Taquicardia, nervosismo, calor, emagrecimento e em alguns casos olhos saltados. Estes são apenas alguns dos sintomas do hipertireoidismo, doença relacionada ao mau funcionamento da glândula tireóide.
Ao contrário de outra anomalia relacionada à glândula, o hipotireoidismo, o hipertireoidismo demanda tempo, paciência e acompanhamento médico. Em alguns casos, o paciente praticamente, no início do tratamento, comparece todas as semanas ao consultório para a regulagem da dose dos medicamentos e o controle dos sintomas que se seguem ao excesso de produção de hormônio tireoideano.
Por conta disso, este é um trabalho que exige total afinidade e a confiança entre o médico e o paciente para que tudo dê certo. “O hiper é “chatinho” de ser tratado, mas todos os pacientes ficam bem”, explica a médica endocrinologista Luciana Colnago Gonçalves, que oferece total segurança aos seus pacientes e procura ouvir colegas de outras áreas para um tratamento global, com dosagens precisas, acompanhamento dos batimentos cardíacos, peso, reações alérgicas, etc.
Nesse tratamento global, endocrinologista, alergista e oftalmologista se unem para traçar o melhor tratamento para aquele paciente e isso faz toda a diferença, influindo também, psicologicamente, para que as taxas hormonais voltem ao normal.
J.P., 25 anos, descobriu o “problema” durante uma consulta de rotina ao médico ginecologista. Os olhos proeminentes, saltados, indicavam que sua tireóide estava funcionando indevidamente. Um simples exame de sangue confirmou a suspeita, com o ginecologista repassando o caso para um endocrinologista.
Segundo a médica Cibele Cabogrosso, também de Bauru, há três formas do hipertireoidismo ser tratado a partir da detecção do problema: cirurgia, quando é realizada uma tiroidectomia subtotal, ou seja, é deixado um pequeno pedaço da glândula ( tratamento raramente feito, uma vez que hoje há outros menos agressivos e menos invasivos); através de medicamento antitireoideano (durante um ano e meio, seguido durante todo o tempo com ajustes de dose) e com iodo radioativo (I 131), que não apresenta efeitos colaterais, mas pode rapidamente levar ao hipotireoidismo.
Cabogrosso explica que, no caso do tratamento com medicamentos antitireóideanos, podem ocorrer efeitos colaterais, como alergia à medicação e, ainda, a diminuição dos glóbulos brancos do sangue. “Nesses casos, a medicação deve ser descontinuada”, afirma.
Apesar de não oferecer efeitos colaterais, como coceira, dor e inflamação da garganta - suspeita da diminuição dos glóbulos brancos -, o tratamento com iodo nem sempre é o prescrito de imediato por todos os médicos. Um renomado professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade Federal de São Paulo, orienta suas pacientes mulheres a tentarem, antes do iodo, o tratamento medicamentoso.
“O problema é o ‘se’”, diz ele, brincando. “Se eu tivesse tentado, poderia ou não ter controlado o hipertireoidismo?”. Em caso de reações ao remédio ou se a resposta não é eficiente, o iodo é a solução. “Mas então a pessoa já sabe que esse é o único caminho, fora a cirurgia, para a correção de todos os sintomas”, aponta o médico.
Outro porém do tratamento de imediato com o iodo é o risco de agravar a exoftalmia - olhos saltados - que alguns pacientes portadores da Doença de Graves podem apresentar (nem todos os portadores da doença auto-imune apresentam olhos alterados).
Por conta disso, muitos são os médicos, como Luciana Gonçalves, a defender que todas as possibilidades medicamentosas devem ser tentadas antes do tratamento com iodo, sempre com avaliação e acompanhamento permanente do profissional da área. Em caso de alergia, ou seja, de incompatibilidade do paciente com as drogas, o iodo é a grande solução.
Mesmo levando quase todos os portadores de hiper ao hipo (com necessidade de reposição hormonal), muitos são os pacientes que o aprovam. Márcia Rodrigues, que tomou medicamentos e não se adaptou submetendo-se ao iodo, não se arrependeu: “Meus cabelos caíam, tive depressão, emagreci mais de 15 quilos e com o iodo me sinto outra pessoa. Estou com hipotireoidismo, mas para mim é tranqüilo, tomo apenas um comprimido ao dia e está tudo bem”, garante.
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Cirurgia
A cirurgia tireoideana para tratamento do hipertireoidismo tem o seu uso muito restrito, impossibilitados de uso das drogas antitireoideanas devido aos seus efeitos colaterais. E, ao mesmo tempo, alerta a endrocrinologista Ellen Simone Paiva, do Centro Integrado de Terapia Nutricional (Citen), de São Paulo, impossibilitados do uso do iodo radioativo, como em vigência da concomitância com doença ocular grave. Logo, ela é uma opção para a impossibilidade de utilização do tratamento medicamentoso ou com iodo. Mais informações podem ser obtidas no site www.citen.com.br.
