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UPAs fazem 10 anos e pressionam por mudanças em unidades básicas de saúde

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 3 min

A criação das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em Bauru completou 10 anos em 2021 e, neste período, o serviço se transformou na principal forma de acesso ao sistema de saúde para a população que depende da rede pública. Hoje, até mesmo para tratar problemas simples, como uma gripe, febre ou dor no corpo, os moradores recorrem, quase sempre, a estas unidades - são quatro no município - que funcionam 24 horas por dia.

Agora, com o arrefecimento da pandemia, boa parte das pessoas voltou a se sentir segura para sair de casa e buscar ajuda médica, o que fez com que as UPAs começassem a ficar lotadas com frequência, novamente.

Além da dificuldade de preencher as escalas médicas frente ao desinteresse da categoria em atuar no setor público - um problema histórico ainda não resolvido pela administração -, a demanda concentrada nestas unidades escancara uma outra realidade, apontada por especialistas ouvidos pelo JC: a da insuficiência de equipes e unidades de atenção primária, como são as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Unidades de Saúde da Família (USFs).

Subdimensionada, a rede não tem capacidade para acolher de forma adequada e ágil as demandas do enorme contingente populacional que depende do serviço público de saúde. Assim, grande parcela dos moradores permanece recorrendo às UPAs para solucionar problemas até mesmo sem gravidade. Para se ter ideia, as quatro UPAs e o Pronto-Socorro Central realizaram mais de 383 mil atendimentos no ano passado, número 44,5% maior do que os 212,6 mil atendimentos feitos pelas 24 unidades de atenção primária do município.

"O paciente prefere a UPA porque, lá, passa pelo médico, faz exame, é medicado. Diante de um problema qualquer, vai na UPA, que deveria ser voltada só para urgência e emergência. Este jeito de fazer medicina é errado. Lentamente, teremos de mudar", avalia o secretário municipal de Saúde, Orlando Costa Dias.

TEMPO DE ESPERA

Entre outros efeitos, a sobrecarga nas UPAs faz aumentar o tempo de espera por atendimento, que já voltou a chegar a quatro ou cinco horas novamente. Na tentativa de mudar este cenário e estimular a população a procurar as unidades básicas - inclusive para fortalecer um modelo de medicina preventiva em detrimento da curativa, consolidada na sociedade brasileira -, a Secretaria Municipal de Saúde pretende alterar jornadas de trabalho de parte das equipes (leia mais na página ao lado).

"Também queremos, em 2022, chamar profissionais que já passaram por concurso para trabalhar nas UPAs", frisa, salientando que, devido a lei federal 173, instituída no contexto da pandemia, a administração está impedida de fazer novas contratações, a não ser para reposição do quadro de pessoal.

Fontes ouvidas destacam, contudo, a necessidade de avançar ainda mais no sentido de assegurar o funcionamento de todos os serviços de forma integrada, com uma rede básica capaz de fazer o encaminhamento para a rede especializada, como é o caso dos serviços de referência municipais. Trata-se de um trabalho que passa pelo aprimoramento de gestão e pela melhoria do sistema de dados da prefeitura, sendo este último assunto abordado em manchete do JC do último dia 10.

URGÊNCIA

Em Bauru, a primeira UPA, no Mary Dota, foi inaugurada em julho de 2011. No mesmo ano, começou a funcionar a unidade do Bela Vista. As outras duas, no Ipiranga e no Geisel/Redentor, foram abertas em 2012 e 2013, respectivamente. Atualmente, as três últimas têm plantões geridos pela Fundação Estatal Regional de Saúde da Região de Bauru (Fersb) e a primeira funciona com equipes da rede municipal.

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