OPINIÃO

Lula fecha a matraca

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

"No Brasil até o passado é incerto". Presidente do Banco Central e Ministro da Fazenda na passagem para o século 21, Pedro Malan quis chamar a atenção para os erros na área econômica, que se repetem como se nunca tivessem ocorrido. Nos anos 1980, a inflação no Brasil chegou a inimagináveis 1.900%, por causa da mania dos governos, de gastarem mais do que é possível arrecadar. Em 1990, quem à época já se entendia por gente, viu os preços subirem no mesmo dia, chegando a quase 84% em um só mês.

O caos econômico foi estancado com o Plano Real, agora lembrado nos seus 30 anos. Durante alguns meses, tivemos uma moeda mais valiosa que o dólar americano. Os sucessivos governantes e o próprio povo, foram perdendo a memória inflacionária. Esquecemos da importância vital do equilíbrio entre arrecadação e despesa. Com a nota de cem reais lançada em 1994, hoje compramos o mesmo que R$13,91 naquela época.

Outro ex-ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen (1974-1979), cansou de alertar os generais ditadores: "A inflação aleija, mas o câmbio mata".

Lula já se destacava como líder sindical. Lutava pela reposição do poder de compra dos salários, com justas compensações das perdas inflacionárias. A deterioração do valor da moeda corrente é o pior dos impostos, por atingir, justamente, os mais pobres. Infelizmente, Lula se esqueceu das consequências dos gastos desmedidos. Perde a chance de passar à história como o metalúrgico-estadista. O arcabouço fiscal foi modificado antes de completar um ano de vigência. Lula prefere agir em favor da próxima eleição, em vez de pensar na próxima geração, conforme o surrado - mas verdadeiro - conceito norte-americano do século 19.

O equilíbrio do planejamento orçamentário entre impostos e taxas arrecadados, por um lado, e a necessidade das políticas públicas mais prementes, por outro, cede lugar ao cálculo de ganhos e perdas diante das urnas de 2026. Para usarmos um passado recente, lembramos a piora do padrão da política fiscal que resultou na crise de 2014-2016, caracterizada por uma expansão sem precedentes do endividamento público. O descumprimento das regras fiscais e suas consequências produziram o impeachment da presidente Dilma Roussef.

Esse episódio deveria ter sinalizado que, no Brasil, o mau uso do dinheiro público tem consequências políticas e que a política fiscal deve estar submetida a regras.

Depois da disparada do dólar e a aceleração dos preços dos alimentos e serviços, Lula decidiu ouvir o ministro Fernando Haddad e o clamor do ex-ministro de Dilma, Guido Mantega. O autor das tais "pedaladas fiscais" que o levou a usar tornozeleira eletrônica, parece ter alertado: "Sai dessa, Lula!" O presidente, no final do mês passado ouriçava o mercado lançando dúvidas - "Problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação". Na quinta-feira veio com uma fala mais apaziguadora, ouvido os companheiros: "Nesse governo a gente aplica dinheiro necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra, é compromisso desse governo desde 2003 e a gente manterá ele à risca". Ah, bom.

Cortar gastos ou aumentar a arrecadação é um falso dilema. Ambos têm que ser atacados ao mesmo tempo. Aumentar a arrecadação não significa aumentar impostos, e sim, cobrar de quem não paga, reduzindo as injustiças tributárias. Combater fraudes. Recebimentos indevidos na Previdência. Se o presidente demonstra que não está disposto a fazer cortes significativos no orçamento, agravados por declarações contra o Banco Central, o dólar sobe, porque é o refúgio seguro.

Investimentos privados é que movem o crescimento econômico. Para que isso aconteça é preciso um ambiente de negócios favorável, com políticas fiscais previsíveis.

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