OPINIÃO

Arapongagem à brasileira

Por Zarcillo Barbosa | 03/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista e articulista do JC

Espionagem e Inteligência são coisas bem diferentes. No caso brasileiro, a primeira seria a prática de obter informações de caráter secreto ou confidencial, sem autorização, para obter vantagem política. A Agência Brasileira de Inteligência, que tem ocupado muito espaço nos noticiosos da mídia, deveria tratar da segurança do Estado, da sociedade brasileira, da defesa externa e das relações exteriores. Tem a sua disposição, para cumprir a importante missão, todos os sistemas de dados públicos e privados.

Os agentes da ABIN nem perceberam os preparativos para a Festa da Selma, do dia 8 de setembro, que culminou com a invasão das instalações do Congresso Nacional, do STF e da Presidência da República.

Os órgãos de Inteligência costumam falhar feio, não só no Brasil. O Mossad, considerado o melhor do mundo, sequer desconfiou que o Hamas passou dois anos treinando terroristas e perpetrando a invasão do território israelense. Disso resultaram mais de mil mortes e duas centenas de pessoas sequestradas pelo inimigo. A KGB russa, na Guerra Fria, comeu bronha na queda do Muro de Berlim. A CIA, norte-americana, com agentes espalhados por todo o mundo, chegou a ser alertada da presença de grupos terroristas da Al-Qaeda preparando-se para agir em território norte-americano. Mesmo assim, nada foi feito para evitar a tragédia das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. Mais de 3.500 inocentes mortos.

Durante o governo Bolsonaro, segundo revelação de O Globo, a ABIN fez uso ilegal de um software desenvolvido por Israel, chamado First Mile, para monitorar, de forma ilegal a geolocalização de aparelhos celulares. Certamente para facilitar investigações sobre quem visita quem, em Brasília e as movimentações de deputados e senadores. A tecnologia israelense era apenas uma peça no esquema destinado a dar segurança ao presidente Bolsonaro. Outros aparatos e informantes em todos os órgãos de segurança garantiam a Bolsonaro saber o que estava acontecendo e assim proteger amigos, os filhos e investigar os adversários.

Acontece que, mesmo com a posse de Lula e a saída de Alexandre Ramagem da chefia da ABIN, o serviço continuou infiltrado por bolsonaristas, trabalhando contra os interesses do novo patrão. "A gente nunca está seguro" - reclamou Lula. O país agora convive com uma "salada de narrativas", como Ramagem diz ao se defender. É mesmo difícil entender as conexões. A família Bolsonaro, teve sua temporada de pesca em Angra dos Reis interrompida pela Polícia Federal. Celulares aprendidos na expectativa de se levantar provas que corroborem com as denúncias.

O que deveria ser um órgão de Inteligência de assessoria estratégica direta da Presidência da República, virou um posto de espionagem, com a Polícia Federal na contraespionagem. Muito dinheiro dispendido e o país sem ter acesso a dados de competitividade econômica, das informações sensíveis em um "mundo em rede", que deveriam ser esperados da Inteligência. Estamos sujeitos a monitoramentos cibernéticos contrários aos interesses brasileiros, por falta de proteção.

O Serviço de Inteligência, já era utilizado na Grécia do século XII, quando a cidade-estado de Argus decidiu derrubar a hegemonia da sua rival Micenas, alicerçada na rede de informações que criou. Alguns vocábulos vindos de Argus, são comuns à Inteligência: arguto, argúcia, argumento, arguir.

Esperto foi J. Edgar Hoover, fundador do FBI, com características policiais. Passou 38 anos na presidência do Federal Bureau of Investigation, até morrer em 1972. Entraram e saíram governos e ele continuou firme. Nenhum presidente dos EUA teve a coragem de demiti-lo. Ele tinha relatório de todos. Sabia quem dormia com quem, nomes dos financiadores de campanha e quem era chifrado pela esposa. Temia-se que tivesse fotos e gravações documentando os amores de John F. Kennedy com Marilyn Monroe.

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