A Quaresma é um período de 40 dias apresentado pelos cristãos como preparação para a Páscoa, a celebração da Ressurreição de Jesus Cristo. Esse tempo é marcado por práticas de jejum, oração e esmola, inspiradas no exemplo de Jesus, que passou 40 dias no deserto em jejum e oração antes de iniciar sua missão pública.
ORIGENS E HISTÓRIA
A Quaresma teve sua duração formalizada no século IV, quando a Igreja percorreu um período de 46 dias de preparação (40 dias de jejum, excluindo os domingos, que são vistos como celebrações da Ressurreição). Inicialmente, era um tempo para os cristãos se dedicarem ao arrependimento, seguindo exemplos do Antigo Testamento, como os jejuns em saco e cinzas descritos em Jeremias 6.26 e Daniel 9.3. Com o passar dos séculos, porém, a Quaresma ganhou um caráter mais "sacramental" para alguns, sendo vista como uma forma de conquista ou méritos espirituais - uma interpretação que contrasta com o ensino bíblico de que a graça é um dom imerecido.
PRÁTICAS QUARESMAIS
A Quaresma começa na Quarta-feira de Cinzas, quando os fieis católicos recebem cinzas na testa como sinal de penitência, e termina no Domingo de Páscoa. Durante esse período, os cristãos são encorajados a praticar a moderação e a autonegação. Isso pode incluir jejuns de alimentos como carne ou doces, ou a renúncia a hábitos como fumar, assistir televisão ou usar redes sociais. Essas seis semanas de autodisciplina buscam promover a reflexão e o crescimento espiritual.
No entanto, Jesus enfatizou a discrição no jejum. Em Mateus 6.16-18, Ele instruiu seus seguidores a não exibir tristeza ou buscar reconhecimento público ao jejuar, mas a agir naturalmente para que a prática fosse conhecida apenas por Deus. Essa orientação levanta questionamentos sobre gestos públicos, como a imposição de cinzas, que podem ser interpretadas como projeções visíveis de piedade.
SIGNIFICADO E REFLEXÃO
A prática quaresmal convida os fiéis a meditarem sobre a morte e a ressurreição de Jesus e a se arrependerem de seus pecados. O jejum e a renúncia são ferramentas valiosas para isso, mas o arrependimento, uma vida de pureza, a busca pela santidade, a prática da santificação não devem se restringir a esse período. A Bíblia ensina que a vida cristã é um processo contínuo de transformação. Passagens como 1 Tessalonicenses 4.4 ("Cada um aprenda a controlar seu próprio corpo de maneira santa e honrosa") e 2 Pedro 1.5-11 ("Façam todo esforço para suplementar a fé") destacam a responsabilidade ativa do cristão em buscar a santidade diariamente. Há um equilíbrio necessário entre o papel passivo - confiar na graça e na obra de Deus - e o ativo - esforçar-se pela disciplina espiritual. Focar apenas na renúncia pode levar ao legalismo e ao orgulho religioso, enquanto ignorar a disciplina pode resultar em imaturidade espiritual. A Quaresma, quando bem informado, pode ser um lembrete anual desse equilíbrio, mas não deve ser o único momento de crescimento na fé.
CONCLUSÃO
A Quaresma é uma tradição significativa, mas seu valor depende da intenção de quem a pratica. Ela não é um meio de "ganhar" o favor de Deus - pois Seu amor e graça são plenos e incondicionais - nem uma oportunidade para exibir sacrifícios pessoais. Em vez disso, pode ser um convite à reflexão, ao arrependimento e à renovação, desde que inserido em uma vida cristã consistente. Como Filipenses 1.6 afirma, "Aquele que começou a boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus." Assim, a Quaresma pode ser um momento especial para alguns, mas a santificação é uma jornada diária.
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