EM BAURU

Apesar do preço até 90% maior, qualidade dos uniformes da Educação não se alterou

Comparação entre dois editais mostra que itens adquiridos têm as mesmas especificações, apesar do aumento no preço

Por André Fleury Moraes | 19/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min
da Redação

Bruno Freitas

Secretário Nilson Ghirardello, titular da Educação de Bauru
Secretário Nilson Ghirardello, titular da Educação de Bauru

O aumento de até 90% no preço de determinados itens que compõem os chamados kits de uniformes escolares não se refletiu necessariamente numa melhor qualidade dos materiais adquiridos pela Secretaria de Educação de Bauru, chefiada pelo arquiteto Nilson Ghirardello.

A única mudança está nos "uniformes de verão" - cuja comparação não é possível neste momento porque a última aquisição destes itens, antes da compra de 2024, aconteceu há três anos, em 2021.

Se na negociação de 2023 o governo pagou R$ 19,43 por cada camiseta de manga longa, por exemplo, em 2024 o valor do produto subiu para R$ 32,90 - um aumento de 69,32% em números percentuais.

A comparação entre os dois editais, no entanto, revela que a qualidade dessas camisetas é exatamente a mesma e não se alterou entre um ano e outro. Foram mantidos, por exemplo, os percentuais de poliéster (75%) e de algodão (25%) para cada item. O resto também seguiu idêntico.

O mesmo vale para a análise das calças, vendidas no ano passado por R$ 31,98 e cuja unidade neste ano custou R$ 60,90 aos cofres públicos municipais. Foi o produto com maior aumento percentual, com salto de 90,43% entre 2023 e 2024.

Apesar da escalada nos valores, as características das calças também se mantiveram exatamente as mesmas, sem nenhuma alteração. Um sistema de inteligência artificial que compara semelhanças entre dois textos mostra que até mesmo eventuais erros de pontuação permaneceram inalterados na comparação dos editais.

As jaquetas também registraram aumento expressivo nos valores pelos quais foram vendidas. O produto foi repassado a R$ 59,96 em 2023. Para este ano letivo, no entanto, o governo pagou R$ 106,90 em cada unidade, num acréscimo de 78,28%.

Foi o único produto que registrou alterações entre um ano e outro. Mas foram diferenças ínfimas, de 5% a mais de poliéster, por exemplo.

Mas isso, na verdade, não representa necessariamente uma mudança. Isso porque há uma espécie de "margem de erro" sobre o percentual das características da jaqueta.

O edital de 2023 previa jaquetas confeccionadas com 60% de poliéster e 40% de poliamida. Neste ano foram 65% de poliéster contra 35% de poliamida - com tolerância de 5% a mais ou a menos nesta composição.

Enquanto isso, porém, o preço médio do algodão, segundo dados da Universidade de São Paulo (USP), caiu 50% nos últimos dois anos.

O QUE DIZ A PREFEITURA

Ao JC, a prefeitura afirmou que "todas as aquisições de materiais escolares, assim como de qualquer outro produto, é feita por licitação, na qual as empresas participantes devem apresentar as certidões exigidas por lei, inclusive para assinatura de contrato".

"Também cabe esclarecer que antes do início da licitação é feita uma consulta de preços com diversas empresas, para verificação do preço médio dos produtos que serão comprados. O município desconhece qualquer irregularidade, e fiscaliza as entregas realizadas pelas empresas contratadas, para que as especificações sejam cumpridas", completou.

A comparação entre os dois editais vem na esteira de uma declaração do titular da Educação de Bauru, Nilson Ghirardello, proferida em audiência pública que discutiu na semana passada a aquisição dos uniformes e de materiais escolares. O encontro foi promovido pela Comissão de Fiscalização e Controle, presidida pela vereadora Estela Almagro (PT).

O imbróglio se relaciona com o local de armazenamento dos uniformes. "O almoxarifado não fica com uniformes. Eles são entregues ponto a ponto nas escolas", afirmou Ghirardello naquela ocasião. No dia seguinte, Estela e a vereadora Chiara Ranieri (União Brasil) foram até o almoxarifado da Educação e encontraram mais de 800 kits de uniformes escolares. O caso não deixa de ser um desdobramento de dois episódios até o momento não esclarecidos. Na terça (2/4), 164 uniformes foram encontrados num terreno baldio na região do Núcleo Fortunato Rocha Lima. No dia seguinte, quarta-feira, outros 31 foram achados em terreno próximo à avenida Daniel Pacífico. Vereadores e prefeitura registraram boletins de ocorrência na Polícia Civil.

A prefeita Suéllen Rosim (PSD) chegou a sugerir que as roupas podem ter sido "plantadas" no local e seu assessor de gabinete, Leonardo Marcari, afirmou que o episódio é uma "armação pura" e que "não tem lógica".

Convocado a prestar esclarecimentos à Comissão de Fiscalização da Câmara, Leonardo não compareceu. Alegou que o caso está sob investigação policial e que ele não pode se manifestar.

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