Cheguei cedo na padaria, ainda faltavam alguns minutos para abrir. Era manhã fria, com vento. Esperei dentro do meu carro, agasalhado, e o ar-condicionado, na posição de quente. Percebi na penumbra o que parecia ser um pessoa, o lusco fusco impedia real definição...
Nisso a padaria já abria, e pude ver com imensa tristeza uma pessoa, uma mulher, sentada, com roupas rotas, sujas, que mal encobriam, seu corpo. Os pés sem calçado, sem meia! Chorava compulsivamente, misturando, tristeza, talvez uma enfermidade, dor e sofrimento. Cheguei a ela e perguntei, como sempre pergunto aos que ali esperam que alguém lhes dê algo que comer, para esquentar a alma e o corpo: "quer um café com pão com manteiga?
Ela me olhou, olhos sofredores marejados de lágrimas, estendeu a mão suja, como súplica e mostrou um pãozinho sujo, velho, falando que já tinha o alimento do "dia", mas queria "um docinho"... fazia tempo que ela não comia um.
E eu, reclamando do meu carro velho, das dificuldades da vida, das enfermidades próprias da idade, chorei também, sem antes, porém, de receber um tapa de pelica. Comprei pão, café e um grande pedaço de doce de leite. Quando ela viu, não sabia como agradecer, mãos postas, genuflexa, fez pequena oração de agradecimento.
Deus nos mostra as coisas, às vezes temos dificuldades de ver, de ouvir súplicas, mas nos é mostrado diariamente. Parei de reclamar de imediato, e agradeci por tudo que tenho, seja material ou espiritual. Procure mudar devagar para o bem, procure ajudar hoje, pois amanhã talvez cheguemos no porto da desencarnação, e perceberemos que vivemos sem entender que poderíamos morrer, e morremos sem ter vivido. Olhe e veja os invisíveis não com dó, mas com compaixão.
O autor é colaborador de Opinião