OPINIÃO

Lula quer que o superávit se dane

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

Ao longo da história, nenhum governo liberal ou socialista conseguiu, sem graves consequências, ignorar o método de gestão baseado no cartesianismo, segundo o qual só existe o que pode ser medido e provado. Desde René Descartes (1596-1650), ninguém inventou nada.

Em matéria financeira, é preciso obedecer a lógica do dinheiro contado, em caixa ou em créditos, para poder gastar. O presidente Lula parece não acreditar no que qualifica de "teoria acadêmica". Chegou a dizer que o seu ministro da Economia, Fernando Haddad, anda lendo demais ao perseguir "déficit zero" para o ano que vem, o que jamais será alcançado.

A dívida pública do Brasil, bruta, atinge 76% do PIB, e continua crescendo. É coisa de 8 trilhões e 400 bilhões de reais, considerando-se a soma do que devem os governos federal, estaduais, municipais e INSS.

O presidente da República, responsável maior pelo gerenciamento das contas, acha pouco. "O que é que tem?". Os Estados Unidos devem 125% do PIB, o Japão 264% e o Canadá 107%. Com esses exemplos, Lula crítica os ministros da área por confundirem "investimento" com "gasto".

A ministra do Planejamento Simone Tebet, tornou-se figura ignorada dentro do governo, pois do seu Plano Plurianual ninguém sabe o conteúdo. Tebet sonha com R$ 4 trilhões de investimentos privados para a tão desejada infraestrutura do país, procura orientar a macroeconomia para incrementar políticas públicas que caibam no orçamento, mas não é considerada.

Os velhos projetos da indústria naval, de novas refinarias petrolíferas, de ferrovias que redundaram em desperdícios, estão ressuscitando no Lula 3. Nem a política alimentada com bilhões de reais distribuídos a deputados e senadores dentro do conceito "toma-lá-dá-cá" tem dado certo, como comprova a derrubada de 13 vetos no Congresso - um deles cancelava R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares. A besta tornou-se insaciável.

Como o presidente não pode derrubar deputados e senadores, ele se limita a demitir seus ministros. Por enquanto, perderam o cargo, de forma humilhante, os ministros Alexandre Silveira e Rui Costa, respectivamente das Minas e Energia e Casa Civil, mais o presidente da Petrobrás Jean Paul Prates. No primeiro ano do segundo mandato, em 2007, houve 11 trocas no Ministério. Segundo os meios políticos, o Deus do Velho Testamento está de volta - "aquele que fulmina com um raio".

Estamos em ano eleitoral e o PT de Lula precisa se fortalecer nas grandes cidades, para poder assegurar bases de apoio à sua reeleição. Com a queda da popularidade e da avaliação como presidente da República, Lula precisa gastar, ou melhor, "investir".

Dane-se o tal superávit primário, que só acontece quando as receitas superam as despesas, sem considerar o pagamento de juros da dívida pública. O governo precisa, este ano, de 250 bilhões de reais para fechar as contas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais pessimista pela análise dos seus economistas e observadores equidistantes. Prevê 86,7% de déficit em relação ao PIB, e novas altas nos próximos cinco anos. Sem um esforço fiscal mais ambicioso e contínuo, tudo fica mais difícil. Os investidores internacionais se afastam e o empreendedorismo local se desmotiva.

Ninguém quer pôr dinheiro bom em coisa capenga. O resultado negativo se manifesta pela inflação, dólar em alta, real desvalorizado, alimentos mais caros, queda da produção e povo empobrecido.

A comparação que Lula faz com a dívida de países ricos não serve para justificar a do Brasil. Estados Unidos, Japão e Canadá têm moedas muito mais fortes, economia infraestrutura e meios de produção consolidados, além de trilhões de dólares de reservas em ouro e moedas fortes.

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