O valor até 90% maior pago pelo secretário Nilson Ghirardello, titular da Educação de Bauru, na compra dos uniformes da rede municipal de ensino continua sem explicação.

Nesta terça (11), durante audiência pública que discutiu a aquisição, Ghirardello aventou mais de uma hipótese para tentar justificar os preços. Mas não bateu o martelo sobre nenhuma delas. O encontro aconteceu na Câmara Municipal e foi convocado pela vereadora Estela Almagro (PT), presidente da Comissão de Fiscalização e Controle.

Também participaram Coronel Meira (Novo), Chiara Ranieri (União Brasil) e Guilherme Berriel (PSB).

Ghirardello disse a princípio que o governo não poderia interferir nos valores porque a cotação é encaminhada pelos próprios fornecedores.

Depois, questionado sobre por que a mesma empresa que forneceu o material no ano passado por um preço muito menor vendeu a Bauru por valores superiores em 2024, o secretário começou a levantar hipóteses.

Sugeriu, por exemplo, que a fornecedora apresentou valores baixos no ano passado somente para ganhar a licitação.

Depois, afirmou que o preço pode ter sido mais alto neste ano porque a quantidade adquirida foi maior - segundo ele, o fato de a pasta ter comprado uniformes para professores e servidores pode ter encarecido o valor.

Na sequência aventou a possibilidade também de que outros requisitos podem ter entrado nessa conta, como os custos de entrega "ponto a ponto", por exemplo.

Não confirmou nenhuma dessas possibilidades, no entanto, e tampouco convenceu os parlamentares que participaram da audiência.

O secretário foi questionado sobre se a pasta tem algum controle sobre a qualidade dos uniformes adquiridos - que tem sido questionada por pais de alunos - e afirmou que não há nada nesse sentido.

Disse também que esse trabalho pericial já está sendo realizado pelo Ministério Público (MP) de Bauru, que, como noticiou o JC, solicitou a elaboração de um laudo sobre se a composição das peças está de acordo com o edital.

As calças, por exemplo, foram vendidas no ano passado por R$ 31,98 a unidade. Neste ano custou R$ 60,90 aos cofres públicos municipais. Foi o produto com maior aumento percentual, com salto de 90,43% entre 2023 e 2024. Índices semelhantes de aumento ocorrem com quase todos os outros itens.

O secretário voltou a dizer que a qualidade dos uniformes tem sido aprovada pelos pais de alunos e que essa informação teria sido repassada por diretores de unidades de ensino.

Mas não soube dizer as reuniões a partir das quais essas informações foram repassadas são registradas em ata.

DESCARTE

Idealizadora da reunião desta terça, a vereadora Estela Almagro também indagou Ghirardello a respeito da recente orientação do governo para que os diretores de escola recolhessem todo e qualquer uniforme ainda remanescente nas instituições de ensino.

Ghirardello afirmou que o recolhimento das peças se deve "a uma certa desconfiança de que diretores ou professores de escola estivessem jogando uniformes fora".

A declaração vem na esteira das recentes descobertas de uniformes encontrados em sacos de lixo em diferentes pontos de Bauru. "Me parece descabido achar que são diretores ou professores", reagiu a vereadora Estela.