O presidente Lula vai vetar o Projeto de Lei da Dosimetria, aprovado pelo Congresso, que reduz as penas do ex-presidente Bolsonaro, dos militares golpistas e assessores. Estão incluídas como beneficiárias as centenas de pessoas que foram estimuladas a participar do quebra-quebra de 2023.
Lula tenta disfarçar junto a militância a sua independência em relação à ajuda dada pela sua base aliada para que a "anistia nutella" fosse aprovada. Tudo fez parte de um acordão político, do qual participou o próprio STF ao dar o seu "nada obsta" às mudanças legais "in bonam partem". O líder petista no Senado, Jacques Wagner, confessou ter articulado o acordo. A aprovação era inevitável, ainda que seja contra o mérito do texto, justificou. Em troca de não travar a tramitação do projeto, conseguiu apoio para acelerar outro projeto, este de alto interesse do governo. Aquele que corta incentivos fiscais e eleva a tributação de bets, fintechs e de juros sobre o capital próprio. A manobra vai dar mais R$ 20 bilhões para a equipe econômica fechar as contas do ano, e evitar as perigosas "pedaladas" que custaram o mandato de Dilma. Lula sabe que o seu veto terá o alcance de um cuspe. Será rejeitado pelo Congresso.
Outro presente de Natal para Lula foi o resultado da pesquisa Quaest recém-divulgado, sobre a candidatura de Flávio Bolsonaro. O filho Zero-1 foi aceito pelo eleitorado e está em situação melhor do que a do governador Tarcísio de Freitas, antes o favorito. Essa performance agradou a todos, inclusive ao próprio Lula. Foi como se dissesse: "É esse mesmo que a gente quer". O Centrão nunca deixou de manifestar preferência pelo governador de São Paulo. Seria "o mais forte" para concorrer com Lula, sem aquele carimbo do nome Bolsonaro.
Surpreendidos pelo fator Flávio, se dispõem agora a lançar Ratinho Junior, governador do Paraná ou então Romeu Zema, governador mineiro. O primeiro é líder do PSD, partido forte e bem estruturado. Além disso aparece muito bem nas pesquisas. Seria a "terceira via" contra o lulismo e o bolsonarismo. O eleitorado estaria cheio de tanta polarização e disposto a encontrar um novo caminho. Pela lógica petista, o Centro dividirá os conservadores no primeiro turno. No segundo turno, se lá não chegar, o Centrão volta a se compor com Lula para continuar no governo. Hipótese que os centristas não descartam: "Vamos que a terceira via pegue".
Flávio já percebeu a jogada. "Sou o Bolsonaro mais equilibrado, centrado..." Quer representar a família, honrar o pai, mas também mostrar que tem luz própria com a vantagem de ser um homem cordato. A família nunca quis Tarcísio. O governador paulista, se ganhasse, com toda certeza indultaria Bolsonaro. Só que, uma vez presidente, politicamente Bolsonaro morreria. Tarcísio trataria de fortalecer a sua própria identidade, deixando o padrinho de ontem para a poeira da história.
Outro problema: Pesa sobre o filho Zero-1 uma rejeição que apavora. Seis em cada dez eleitores não votam nele.
Com a nova dosimetria aprovada e a diminuição da pena de Jair Bolsonaro, os 5 anos e 11 meses que deveria permanecer preso em recinto fechado cai para 3 anos e 3 meses, no regime mais brando. A depender da aplicação judicial a redução pode chegar a pouco mais de 2 anos em recinto fechado.
A Primeira Turma do STF acaba de condenar os últimos réus da ação penal do golpe de estado (Núcleo 2). Entre os apenados, um general e o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal. Foram julgados por editar a chamada minuta golpista e pelo monitoramento e proposta de assassinato de autoridades - Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Das 1.743 ações penais autuadas, 615 trataram de crimes mais graves e 1.115 envolveram delitos de menor gravidade. Faltam ainda os investidores da trama golpista.
Quem pagou a baderna?
O processo da tentativa de golpe nem terminou e o Poder Legislativo já atenua as penas.