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Entrevista da Semana: Mauro Sebastião Pompílio

Ana Paula Pessoto
| Tempo de leitura: 8 min

?O trabalho é essencial ao ser humano?

A humildade de Mauro Sebastião Pompílio é notada pelo seu jeito tímido e meio calado, contudo, ele deixa transparecer a grandeza de seus feitos quando fala sobre os caminhos percorridos no campo pessoal e profissional.

Filho de uma família composta por 12 irmãos, "seo" Mauro é descendente de imigrantes italianos e nasceu em Promissão. Foi na zona rural desta cidade que ele passou boa parte da infância e aprendeu suas primeiras letras. Sua primeira profissão foi na área contábil.

"Quando terminei o colegial, minha família se mudou de Promissão para a cidade de Tupi Paulista, onde consegui meu primeiro emprego na contabilidade. Porém, eu já namorava com a Vera, estava com vontade de me casar e achei que precisava encontrar uma profissão que me desse mais estabilidade financeira. Foi quando fiz concurso para o Banco do Brasil. Fui chamado em julho de 1958 ano e, em janeiro do próximo ano, já estávamos casados", lembra-se.

Do Banco do Brasil, "seo" Mauro foi trabalhar, após concurso público, no Departamento de Imposto de Renda, onde viu a Receita Federal ser criada. Trabalhando na fiscalização, ele foi nomeado delegado da Receita Federal de Araçatuba e, logo depois, de Bauru, onde foi destituído do cargo para assumir a Procuradoria da Fazenda Nacional, cargo que ocupou até 2003.

Como trabalho é uma de suas maiores paixões, Pompílio passou a advogar depois da aposentadoria. Antes disso, ele também foi professor, lecionando direito por cerca de 20 anos no Instituto Toledo de Ensino (ITE).

Homem de fé e atual presidente do Centro Espírita "Amor e Caridade", Mauro Sebastião Pompílio encontrou no espiritismo uma força que o motiva a cada dia mais a se doar pelo próximo. "Quando meu pai faleceu, em 1983, eu prometi para mim mesmo que trabalharia pelo próximo para dedicar esse trabalho a Deus em benefício de meu pai", recorda-se.

Família, futebol e felicidade também fazem parte da entrevista que ele concedeu ao Jornal da Cidade. Leia os principais trechos.


Jornal da Cidade ? O que o marcou na época de menino?

Mauro Sebastião Pompílio ? Bom, eu sou o penúltimo filho de uma família de 12 irmãos, filhos de imigrantes italianos que vieram para o Brasil e se dedicaram ao trabalho na lavoura de café. Por isso minha infância foi em propriedade rural, onde estudei por três anos. Dessa época, minha maior lembrança é de um professor chamado professor Lazinho. Depois do terceiro ano fui estudar na cidade de Promissão. Corria muito, praticava bastante esporte, dedicava-me aos estudos e sempre tive o carinho e amparo da família. Já maior, fui para Lins estudar no colégio de padres. Junto com o que hoje é chamado de ensino médio, eu fiz um curso técnico de contabilidade.


JC ? Seu primeiro emprego foi na área contábil?

Mauro- Tive sorte porque, quando terminei o colegial, minha família se mudou de Promissão para a cidade de Tupi Paulista e eu fui com eles. Lá, consegui meu primeiro emprego na contabilidade, onde acabei ficando por alguns anos. Porém, eu já namorava com a Vera, também de Promissão, e já estava com aquela ânsia de me casar. Então, eu achei que precisava encontrar uma profissão que me desse mais estabilidade financeira e fiz concurso para o Banco do Brasil no começo de 1958. Fui chamado em julho daquele ano e, em janeiro de 1959, nós já estávamos casados (risos). Fui nomeado para Penápolis e minha esposa havia ingressado na região de Tupi Paulista, e eu consegui transferência para a cidade de Dracena. Lá, nós tivemos nossas três filhas.


JC ? Como teve início sua história com o "Leão"?

Mauro- Em 1967 eu fiz concurso para agente fiscal do Imposto de Renda, um concurso do Ministério da Fazenda. Naquele tempo não existia Receita Federal e o concurso era para o Departamento de Imposto de Renda. Comecei atuando na cidade de São Paulo, onde fiquei por pouco tempo. Eu vim para Bauru em janeiro de 1969. Logo depois, foi criada a Secretaria da Receita Federal, que existe até hoje. Eu sou, então, do início da Secretaria da Receita Federal. Trabalhei uns tempos em Bauru e logo fui chamado para trabalhar em São Paulo outra vez. Dessa vez fiquei por alguns anos e retornei a Bauru. Daqui, trabalhando na fiscalização, eu fui nomeado delegado da Receita Federal de Araçatuba. Fiquei lá por apenas seis meses e fui nomeado delegado da Receita Federal em Bauru. Assim fiquei até 1986, por dez anos. Fui destituído do cargo e no começo de 1987, eu fui chamado a São Paulo pela chefia da Procuradoria da Fazenda Nacional, pois eles tinham criado a Procuradoria em Bauru e pediram para que eu assumisse e a instalasse na cidade.


JC ? Quais foram os maiores desafios da profissão?

