Marcus André Melo apresentou uma conclusão óbvia, mas com premissas equivocadas no artigo "Inelegibilidade de Bolsonaro", neste finalzinho de janeiro na Folha de S. Paulo (Opinião, 30/1). Não se pode atribuir o sucesso do PT a uma suposta "polarização", em que uma das partes obteve votos por meio da mentira e do assalto aos cofres públicos e a outra foi alvo de ataques físicos e, muitos deles, letais.
Repete-se uma cantilena já vista antes para mudar o foco da questão principal que é a ascensão de um neofascismo tupiniquim que precisa ser extirpado na origem. A inelegibilidade do ex-capitão não poderá ser a moeda de troca para impedir sua prisão, graves foram os crimes que praticou.
Lula deve olhar para o futuro, sem dúvida, é isso que faz um verdadeiro estadista. Porém, não poderá esquecer o 8 de janeiro e, sim, dar sequência a toda apuração e punição necessárias, pois, o "deixar para lá" significaria fazer o país se submeter a mais um golpe. Lembremos que foi esse comportamento de impunidade aos militares e civis que promoveram e praticaram a ditadura de 1964-85 que nos trouxe até aqui. Quiçá a Suprema Corte reveja aquela anistia feita literalmente com a faca no pescoço para colocar, definitivamente, cada ente do Estado brasileiro no seu devido lugar.
Quanto ao STF, recentemente na mesma Folha, Gilmar Mendes e George Abboud fizeram uma justa e clara defesa dessa Instituição, chamando o 8 de janeiro de "dia da infâmia".
Apontei apenas um significativo reparo a ser feito: a Suprema Corte é, sim, um órgão político, contrariamente ao que os autores afirmam, ainda que paute suas decisões o mais próximo possível de questões técnicas.
O Direito não é e nunca foi absoluto, ou técnico, nas palavras dos doutos autores, sujeito que é às mudanças e interesses sociais. Ou seja, à política.
No mais, há que se reconhecer que, sem o ativismo da maioria dos Ministros, estaríamos vivendo a autocracia genocida de um lunático e sua corja.