O texto de Filipenses 4:8 nos convida a ocupar nossa mente com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e de boa fama. Esse princípio é fundamental para a maturidade cristã, um tema central no livro "As Coisas da Terra" de Joe Rigney. Muitos cristãos ao longo da história, como ascetas e monásticos, buscaram uma espiritualidade extrema, rejeitando prazeres terrenos. Ainda hoje, alguns sentem culpa por desfrutar das bênçãos terrenas de Deus, a lista pode ser longa. No entanto, como afirma o autor, sentir culpa por algo que Deus não considera pecado é, em si, um pecado.
Deus criou todas as coisas para nosso prazer: família, amigos, música, trabalho, comida, esportes e a natureza. Tudo vem Dele e é sustentado por Ele. Assim, o material também é espiritual, pois foi criado pelo Deus espiritual. Deus ama a matéria, ele próprio a criou. John Piper chama isso de "Hedonismo Cristão", enfatizando que Deus é mais glorificado quando nos alegramos Nele. O desafio é encontrar o equilíbrio: desfrutar com santidade, responsabilidade e moderação. Como diz 1 Timóteo 6.17, Deus nos dá todas as coisas para delas gozarmos, mas sem transformar essas dádivas em ídolos.
O perigo da idolatria surge quando aquilo que deveria ser secundário ocupa o centro do nosso coração. O lazer, o trabalho ou qualquer outro bem não podem substituir o amor a Deus. A Bíblia nos exorta à abnegação, mas sem desprezar as bênçãos divinas. João Calvino alerta que menosprezar as dádivas de Deus é um insulto a Ele. Assim, evitamos dois pecados extremos: ingratidão e idolatria. Muitos cristãos não reconhecem a bondade de Deus e outros tornam Suas dádivas mais importantes do que o próprio Doador. Como disse C.S. Lewis: "Se pusermos as primeiras coisas em primeiro lugar, teremos as segundas a seguir. Se pusermos as secundárias em primeiro lugar, perderemos ambas".
O autor do livro faz uma analogia entre Deus e um escritor. Deus é o Criador da história e, ao mesmo tempo, insere-se nela, interagindo com Sua criação. Calvino descreve o mundo como o grande palco de Deus, onde Ele dirige cada cena. Nada escapa do Seu controle, e Ele participa ativamente da nossa história. Essa visão nos conduz a um entendimento mais profundo da criação. Como Stênio Marcius ilustra em sua música, Deus é o Tapeceiro que entrelaça os fios da vida com propósito e perfeição.
Tudo o que Deus criou é bom e deve ser desfrutado, mas sem cair no erro do panteísmo, que confunde Deus com a criação. Deus está presente na criação, mas é distinto dela. Tomás de Aquino usou o conceito de "Pericorese" para descrever a relação harmoniosa entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Da mesma forma, há uma relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana, um entrelaçamento misterioso entre os propósitos de Deus e as decisões humanas.
Muitos cristãos sentem culpa por não amarem a Deus perfeitamente, mas nossa jornada de fé é um processo contínuo. Nosso amor por Deus, embora limitado, deve ser real e em constante crescimento. Deus nos dotou de criatividade, imaginação e sabedoria para desfrutarmos do mundo que Ele criou. Cada sentido que temos - visão, audição, olfato, tato - nos foi dado para apreciarmos a beleza da criação. No entanto, qualquer coisa pode se tornar um substituto de Deus se não tivermos cuidado.
O valor da criação não é autônomo, mas derivado de Deus. Como Jesus disse em Mateus 10.29-31, valemos mais do que os pardais. Há uma hierarquia de valores: pessoas são mais importantes do que posses. O amor por Deus e pelo próximo deve estar acima de tudo. Aproveite a vida conforme Deus lhe concede, dentro dos limites que Ele proporciona. No entanto, nunca faça das bênçãos de Deus um rival Dele. Afinal, Ele não divide Sua glória com ninguém (Isaías 42.8).
IGREJA BATISTA DO ESTORIL
62 anos - Soli Deo Gloria