Mauro ? Por exemplo, como delegado da Receita Federal, quando eu assumi, a delegacia funcionava no edifício Lusíadas, na Rodrigues Alves. Foi na minha gestão que o prédio foi comprado, onde funciona a delegacia da Receita Federal até hoje. Na minha gestão, como procurador da Fazenda Nacional, houve uma modificação no sistema de trabalho. Antes os procuradores praticamente não atuavam em juízo, quem representava a Fazenda ou a União em juízo eram os promotores públicos. Com a Constituição de 1988, foi criada a Advocacia Geral da União, da qual faz parte a Procuradoria da Fazenda Nacional e foi estabelecido que os procuradores passassem a atuar em juízo. Tivemos um grande problema porque era praticamente eu e um funcionário para atender as comarcas que hoje pertencem às procuradorias de Bauru e Marília. Mas logo vieram os concursos públicos e o primeiro procurador que veio trabalhar comigo foi José Francisco da Silva Neto, que hoje é juiz federal na cidade.


JC ? Quando chegou a aposentadoria?

Mauro - Em meados de 1990 eu me aposentei. Depois da aposentadoria eu comecei a advogar pela primeira vez. Advoguei por aproximadamente um ano, enquanto isso, outra pessoa havia assumido a Procuradoria. Porém, em julho de 1991, enquanto eu almoçava com minha família, o telefone tocou e era a chefia da Procuradoria da Fazenda Nacional de São Paulo pedindo que eu voltasse a assumir a Procuradoria. Depois de ponderar vários aspectos, eu voltei e fiquei até 2003.


JC ? Dessa vez se aposentou mesmo?

Mauro ? Não (risos). Eu também lecionava no Instituto Toledo de Ensino (ITE), na verdade dei aulas de direito por 20 anos. E dando aulas, tinha uma aluna casada com o advogado Valdomiro Mandaliti e eu brincava com ela dizendo que iríamos trabalhar juntos. Mas ela passava essa brincadeira para o marido que me convidou algumas vezes. Quando saí da procuradoria, ele me ligou no dia seguinte dizendo que eu não teria desculpas para não trabalhar com ele. Fui e estou lá até hoje.


JC ? Então ser professor também é uma paixão?

Mauro ? É, sempre gostei muito de lecionar e já dava aulas em Tupi Paulista. Lecionei em praticamente todas as cidades em que morei. Em 1976 comecei a lecionar direito na ITE, onde fiquei por cerca de 20 anos. Hoje, aos 77 anos, já fica difícil porque as aulas são longas e o cansaço vem.


JC ? Quando sua história se fundiu com a do Centro Espírita "Amor e Caridade"?

Mauro ? Sendo descendente de italianos, eu era católico, inclusive estudei em colégios de freiras e padres. E quando eu trabalha no Banco do Brasil em Tupi Paulista, eu tinha um bom amigo e conversávamos sobre tudo, inclusive sobre religião. Eu defendia os princípios católicos e ele, os espíritas. Até que um dia ele me emprestou um livro, "Livro dos Médiuns", que não é um livro que se dê para quem não conhece nada do assunto. Eu li o livro três vezes e o achei sensacional. Isso lá pela década de 60. Depois disso, tornei-me um espírita de leitura, de rótulo. Em 1983, meu pai faleceu com 90 anos e eu fiz uma promessa para mim mesmo de que eu iria trabalhar em benefício do próximo para dedicar esse trabalho a Deus em benefício de meu pai. Integrei-me mesmo na atividade quando vim para Bauru e passei a atuar no albergue noturno do Amor e Caridade. Como eu trabalhava e lecionava à noite, eu dava plantões aos domingos, junto do doutor Ubirajara, juiz de Direito.


JC ? Como chegou à presidência do Amor e Caridade?

Mauro ? Fui me envolvendo cada vez mais com as atividades e posso dizer que sou espírita de verdade há 28 anos, aproximadamente. O estatuto do Amor e Caridade estabelece que a diretoria tenha mandato de 3 anos e este é o primeiro ano do meu mandato.


JC ? O que o trabalho significa para o senhor?

Mauro - O trabalho é fundamental na vida, mas o lazer também é importante. Eu até admiro as pessoas que conseguem se aposentar e viver o lazer intensamente, porém, eu gosto mesmo é do trabalho, que me satisfaz e me deixa feliz. Estando ocupado, eu estou bem.


JC ? Foi bom de bola?

Mauro - Na verdade pratiquei futebol amador até os 62 anos, quando precisei parar por problemas no joelho esquerdo. Atualmente assisto pela televisão.


JC ? O que é felicidade para você?

Mauro ? Olha, tive muitos momentos de grande alegria. Sempre amei minha esposa e já temos 52 anos de casados, casamento que gerou três filhas, três netos e três netas. Evidentemente tivemos percalços, mas vencemos todos e estamos tendo um casamento muito feliz. Por sinal, a Rosana trabalha na Receita Federal e a Vera Sílvia na Procuradoria da Fazenda (risos). Elas fizeram direito e também conseguiram passar em concursos. Já a mais velha é psiquiatra em Assis. Então, a felicidade está na vivência da família e em você perceber que, de alguma forma, está conseguindo cumprir os objetivos traçados.

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