experimentado a massa do bolinho antes de colocar para assar, talvez tivesse jogado tudo fora e começado de novo. Até porque é uma receita rápida de ser feita, se todos os ingredientes estiverem à mão e o forno preaquecido. Quer ver? É assim que se faz. Bata os ovos na batedeira, acrescente o açúcar e a farinha de trigo aos poucos, batendo sempre. Raspe as laterais, mexa com a espátula, reserve. À part
e derreta o chocolate juntamente com a manteiga no micro-ondas ou no banho-maria; deixe amornar. Junte as duas misturas, formando uma massa homogênea. Unte forminhas próprias (valem as de empada) com manteiga, polvilhe chocolate em pó, preencha com a massa. Asse em forno pré-aquecido a 200 graus por 8 minutos. Retire do forno. Espere dois minutos e desenforme no prato onde já tenha corrido uns fios de calda e depositado uma bola de sorvete. Decore com as amêndoas picadas e as folhinhas de hortelã. Sirva imediatamente. 

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