Enquanto motoristas de Uber perguntam ao passageiro qual é o destino, médicos escutam um corpo por vez, psicólogos acompanham lentamente uma psique, juízes de direito pesam caso a caso, e cabeleireiros cultivam a estética singular de cada cliente, o professor é condenado à multidão!
Todos os outros profissionais podem se dedicar ao indivíduo, à pessoa humana; já o docente é forçado a falar a muitos, sufocado pelo regime da massificação escolar e universitária. O resultado é um monólogo compulsório, onde a voz da singularidade do aluno se dissolve no coro ruidoso da turma.
A educação, que poderia ser um diálogo sobre destinos e trajetos (privilégio do Uber), transforma-se em discurso generalista, incapaz de cuidar da beleza possível a uma cabeça (privilégio do cabeleireiro), da justiça avaliativa que aprova ou reprova um a um com a devida atenção (privilégio do juiz), do autoconhecimento, amadurecimento e saúde de cada ser humano (privilégio do psicólogo ou médico).
A escola "moderna" converte o professor em um motorista de ônibus: conduz todos de uma só vez, vinte ou trinta por viagem, sem tempo para conversar e descobrir o itinerário real de cada passageiro. Desumaniza o estudante, que vira apenas número, quantidade, excesso. "Não converse com o motorista!" — eis a mensagem tácita que ecoa, hoje, dentre as paredes de muitas escolas e faculdades brasileiras: não converse com o professor!
Ora, ensinar de verdade seria mais próximo de guiar como um socrático Uber: perguntando ao aluno para onde ele realmente quer ir, debatendo sobre qual trajeto é o melhor, se no momento o estudante precisa de diálogo ou de silêncio.
A pedagogia do futuro, se ousar nascer, terá de reconciliar o coletivo com o singular, libertando o educador da solidão ruidosa da massa para promover-lhe o poder profissional e ético do diálogo personalizado.