O Evangelho da santa Missa deste domingo, Lc 27-38, é continuação do Evangelho do domingo passado que trouxe a primeira parte do Sermão da Planície. Esta continuação diz referência à segunda parte daquele discurso, dirigido por Jesus à multidão de pessoas, incluídos os Doze e os discípulos/discípulas. Jesus aprofunda as consequências das bem-aventuranças; fala da superação da lei de talião; convida a todos ao amor que está no centro da mensagem cristã e tem Deus por modelo; exorta-os a nunca julgar ninguém. Em primeiro lugar coloca o amor aos inimigos, a seguir faz uma bela e profunda introdução a todas as outras exortações contidas no texto.
"Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, orai por aqueles que vos difamam. A quem te ferir numa face, oferece a outra; a quem te tomar o manto, não recuses a túnica. Dá a quem te pedir, e não reclames de quem te tirar o que é teu. Como quereis que os outros vos façam, fazei também a eles" (vv.27-31.37).
Em resumo, Jesus diz que os que estão dispostos a escutar o Evangelho tem a obrigação de amar os próprios inimigos, fazer-lhes o bem, não os odiar. Devem também falar bem deles e não mal. Orar por aqueles que nos maltratam; dar a quem nos pede sem esperar retribuição. E não julgar a ninguém (cf. vv.27-30.37).
A regra de ouro que sintetiza toda a sua pregação é: "Como quereis que os outros vos façam, fazei-o vós também a eles" (v.31). Conforme se vê é um autêntico presente pleno de sabedoria que Jesus fez sublinhando as motivações do amor pessoal e ilimitado (cf. vv.32-35).
Em suma, o amor que nos é exigido leva-nos a seguir as pegadas do Messias, amando a todos. Ressoa aqui o que Jesus diz em Jo 13,34: "Como eu vos amei, também vós deveis amar-vos uns aos outros". Segundo São Lucas, somos chamados a "Amar como Deus nos amou. O critério do agir de Deus é que ele não nos trata segundo nossas faltas, mas ama a todos com amor eterno e sem limites. A medida do amor de Deus é não ter medida, até deixar-se crucificar por amor da humanidade. Soa-nos fortemente a oração de Jesus no alto da cruz: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34).
Alcançar um nível de amor como Jesus nos pede é uma graça. Cabe-nos suplicar a Deus com humildade essa graça, sabendo que não somos dignos dela por merecimento próprio, mas porque Ele nos reconhece como a seus filhos nos ama de graça. "A fim de ouvirmos a voz do Espírito e colocarmos em prática o mandamento novo de Jesus - "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 13,34) - temos necessidade do auxílio do Pai da Misericórdia.
O santo Padre o Papa Francisco vem dizendo que a misericórdia divina faz pare do núcleo da mensagem bíblica, é fundamento do Evangelho, brota e flui do coração da Trindade Santa, do íntimo mais profundo do mistério de Deus. Convida a todos os que tiverem necessidade a se abeirarem desta fonte e a acederem a ela, porque a misericórdia de Deus não tem fim e a sua compaixão nunca se esgota (cf. O Rosto da Misericórdia, n.25).
"Pai clementíssimo, que no vosso único Filho nos revelais o amor gratuito e universal, dai-nos um coração novo, para que nos tornemos capazes de amar também os nossos inimigos e abençoar os que nos fizeram mal. Amém".