O ato que marcará um ano dos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em Brasília, será chamado de "Democracia Inabalável", em resposta à tentativa frustrada dos apoiadores do ex-presidente Bolsonaro de reverter o resultado legítimo das urnas.

Nesta segunda-feira, presidentes da República, da Câmara e do Senado, acompanhados de todos os ministros e a maioria dos governadores, farão a entrega simbólica da restaurada tapeçaria de Burle Marx, mijada e danificada pelos vândalos. O exemplar original da Constituição, roubado do STF, recuperado, também retornará à vitrine de origem.

Em recente entrevista, o ministro Alexandre de Mores revelou que um dos planos era prendê-lo, levá-lo à Goiânia e "no caminho desaparecer com o corpo". Os mais exaltados pretendiam enforcá-lo na Praça dos Três Poderes.

Os financiadores da tentativa de golpe planejavam produzir um efeito dominó com as invasões. O desencadeamento seria produzido pelas adesões dos governadores e as Polícias Militares dos seus Estados. Daí o afastamento de Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, que, na hipótese, daria o início à rebelião. As Forças Armadas entrariam só depois, para debelar a "comoção intestina".

Os estudiosos da tentativa golpista de 8 de janeiro, dão como foco da conspiração os acampamentos na frente dos quarteis, disseminando a ideia e espalhando o "convite" para o comparecimento à "Festa da Selma".

Os financiadores estimularam esse movimento, segundo as informações dos presos interrogados. Foram todos identificados e arcarão com as penalidades mais pesadas, além de multas e pagamento dos prejuízos.

O nome feminino "Selma", para denominar a festa dos patriotas, teria sido inspirado pela interjeição "Selva", que quer dizer "tudo bem", "tudo ok", entre os militares dos batalhões que guarnecem a Amazônia. A Festa da Selma seria uma forma de espalhar e abordar sem alarde, a manifestação de Brasília.

No campo simbólico, seria o código dos entendedores da linguagem dos militantes para manter viva a continuidade de Bolsonaro.

O abastecimento de informações por influenciadores digitais foi central, enquanto o ex-presidente alimentava teorias de conspiração e mantinha-se recluso em Orlando. O uso das plataformas e redes sociais foi a maneira eficaz de aglutinar apoiadores em meio à escalada golpista.

A dinâmica foi tão relevante que se transformou em uma das frentes de investigação da Polícia Federal sobre os atos golpistas. A Operação Lesa Pátria prendeu uma dezena de influenciadores digitais e cumpriu muitos outros mandados de busca e apreensão. Foram 1 500 grupos em canais abertos, repetindo a ordem de só iniciarem o processo de invasão quando houvesse número suficiente de patriotas. A tomada dos três Poderes deveria se dar "ao mesmo tempo", segundo a palavra de ordem.

Os militares admitem "contaminação" das Forças Armadas pelas ideias do bolsonarismo. O mais importante, segundo eles, foi não ter ocorrido movimento de tropas em nenhum dos 680 estabelecimentos militares.

Se havia indignação com a eleição do presidente Lula, a reprovação ao vandalismo arrefeceu as críticas. Quem levantava bandeiras contra a esquerda ficou constrangido diante da evidente ilegalidade dos fatos e a selvageria contra o patrimônio artístico, cultural e histórico. Em poucas horas foram vandalizadas as áreas internas dos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.

O mais importante é que se dissipou a percepção de ameaça às instituições democráticas. Problemas de democracia se resolvem na democracia. O ano terminou melhor do que começou.