COLUNISTA

As bem-aventuranças x as mal-aventuranças

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

No Evangelho da santa Missa deste domingo, Lc 6,17.20-26, São Lucas conta que Jesus, com os Doze e os Setenta e dois discípulos/discípulas, desceu da Montanha e, parando num lugar plano, se encontrou com uma multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. Levantando os olhos, Jesus proclamou a esse povo o grande discurso das Bem-aventuranças, a Carta Magna do Reino, o núcleo central do Evangelho, também conhecido como o Sermão da Planície. O Sermão da Planície de São Lucas (Lc 6) é semelhante ao Sermão da Montanha de São Mateus (Mt 5-7), com diferenças específicas: A mensagem é a mesma, contudo Lucas a apresenta de forma mais abreviada e realista, não suavizando a mensagem; os ouvintes, porém, são distintos, em Lucas é a multidão de pessoas e em Mateus são os discípulos; Lucas disse que Jesus desceu da montanha para a planície para ressaltar que lá a missão acontece e de lá os discípulos serão enviados à missão (cf. Lc 9,1-6). No seu Evangelho São Lucas apresenta quatro bem-aventuranças que são contrapostas a quatro "Ai de vós" ou mal-aventuranças. Para Lucas bem-aventurados são em resumo os pobres, os famintos, os que choram vítimas da espoliação dos poderosos e os que sofrem por causa de sua fé no Filho do Homem. Estes são bem-aventurados porque serão ricos de Deus, serão saciados, haverão de rir, vencerão a dor, verão reinar a justiça de Deus. Para estes a sua mensagem é de bem-aventurança e bênção aqui neste mundo e de grande recompensa no céu. Este é o caminho do bem e dos justos. No entanto, desfavorável é a sua mensagem para os ricos, abastados, saciados, gozadores de uma vida boa, insensíveis a todos os necessitados nesta vida. Jesus proclamou essa mensagem como uma ameaça, na expressão do "Ai de vós". Este é o caminho do mal, da maldição e dos ímpios. Esta maneira de contrapor os felizes com os infelizes, os bem-aventurados com os mal-aventurados, faz eco ao Cântico de Nossa Senhora, no seu Magnificat: "O Senhor estende sua mão poderosa e derrota os orgulhosos com todos os seus planos. Derruba os poderosos dos seus tronos e eleva os humildes. Dá fartura aos que têm fome, e manda os ricos embora com as mãos vazias" (Lc 1,51-53). Jesus trouxe o Reino de Deus para os pobres, sem, contudo, expulsar dele de antemão os ricos, aos quais convida à conversão. Tanto a pobres quanto a ricos Jesus propõe a humildade e a coragem de fazerem a leitura dos Evangelho. Os pobres para não se deixarem enganar pelas ilusões das riquezas deste mundo, os ricos para abrirem os olhos e avaliarem com a clareza da fé e da verdade a origem e/ou as consequências perversas de sua riqueza.

Na primeira leitura da santa Missa, Jr 17,5-8, o profeta Jeremias fala da possibilidade dos dois caminhos: o da felicidade para quem confia em Deus, comparável a uma árvore plantada à beira d'água que dará muito fruto, mesmo na seca e no calor; o da infelicidade para quem confia em outra pessoa e não em Deus, que é como quem aposta no deserto sem água e sem vida para cavar para si cisternas rachadas, que não podem conter água (cf. Jer 2,13). Conforme a segunda leitura, 1Cor 15,12.16-20, a proposta para assumirmos o caminho do desapego mediante atitudes concretas de partilha nos introduz não só numa bem-aventurança neste mundo mas nos dá a garantia de uma vida feliz no Cristo ressuscitado. Não obstante, este caminho nos faça passar pela cruz. Mas a ressurreição é certa. O garantidor da nossa ressurreição é Cristo que ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram.

Portanto, é feliz quem a Deus confia!

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