OPINIÃO

Perda de fiéis é desafio do futuro Papa

Por Zarcillo Barbosa | O autor é jornalista
| Tempo de leitura: 3 min

O Papa Francisco morre sem completar a grande reforma que pretendia. Pelo menos deixa uma Igreja melhor do que encontrou, saneada, mais presente e influente, comprometida com os pobres, pacifista e preocupada com o meio ambiente.

Agora, o colégio cardinalício enfrenta o grande desafio de encontrar um substituo que dê continuidade a obra de Francisco. Nos 12 anos que durou seu pontificado, Jorge Maria Bergoglio, jesuíta argentino na origem, criticou os excessos do capitalismo liberal, não teve medo de dialogar com os ditadores ateus e incomodou a extrema direita.

Saiu em defesa dos refugiados e dos imigrantes, convertidos em os novos párias da Terra. Deixou claro que a pobreza e a desigualdade não são causas naturais. Teve também a sua "guerra" particular com os irmãos que se perderam na concupiscência. Achou que estava na hora do Vaticano agir em vez de acobertar escândalos de abusos sexuais. Centenas de padres e dezenas de bispos perderam a batina. Entre eles, os todo poderosos cardeais de Boston e Washington. O próprio representante diplomático do Vaticano em Washington (Núncio Apostólico), Carlo Maria Viganó, foi incluído na lista dos purpurados indignos.

Na Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, Francisco conclamou os jovens a serem "revolucionários". Não terem medo de ir contra a corrente. Somente com mudanças o mundo evolui e a sociedade se transforma, para melhor. Como chefe da Santa Sé, nomeou várias mulheres para postos chaves no Vaticano, com poderes para julgar e decidir. Elas desempenham funções parecidas com as de ministro de Estado.

Poderia ter avançado mais, como um verdadeiro "revolucionário", mas não passou de conservador a respeito do papel da mulher, lá no altar. Os homossexuais tiveram palavras de compreensão por parte do Papa, como "filhos de Deus" que não devem ser repelidos pela família e, muito menos pela Igreja. Silenciou quanto a possibilidade dos casamentos afetivos no altar de Deus.

A eleição de Francisco em 2013, fazia parte da estratégia para a reconquista dos fiéis (mas não tanto), perdidos para os evangélicos na América Latina. O povo pobre das periferias urbanas precisa sentir a proximidade da Igreja, seja no socorro das suas necessidades mais urgentes, como também na defesa dos seus direitos e na promoção de uma sociedade fundamentada na justiça e na paz. Bergoglio contou, em entrevista no Brasil, que soube de paróquia na Argentina há 20 anos sem um padre. Sentindo-se desamparados, os paroquianos procuravam o pastor para a intermediação religiosa, embora preservassem a imagem da Virgem no oratório de casa.

Os números oficiais indicam um crescimento vultoso dos pentecostais na América Latina. No Brasil, nos últimos dez anos, 20 milhões de pessoas deixaram de se declarar "católicos".

Há vaticanólogos que recorrem a conceitos weberianos de sociologia da religião, para relativizar essa fuga em massa. Seria falta de carisma dos sacerdotes, que Weber conceitua como "um dom pura e simplesmente vinculado à pessoa que por natureza o possui e que por nada pode ser adquirido".

Pelo menos, depois de 500 anos de laços com a igreja romana, temos a primeira santa genuinamente brasileira, Irmã Dulce, "o anjo bom da Bahia", canonizada pelo Papa Francisco. Tivemos o primeiro santo, Frei Galvão, das pílulas milagrosas, canonizado por Bento XVI em 2007. Outros sete beatificados, entre eles o padre José de Anchieta, nascido em Tenerife, Espanha, aguardam canonização. Teme-se que os brasileiros precisem de santos natos para pedir proteção. Terminado o luto, teremos o Conclave (com-chave), com o maior número de cardeais da história fechados na Capela Sistina para eleger o novo Papa. A maior parte deles foi nomeada pelo próprio Francisco. A eleição de um conservador seria um retrocesso. Há quem aposte na volta de um italiano ao papado, entre os cinco que estarão presentes, todos progressistas.

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