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Saiba mais
O hipertireoidismo é uma doença da glândula tireóide onde há produção excessiva dos hormônios tireoideanos, reforça a endrocrinologista Ellen Simone Paiva, do Centro Integrado de Terapia Nutricional (Citen), de São Paulo.
“Geralmente isso ocorre por conta de um estímulo anormal causado por um auto-anticorpo, que se liga às células tireoideanas, fazendo-as produzir hormônios muito além das necessidades de uma pessoa normal. A doença que me refiro é chamada Doença de Graves e é mais uma das inúmeras doenças auto-imunes que conhecemos”, explica Paiva.
O excesso de hormônio tireoideano causa perda de peso, tremores de extremidades, palpitações, insônia e certa agitação psicomotora. A evolução da doença é geralmente progressiva, de acordo com a concentração do hormônio tireoideano jogado na circulação.
Quanto mais hormônios, mais graves são os sintomas. “Por incrível que possa parecer, a evolução da doença pode naturalmente levar ao hipotireoidismo, com a redução da produção dos hormônios tireoideanos e um quadro oposto ao hipertireoidismo inicial”, diz.
Segundo a médica, geralmente há aumento de volume da tireóide, que cresce de maneira difusa, formando o chamado bócio ou “papo”. “Concomitantemente, fazendo parte da doença, mas nem sempre relacionado ao estágio de produção do hormônio tireoideano, pode ocorrer doença ocular, o chamado exoftalmo, que provoca inflamação e protrusão do globo ocular”, comenta.
O exoftalmo geralmente melhora com a normalização da quantidade de hormônio tireoideano na circulação, mas, contrariando essa afirmação, há casos que evoluem com agravamento ocular concomitante com a melhora hormonal.
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Medicamentos
São duas as drogas usadas no tratamento de hipertireoidismo: o propiltiuracil e o metimazol. Essa modalidade de tratamento ainda é a mais utilizada no Brasil e na Europa. Suas vantagens são relacionadas ao fato de ser um procedimento barato, pouco invasivo, geralmente com normalização dos hormônios tireoideanos em pouco tempo, na maioria das vezes sem causar hipotireoidismo.
Suas desvantagens estão relacionadas aos efeitos colaterais, que vão desde urticária ou alergia de pele, que pode ser intensa; passando por redução dos leucócitos ou glóbulos brancos, algumas vezes muito intensa e grave, devido ao potencial tóxico em nível de medula óssea, onde eles são produzidos; chegando à lesão hepática grave, uma verdadeira hepatite, muitas vezes fatal.
Por isso, esse tratamento deve ser acompanhado pelo médico endocrinologista, que geralmente está habituado no manuseio dessas drogas e apto a avaliar seus riscos e benefícios. Além disso, após a remissão da doença por longo tempo, ficando o paciente com produção hormonal perfeitamente normal, ainda existe a possibilidade da recidiva do hipertireoidismo após um período de tempo variável.
Outro inconveniente relatado pelos pacientes é a necessidade, no caso do propiltiuracil, de ingestão do medicamento várias vezes ao dia.
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Iodo
A radioiodoterapia (RIT) ou uso do iodo radioativo é captado pelas células tireoideanas como todo iodo que ingerimos, liberando sua radioatividade que destrói parte da tireóide em hiperfuncionamento.
Essa modalidade de tratamento é a mais utilizada nos Estados Unidos. Suas vantagens são relacionadas à inexistência de efeitos colaterais, geralmente não há necessidade de isolamento do paciente em ambiente hospitalar como ocorre com a RIT, que utilizamos no tratamento do câncer de tireóide, evita uso de medicamentos a longo prazo e é definitivo, ou seja, não deixa a possibilidade de recidiva do hipertireoidismo.
A glândula nunca mais volta a produzir hormônios em excesso. Por outro lado, há também desvantagens, entre elas a alta porcentagem de pacientes que evoluem para o hipotireoidismo, uma vez que o iodo radioativo destrói mais células do que se gostaria e geralmente ocorerrá um hipotireoidismo definitivo, com a necessidade do uso de hormônio tireoideano para repor a perda ao longo de toda a vida.
Além disso, a paciente do sexo feminino não pode engravidar nos próximos 6 a 12 meses após a exposição ao iodo radioativo. Outro problema do uso do iodo radioativo é o risco do aparecimento ou do agravamento da doença ocular, o exoftalmo, principalmente nos pacientes do sexo masculino.