Crucifixos, fitinhas do Bonfim, santinhos, patuás, figa, sal grosso, alho e arruda, entre outros elementos que fazem parte do folclore brasileiro, também se tornaram símbolos de sorte para milhares de pessoas. São os amuletos, também conhecidos como talismãs, que são utilizados para espantar energias negativas ou atrair a sorte.
Existentes desde a antiguidade e em diferentes culturas do mundo, os amuletos se tornaram objeto de estudo da jornalista Gabriela Erbetta e da designer gráfica Michelle Seddig Jorge. Juntas, elas realizaram uma extensa pesquisa em livros, além de entrevistas e registros de imagens e produziram “O Livro dos Amuletos”, lançado recentemente pela Publifolha.
Em 96 páginas, a obra aborda o significado e a história de 40 talismãs existentes na cultura popular brasileira, explica Gabriela Erbetta, em entrevista concedida ao Jornal da Cidade.
“Não acho que as pessoas precisem de amuletos, mas aquelas que os usam devem sentir-se mais seguras e protegidas contra os dissabores do dia-a-dia”, aponta. De acordo com ela, diversos amuletos estão relacionados às crenças religiosas, mas superstições e a mitologia também ajudam a entender o significado e a importância destes elementos para o ser humano. Confira mais detalhes sobre o assunto no bate-papo a seguir.
Jornal da Cidade - O que significa amuleto?
Gabriela Erbetta - Amuletos são objetos que supostamente atraem proteção e boa sorte. Também afastam o mau olhado e o azar.
JC - Qual é a origem do amuleto?
Gabriela Erbetta - Amuletos são conhecidos desde civilizações ancestrais, como a do Antigo Egito, mas não é possível saber exatamente como surgiram.
JC - Ele está relacionado ao folclore popular?
Gabriela Erbetta – Os amuletos estão relacionados não apenas ao folclore, mas também a várias crenças e tradições populares.
JC - Existem diferenças entre amuleto, talismã ou patuá? Quais?
Gabriela Erbetta - Amuleto e talismã são a mesma coisa. Patuá é um tipo de amuleto ou talismã. É um saquinho costurado com elementos diversos, como arruda, sal grosso, orações, entre outros, e usado junto ao corpo para defendê-lo de doenças e outros males.
JC - Por que as pessoas precisam de amuletos?
Gabriela Erbetta - Desde tempos imemoriais, o ser humano pede proteção contra coisas ruins. Amuletos são apenas acessórios, símbolos desses pedidos de proteção e amparo. Não acho que as pessoas precisem de amuletos, mas aquelas que os usam devem sentir-se mais seguras e protegidas contra os dissabores do dia-a-dia.
JC - Quais sãos os principais amuletos populares?
Gabriela Erbetta - Há vários, dependendo de cada cultura, lugar do mundo e religião. No Brasil, fazem sucesso as fitinhas do Bonfim, os crucifixos, a combinação de sal grosso, alho e arruda e os santinhos. Todos, sem exceção, são usados na intenção de atrair sorte ou afastar energias negativas.
JC - Existem amuletos específicos para o amor, saúde, profissão, mau olhado?
Gabriela Erbetta - Acredita-se que as folhas de louro possam trazer dinheiro, da mesma forma que as sementes de romã, principalmente quando aliadas a rituais de Ano Novo. Quanto aos outros, tudo vai depender das atribuições que cada dono dá ao seu amuleto. Como nada disso tem valor científico, pode ser que alguém use uma medalhinha para atrair amor, enquanto outro use a mesma medalhinha contra o mau olhado.
JC - Qual é o simbolismo da tradicional fitinha do Bonfim?
Gabriela Erbetta - Reza a crença que alguém deve amarrar a fitinha no seu pulso com três nós. A cada nó, ela deve fazer um pedido e, quando a fitinha arrebentar, tudo indica que seus pedidos serão concretizados.
JC - E a figa, trevo de quatro folhas e pé-de-coelho, entre outros talismãs, o que eles significam?
Gabriela Erbetta - A figa afasta coisas ruins. O trevo de quatro folhas e pé-de-coelho, tradicionalmente, são usados para atrair boa sorte.
JC - Quais forças ou poderes estão relacionados às ervas, especiarias e pimentas?
Gabriela Erbetta - Acredita-se que algumas ervas, como louro e arruda, possam ajudar a afastar más vibrações e atrair dinheiro.
JC - O amuleto está relacionado à crença religiosa? Por quê? Gabriela Erbetta - Vários deles estão. A mão de Fátima, que era mulher do profeta Maomé, por exemplo, é herança da tradição muçulmana. Da religião judaica também surgiram alguns amuletos, como a mezuzá, usada na porta das casas para atrair boas energias, e a estrela-de-Davi, que traz proteção e prosperidade. Relacionados à religião católica, existem os santinhos, os crucifixos e os escapulários, também denominados bentinhos.
JC - Amuletos estão ligados às superstições? De que forma?
Gabriela Erbetta - Usar amuleto é uma forma de superstição, já que superstição é mera crendice popular sem qualquer base científica.
JC - Que mitos envolvem os amuletos?
Gabriela Erbetta - Vários amuletos relacionam-se a figuras mitológicas, como o Olho de Hórus, o deus do céu e um dos protetores dos faraós na mitologia egípcia. É um símbolo de defesa contra inveja e maledicências.
JC - Qual é o objetivo da obra “O Livro dos Amuletos”? Ela se baseia em pesquisas?
Gabriela Erbetta - Uma extensa pesquisa foi feita na elaboração da obra, tanto em entrevistas informais quanto em livros sobre o assunto. A intenção foi registrar e mostrar, em belas imagens, alguns dos amuletos mais populares no Brasil. O livro trata de 40 desses talismãs.