Pioneiro do breaking detona australiana nas Olimpíadas
Um dos pioneiros do cenário do breaking, o norte-americano Richard Colon criticou a apresentação da australiana Rachel Dunn nas Olimpíadas de Paris.
Conhecido como b-boy Crazy Legs (Pernas Loucas em tradução literal)) ele disse que se sentiu perturbado ao ver os movimentos de Raygun: 'Isso é uma piada?'. Colon é considerado um dos precursores do breaking no Bronx, berço da cultura do hip-hop em Nova Iorque, tem 58 anos e deu a declaração em entrevista ao New York Post.
Também criticou a b-girl por ter disputado os Jogos de Paris: "Palco errado". Ele disse que o breaking pode ser um "hobby" para ela, mas acrescentou as Olimpíadas deveriam exigir "um certo nível de especialização" e pediu uma investigação da participação da acadêmica no evento. Raygun se classificou após ser campeã da Oceania em 2023.
Crazy Legs ainda defendeu a australiana das mensagens de ódio, mas completou: "Simplesmente não tinha talento". Colon deu a entrevista no mesmo dia em que Rachel Gunn desabafou sobre a onda de ataques que vem recebendo.
"O breaking vem de uma cultura de pessoas que viveram uma vida difícil. Então, quando vemos algo assim [apresentação de Raygun], pensamos: 'Ei, isso é uma piada? Talvez seja um hobby para ela, e tudo bem. Faça o que quiser, garota, divirta-se, mas você está no palco errado", disse Crazy Legs, ao New York Post
"Você não pode simplesmente entrar lá e atrapalhar toda uma cultura de pessoas. Você não precisa ser um especialista para dirigir um carro, mas precisa ser bom o suficiente para não machucar outras pessoas na rua. Teria sido adequado se ela tivesse se retirado. Ela estava aproveitando a oportunidade de outra pessoa."
"A roupa [utilizada por ela] é o de menos. Ela simplesmente não tinha talento. (...) Deveria haver uma investigação sobre por que a Federação Mundial de Dance Sport permitiu que isso acontecesse. Eles deveriam ter exigido um certo nível de especialização para estar nas Olimpíadas".
Desabafo
Raygun disse que não esperava receber tanto ódio nas redes sociais: "Tem sido devastador". Ela publicou um desabafo sobre as críticas, mas também agradeceu pelo apoio que recebeu.
Agradeço a todas as pessoas que me apoiaram. Eu realmente aprecio a positividade e estou feliz que pude trazer alguma alegria para as suas vidas, isso era o que eu esperava. Mas eu não esperava que isso abriria portas também para tanto ódio, o que, francamente, tem sido devastador. Rachel Gunn
Eu fui lá [nos Jogos de Paris 2024] e eu me diverti, eu realmente levei muito a sério, eu me dediquei muito à minha preparação para as Olimpíadas e dei o meu máximo, de verdade. Estou honrada de ter feito parte da equipe olímpica da Austrália e da estreia olímpica do breaking.
A australiana também rebateu a desinformação sobre ter recebido nota zero. Não há nota no breaking, já que os jurados comparam as apresentações e votam em quem avaliam que tenha ido melhor.
Ela ainda respondeu à acusação de ter burlado o sistema de classificação. Uma petição anônima foi criada para ela fosse punida por ter supostamente aproveitado de sua influência no meio e manipulado o processo de qualificação para as Olimpíadas. O Comitê Olímpico Australiano repudiou a petição e defendeu a atleta, que se credenciou para os Jogos por ser campeã do Campeonato de Breaking da Oceania de 2023.
Um fato divertido: na verdade, não há notas no breaking. Se quiser ver como os juízes me pontuaram em comparação com minhas oponentes, você pode checar as comparações entre os cinco critérios no site das Olimpíadas. Todos os resultados estão lá. Raygun
POLÊMICA APÓS DISPUTA EM PARIS
Rachel 'Raygun' Gunn, de 36 anos, não conseguiu nenhum ponto nas três batalhas de que participou em Paris. O breaking, arte da dança procedente da cultura hip-hop, estreou como modalidade olímpica na edição deste ano dos Jogos.
Ela foi motivo de piadas nas redes sociais e também recebeu uma onda de ataques. Diversos memes foram criados, mas ela passou a receber ofensas e foi hostilizada virtualmente.
As críticas a Raygun foram além da esfera esportiva. A atleta também foi acusada de tentar "zerar pontos propositalmente" como parte de um estudo acadêmico. A professora e ativista Megan Davis foi quem defendeu a tese, segundo informações do 'News.com'.
Receber zero pontos propositalmente em três rodadas por um estudo acadêmico subsidiado pelo contribuinte, tanto em nível universitário quanto olímpico, não é engraçado e não é 'tentar'. É desrespeitoso com outros competidores. Vida rica e confortável, educada, sem nenhuma preocupação no mundo, nada realmente importa, que diversão, que garota australiana divertida, gargalhadas. Megan Davis, vice-reitora da Universidade de New South Wales e integrante da Comissão da Liga Australiana de Rúgbi
A B-girl é uma professora universitária e tem doutorado com tese relacionada ao breaking. Gunn palestra na Faculdade de Artes da Macquary University, em Sydney, Austrália. Oito anos após se tornar bacharel em música contemporânea, em 2009, ela concluiu doutorado em estudos culturais. Sua tese "Desterritorializando o gênero na cena breakdance de Sydney: a experiência de uma B-girl fazendo B-boy" tem como foco a interação entre gêneros no meio da dança.
Foi apresentada ao breaking por seu marido, que atuou como técnico da modalidade nas Olimpíadas. Gunn praticava dança desde criança, especializando-se em dança de salão, sapateado e jazz. Seu então namorado, Samuel Free, incentivou-a a experimentar um novo estilo. Ela começou a competir no início da década de 2010 e retomou após concluir seu doutorado.Free, o homem que introduziu Gunn à modalidade, já ganhou competições de breaking ao longo da carreira e foi a Paris como treinador.
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