Tribuna do Leitor

Bonifácio e a independência

07/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min
Wellington Anselmo Martins - mestre em Filosofia (Unesp), mestre em Comunicação (Unesp), especialista em História (Unisagrado),

Em 7 de Setembro, de 1822, D. Pedro I fez história ao proclamar a independência do Brasil. Mas em seu apoio, nem sempre lembrado, estava José Bonifácio. E foi fundamental a atuação do intelectual e político brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). Além de influente durante a Proclamação da Independência, José Bonifácio tinha uma outra característica marcante. Já naquele 1822, ele fazia críticas à escravidão que ocorria em terras brasileiras. Apesar da sua posição, no entanto, a abolição oficial da escravatura aconteceria muito mais tarde, em 1888 - e até hoje inúmeros brasileiros ainda precisam lutar para serem respeitados em sua liberdade mais básica.

As críticas à escravidão feitas por Bonifácio, em meio àqueles anos agitados da independência recém-proclamada, refletem a nova ética que estava ganhando força na Europa. Formalmente, a filosofia registra uma revolucionária oposição ao escravismo com pensadores como o genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que, na sua obra Contrato social, dedica capítulo próprio para afirmar que: "o direito de escravidão é nulo, não apenas porque é ilegítimo, mas também porque é absurdo [...] visto que nenhum homem tem qualquer autoridade natural sobre o seu semelhante [...], pois a liberdade é a qualidade que caracteriza o que é um ser humano".

Tal inovadora ética iluminista foi útil para fazer oposição à escravidão e também para legitimar inúmeras mudanças e revoluções políticas que ocorreram nos séculos XVIII e XIX, inclusive no Brasil. Ou seja, José Bonifácio tanto quis a independência brasileira quanto não se fechou ao progresso ético e jurídico que estava ocorrendo fora do Brasil. Trata-se de uma postura intelectualmente madura e democrática, a de querer a liberdade para si e também para os outros, querer a independência em relação a Portugal sem, por isso, fechar os olhos para os Direitos Humanos e o republicanismo que tinham começado a ganhar corpo especialmente em países europeus, a exemplo da Revolução Francesa, de 1789.

Para celebrar os duzentos anos da Proclamação da Independência, a educação brasileira atual poderia lembrar com mais atenção da postura de José Bonifácio, a sua participação na libertação do Brasil e, ao mesmo tempo, a sua crítica à falta de liberdade que ainda acometia internamente a muitas pessoas escravizadas em solo brasileiro. Ora, essa é a premissa básica do pacto social sintetizado por Rousseau. A vontade geral do povo é legítima quando afirma aquilo que, na verdade, todos os seres humanos querem: as suas liberdade, vida e dignidade respeitadas.

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.