SOCIEDADE

2025 expôs crise da saúde mental; 2026 pode mudar cenário

Por Priscila Medeiros | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Priscila Medeiros
Salviano destaca que o perdão é essencial para uma vida saudável
Salviano destaca que o perdão é essencial para uma vida saudável

O ano de 2025 foi marcado por ansiedade, esgotamento e agravamento dos problemas de saúde mental, mas 2026 pode representar uma virada possível e realista, desde que haja postura, consciência e ação. A avaliação é do psicólogo Cláudio Salviano, que atua há mais de três décadas na área clínica e defende que o próximo ano seja encarado como uma oportunidade concreta de mudança de rumo, sem promessas irreais, mas com atitudes consistentes no dia a dia.

Segundo ele, embora seja difícil traçar uma retrospectiva exata de um tema tão complexo, alguns padrões se repetiram com frequência ao longo de 2025 e acendem um sinal de alerta para o período que se inicia.

De acordo com Salviano, este último ano funcionou como um "espelho coletivo" da saúde mental da sociedade, refletindo empobrecimento emocional, tensão constante e uma sensação generalizada de esgotamento. Quadros de ansiedade, depressão e burnout apareceram de forma recorrente nos atendimentos, muitas vezes levando pessoas a se afastarem do trabalho ou a interromperem estudos e projetos de vida.

"O pano de fundo da maioria dos atendimentos foi a ansiedade", explica. Mesmo quando a queixa principal envolvia depressão, dependência química ou crises de pânico, a avaliação clínica indicava uma ansiedade generalizada como base do adoecimento. Pensamentos acelerados, dificuldade de controlar impulsos, insônia e uma sensação permanente de urgência tornaram-se sintomas comuns.

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Outro fator que se destacou em 2025 foi o aumento expressivo do uso de substâncias psicoativas. Salviano relata crescimento de recaídas, internações e casos de overdose, além da banalização do consumo de drogas e medicamentos.

"Muitas pessoas usam essas substâncias como anestesia emocional, para tentar lidar com dores que não foram tratadas na origem", afirma. Para o psicólogo, raramente a dependência é o problema inicial. ela costuma ser consequência de transtornos como ansiedade, depressão ou até TDAH não diagnosticados.

Os impactos emocionais também foram intensificados por perdas e frustrações. Lutos (pela morte de familiares, animais de estimação ou pelo fim de relacionamentos) apareceram com frequência nos atendimentos.

Houve ainda casos de pacientes enfrentando doenças graves, como câncer, além de idosos profundamente abalados por dificuldades financeiras e pela falta de acesso à aposentadoria. "São pessoas que trabalharam a vida inteira e chegaram ao consultório com sentimento de abandono e desesperança", relata.

Para Salviano, questões sociais, políticas e econômicas contribuíram para esse cenário, assim como a inversão de valores e a dificuldade das pessoas em se posicionar. "O medo paralisa. Quando a pessoa não se posiciona, perde a identidade e adoece", avalia.

SEJA REALIST

Diante desse contexto, o psicólogo defende que 2026 seja encarado como um ano de mudanças possíveis e realistas.

A orientação é abandonar metas grandiosas e distantes e priorizar objetivos alcançáveis. "Quem não leu nenhum livro no ano, que leia um capítulo. Quem não consegue ir à academia, que comece caminhando. Pequenas atitudes constroem grandes mudanças", aconselha.

Outro ponto central é o autoconhecimento. Segundo Salviano, a falta de olhar para si mesmo foi um dos sinais de adoecimento mais ignorados em 2025.

"A maioria das escolhas humanas é inconsciente. Quando a pessoa não vive o aqui e agora, perde o sentido da vida e abre espaço para a ansiedade", explica.

Ele alerta ainda para o uso excessivo da tecnologia, que contribui para a mente acelerada e a perda de controle dos impulsos. "É preciso dominar as ferramentas, e não ser dominado por elas."

Valores e espiritualidade também aparecem como pilares fundamentais para a saúde mental. Para o psicólogo, não há terapia que sustente mudanças profundas quando valores como respeito, responsabilidade e empatia estão fragilizados.

LIBERTAÇÃO

O perdão, segundo ele, é outro elemento essencial, não como esquecimento, mas como libertação emocional. "Perdoar é parar de carregar um peso que adoece", resume.

Para 2026, Cláudio Salviano deixa um recado direto: viver um dia de cada vez, assumir responsabilidade pelas próprias escolhas e buscar equilíbrio. "Cuidar da saúde mental exige postura, consciência e ação. Não dá para delegar ao outro aquilo que é nossa responsabilidade. Autoconhecimento, disciplina emocional e valores bem definidos não são luxos, são necessidades", conclui.

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