ENTREVISTA DA SEMANA

Ariani Queiroz de Sá: na luta pela inclusão

Ela é assistente social e ativista dos direitos das pessoas com deficiência, com décadas de atuação

Por Guilherme Matos | 19/05/2024 | Tempo de leitura: 5 min
da Redação

Guilherme Matos

Ariani começou a atuar na luta pelos direitos da pessoa com deficiência na década de 90
Ariani começou a atuar na luta pelos direitos da pessoa com deficiência na década de 90

No começo da década de 90, Ariani Queiroz de Sá se deu conta de seu papel social. A partir de então, ao longo dos anos, tornou-se defensora fervorosa dos direitos das pessoas com deficiência, uma luta que trava até hoje, enquanto inspira outras pessoas com sua trajetória. Apaixonada pelo esporte e pelas artes, entrou em quadra para jogar tênis de rodas e handebol, assim como também já esteve sob os holofotes para receber prêmios por sua militância e, ainda, apresentar espetáculos de dança.

Aos dois anos de idade, ela contraiu poliomielite, uma doença que destrói células nervosas da medula espinhal e provoca a paralisia infantil. No entanto, viveu em um lar sem privilégios. "Minha mãe Adalete usou de uma psicologia que não era comum na época. Ela me tratava igual a meus irmãos e nunca me isentou das responsabilidades domésticas por conta da deficiência. Isso trabalhou muito minha autoestima", conta. Caçula da família, ela tem três irmãos: Carlos, Angélica e Alda, esta última falecida em 2013. Também viveu o luto pela partida do pai Alexandrino Vieira Sá, na década de 80.

Em casa, nunca sofreu preconceito, o que já aconteceu longe do próprio lar. Para que ninguém passe por isso, tomou como bandeira a inclusão e a acessibilidade. Ariani mora na zona norte da cidade, em um endereço onde diferentes aprendem a conviver com os 'mesmos direitos'.

No dia da entrevista, logo entrada, quem recebe a reportagem é o pequeno e agitado cão MacGyver — que "adotou" a tutora ao se enfiar, aos poucos, na casa. A garagem é decorada com plantas grandes e bem cuidadas, onde também habitam gatos. Uns mais tímidos permaneceram escondidos. Não é o caso de Mabel, que se expôs, assim com faz Ariani pelas suas causas. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

JC: Como foi o início da sua trajetória?

Ariani: Nasci na Vila Cardia, no ano de 62. Moramos lá até meus 5 anos, depois mudamos para o Jd. Bela Vista e vivemos 15 anos na mesma residência. Estudei no São Francisco e os meus colegas de colégio eram meus vizinhos. Isso me protegeu de discriminações ou bullying durante a infância. Aos 17 anos, mudamos de residência e comecei a enfrentar a discriminação. Foi uma fase difícil que coincidiu com o início das cirurgias.

JC: Como foi esse período?

Ariani: Dos meus 17 aos 21 anos, fiz nove cirurgias de correção. Foi um período bem traumático, principalmente para uma adolescente. Só aos 22 anos consegui usar sandálias e sapatos diferentes, pois antes só usava botas ortopédicas. Após as cirurgias, fiz o técnico contábil e levei uma vida absolutamente normal. Naquela época, entrei para o mercado de trabalho.

JC: Quando você começou a se envolver com a militância e a política?

Ariani: Em 1995, conheci a Graziela Nishiyama, que participava de uma organização social chamada Centro de Apoio aos D/Eficientes. Ela me fez entender a importância de me envolver na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Comecei participando das reuniões da organização, fui secretária, depois vice-presidente.

JC: Como foi sua atuação nos conselhos municipais e estaduais?

Ariani: Em 2011, comecei a participar das reuniões do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência. Em 2013, fui eleita presidente do conselho. Em 2014, passei a ser conselheira estadual e, em 2016, voltei para o conselho municipal de Bauru. Também comecei a faculdade de serviço social em 2016. Minha gestão no conselho estadual terminou em 2017 e, em 2021, fui coordenadora do conselho municipal até janeiro deste ano. Atualmente, estou envolvida novamente no Conselho Estadual e sou vice-presidente do Conselho da Mulher em Bauru.

JC: Como você avalia a questão da acessibilidade em Bauru?

Ariani: A acessibilidade não se resume a rampas de acesso. Precisamos de calçadas adequadas, intérpretes de Libras em atendimentos públicos e mais inclusão no comércio. As políticas de acessibilidade precisam ser aplicadas corretamente, e para isso, é importante ouvir e consultar os conselhos municipais e estaduais.

JC: Acredita que a representatividade de pessoas com deficiência no Legislativo é importante?

Ariani: Com certeza. A representatividade fortalece e inspira outras pessoas com deficiência a buscarem seu espaço.

JC: Você também tem uma paixão pelo esporte.

Ariani: Com a cadeira de rodas, veio a minha participação no esporte adaptado. Em 2011, com a inauguração da quadra para desportiva, conheci o Hélder Gouveia, que é professor de tênis. Ele lançou um projeto de tênis de rodas, e eu fui sua aluna desde outubro de 2011 até 2020, quando a pandemia interrompeu as atividades. Adoro o esporte e o movimento. Em 2012 participei do handebol em cadeira de rodas, uma iniciativa da Maria Amélia Teodoro. Treinávamos três vezes por semana na quadra para desportiva.

JC: Como você vê o impacto do esporte na vida das pessoas com deficiência?

Ariani: O esporte é tão agregador quanto o mercado de trabalho. Ele inclui a pessoa com deficiência, melhora a autoestima e a confiança. Quando eu estava jogando, não me sentia uma pessoa com deficiência. Era apenas eu, focada em defender as bolas como goleira no handebol ou passar a bola no basquete.

JC: E sobre sua relação com a arte?

Ariani: Participei de desfiles de moda e de apresentações artísticas, como uma dança que fiz em 2018 no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Foi uma experiência incrível, dançando ao som de uma música evangélica com meu amigo Wesley, que também é intérprete de Libras e tem um lado artístico maravilhoso.

Uma partida de basquete sobre rodas em 2015


Ariani foi homenageada em 2022 com o prêmio Luiza Mahin

Com as irmãs Angélica e Alda Queiroz de Sá, além da mãe Adalete


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1 COMENTÁRIOS

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  • Clayton. Dias
    20/05/2024
    Ariane é super ativa. A conheço da igreja Vineyard que frequentamos. Bauru assim como todas as cidades são horríveis para quem tem deficiência. Eu oer a visão do olho esquerdo e sofri demais com o péssimo estado de nossas calçadas. Fico imaginando depender em cadeira de rodas . ????