OPINIÃO

A volta do golpe do bilhete premiado

Por Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves | O autor é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
| Tempo de leitura: 3 min

Não bastasse o desconforto e os temores que acometem os paulistanos e moradores de outras grandes e médias cidades brasileiras em razão do roubo e furto de telefones celulares, a população de São Paulo volta a registrar o velho “golpe do bilhete premiado”, crime cujos primeiros registros datam do ano de 1900 e durante muitos anos causou elevados prejuízos aos incautos e desavisados. Decorridos 125 anos dos primeiros registros, voltam a aparecer no cotidiano das ocorrências policiais de nossa capital – a maior da América Latina com vias públicas e locais de grande circulação de pessoas vigiados por câmeras equipadas com reconhecimento facial e outros recursos – o ardil em que os criminosos abordam as vítimas com promessas de fortunas ou quantias razoáveis de dinheiro em troca de pequena ajuda financeira. Dois larápios costumam conversar ao lado da vítima escolhida (normalmente idosa) dizendo que ganharam na loteria ou em qualquer outro jogo rentável, mas não têm tempo para ir resgatar o prêmio. Acabam envolve4ndo a presa na conversa e “para não perder o prêmio”, a ela oferecem o bilhete em troca de uma quantia muito menor do que a anunciada recompensa do jogo. Recebem o dinheiro e desaparecem e a vítima, ao tentar o resgate, fica sabendo que caiu num golpe. Muitos  casos da nova versão do bilhete premiado estão nos registros policiais. Num , dois estelionatários convenceram um homem de 88 anos a lhes dar R$ 70 mil pelo bilhete premiado com elevada quantia. Há outro caso onde a vítima fez um empréstimo de R$ 100 mil para participar da divisão de um suposto prêmio de R$ 13 milhões do bilhete. Além dessa, outras estórias dos que se diziam donos do prêmio.  Também surgiram nas encenações uma “psicóloga” e uma suposta gerente da Caixa Econômica Federal.

São muitas as vítimas do novo bilhete premiado. Registros do DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais), existem atualmente  382 casos registrados. Também já são disponíveis informações sobre  golpistas de diferentes idades e gêneros. Além da polícia, a nuvem criminosa também mobiliza a Ciaxa Econômica Federal e a Federação Brasileira de Bancos que orientam a população a não dar atenção aos  golpistas e, sempre que puderem, denunciá-los à polícia.

O estelionato é mais que um crime. O estelionatário comporta-se como um verdadeiro artista para  vírtima. Joga com sua ambição e, através dela, acaba convencendo-a a “investir” suas economias em troca do anunciado prêmio. Há casos como o de uma mulher de São José dos Campos que transferiu aos golpistas  R$ 3,25 milhões na expectativa de alcançar uma “bolada”. Além do dinheiro próprio, fez empréstimos e os repassou aos larápios.

É importante considerar que a São Paulo de hoje é bem diferente da de um século atrás quando pontificavam em nossas ruas indivíduos que chegaram até a ganhar fama como Meneghetti,  o bandiddo da Luz Vermelha e outros errantes. Hoje possuímos tecnologia e esquemas policiais sofisticados que dificultam os crimes mais simplórios. Mas, mesmo assim, a ousadia do criminoso é tão grande que ele acaba atacando com sucesso.

A população tem o dever de permanecer atenta para evitar tornar-se vítima. E, quando sentir ações possivelmente criminosas, buscar apoio das autoridades. No próprio interesse, o cidadão tem de permanecer vigilante. Sua simplicidade não autoriza o descuido, que pode ser fatal. Quem não se mantiver atento poderá, em pleno século 21, tornar-se protagonista das estórias que se contava no século passado, onde caipiras teriam vindo à capital e adquirido de estelionatários a Estação da Luz, o Museu do Ipiranga,   o parque do  e outros  bens não vendáveis…

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