O Evangelho da santa Missa deste domingo, Lc 6,39-45, é continuação do Sermão da Planície de São Lucas. Entre os ouvintes estão os apóstolos, os discípulos/as e grande multidão de gente de Jerusalém, Tiro e Sidônia. Nesta parte do Sermão Jesus queria advertir os seus discípulos quanto à vida comunitária, ao viver em comunhão com os irmãos e irmãs de fé. Assim sendo, Jesus:
- refletia sobre a questão do relacionamento mestre-discípulo no seio da comunidade cristã. Falava com toda clareza que bom mestre é aquele que é ajuizado, prudente, observador atento e respeitoso e não cego, e que bom discípulo é o que aceita o seu convite à coerência no proceder conforme os seus ensinamentos, bem como à prudência no julgar e à compreensão para com os outros.
- dizia que o mestre deve ter suficiente lucidez nas coisas do Reino de Deus para não se tornar um guia cego, pois, se ele estiver desorientado, desorientará também o discípulo, isto é, o levará à igual cegueira. Então o discípulo não evoluirá para alcançar inclusive maior perfeição do que a do mestre, mas ao fim de tudo o máximo que obterá será uma mera igualdade com ele, ou seja, igual desorientação ou cegueira.
- acentuava que será hipócrita querer corrigir o outro enquanto os próprios defeitos são ignorados, uma situação comparável a daquele fariseu que vê o cisco no olho do irmão e, intrometido, ele quer tirá-lo, mas não percebe a sujeira que há no seu próprio olho.
Ainda no dizer de São Lucas, Jesus apontava para as ações concretas que deverão ser praticadas por todo discípulo no seu dia a dia, tais como:
- julgar as pessoas olhando as coisas boas que saem do bom tesouro do seu coração, pois segundo os seus frutos é que se avalia se uma árvore é boa ou ruim, tendo presente que não se colhem figos de espinheiros nem uvas de uma planta espinhosa, pois tal árvore tal fruto.
- reconhecer o valor de uma pessoa por aquilo que ela produz, pois os critérios que decidem não são de ordem familiar, social, de fama, de riqueza, mas dependem dos frutos que se revelam em palavras e obras, mediante boas ações de libertação e salvação, que valem por seu conteúdo de valor interior, pelo que está dentro no coração da pessoa.
- assemelhar-se ao mestre, sendo discípulo fiel que segue o mestre por onde ele for, faz a escuta do Evangelho, nele medita todo dia, e, antes de sair em missão primeiramente aplica a sua mensagem a si mesmo, deixando-se evangelizar e converter-se pessoalmente, a fim de falar como Jesus falava, como quem tem autoridade.
- esforçar-se para corrigir os próprios defeitos, pois se alguém quiser corrigir os outros primeiramente corrija-se a si mesmo, antes de converter os outros tem de converter-se a si próprio.
- fazer o bem sobretudo em favor dos pobres, os famintos, os abatidos, isto é, os bem-aventurados do Sermão da Planície e da Montanha.
Que estas orientações de Jesus sirvam ainda hoje tanto para os dirigentes de nossas comunidades como também para nós irmãos e irmãs na fé.